quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

AMORES INCERTOS


Cá estou eu...
dialogando com meus pensamentos.
Se reúno fortunas, como saber
se o amor que recebo és digno
de mim?

E se vivo a mais vil das  pobrezas
como, sendo amado, possuir tal amor?
Como saber se a língua
que penetra minha boca
durante o beijo,
busca aprofundar o prazer
ou, tão somente, [igual mãos ambiciosas
que penetra na lama em busca de jóias raras]
visa atingir um intento?

Oh, Ofélia! 
Não me satisfaz a ideia de estar em seus doces braços 
e me sentir em um alçapão de apanhar
aves sedentas e famintas
que possuídas por um instinto volitivo
ignora a prudência.

Doravante, desejo com veemência
não ser como a totalidade dos homens
que, seja por natureza ou predestinação,
não resistem e fácil e previsivelmente
cedem à paixão.

Ofélia, Ofélia, Ofélia...
Não te amar já não posso!
E temo por mim,
pois teus olhos
                   [frios como uma noite de inverno siberiano]
não queimam, em chamas, quão os meus.

Toma em teus braços
mais um pouco da minha intimidade.
Todavia, meus sentimentos dar-te-ei
com todo zelo presente em mim 
- um pouco por vez -
até inundar os vazios e planícies 
do teu coração.

Afinal, não a quero bêbedo de amor
e sim, cheio da sobriedade de quem se ama antes de amar
mesmo porque, não me equilibro mais nas certezas;
sensíveis e fidedignas 
alicerçada por meu coração.



[José Ailton Santos]

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

LEVIANO SOU EU, QUE FALO DOS OUTROS...




Falar dos outros pode, é elemento característico municipal e nacional, porém o que não pode é meter a mão no bolso alheio nem tirar das criançinhas. Isso não é leviano é desumano. Aproveito a ocasião para revelar a você, que disperdiça seu tempo em ler o que escrevo, um segredo, queria mesmo era ser um bom entendedor dos princípios jurídicos. Mas, sei disso, é talento para poucos, e eu, como sabem, sou multidão. O Direito é uma ciência [posso tratá-lo assim?] que mais se assemelha ao cume de uma goiabeira em dia de tempestade; ora para um lado, ora para outro, ora frenético.

Vejamos, a administração pública não é impessoal? A forma republicana de governo não atende a afetividades e sim ao corpo social? Um gestor público não deve se mirar pela supremacia do interesse público? ...?
Fico sem entender nada. Talvez, seja pela apatia que minha vida tem ganhado ultimamente. Acordo, banho, café da manhã, lixo na porta [isso mesmo, na minha porta!], levar filha na escola, bancar o educador, o cara do exemplo, da ética... final do dia, jantar, assistir o noticiário da Globo [é o meu fim, acudam-me! Please! Help!], deitar no lado da cama onde o colchão faz barriga, acordar com dor nas costas e desenrolar o carretel novamente.

Desculpem-me, sou assim mesmo, escrevo do mesmo jeito que falo, ou seja, sem direção. Bem, mas o que me trouxe aqui foi o tal entendimento jurídico.

Na cidade de Cedro de São João o prefeito abriu os trabalhos legislativos no segundo semestre afirmando que a prefeitura encontra-se em déficit, issmo mesmo, no vermelho. E, na mesma ocasião, diz que irá alugar prédios para alocar as secretarias, pois o prédio da prefeitura precisa de reforma urgente, faltou apenas apresentar o laudo da defesa civil. Pasmem! Ainda na mesma noite, diz que mantém 70 cargos comissionados, 50 a menos que antigos gestores. Será que ele esperava parabéns? E recebeu uma pomposa salva de palmas, não minha, mas dos asseclas e sequazes que lotavam a câmara na ocasião.
 
Opa, já estou indo para outra direção novamente, quero falar é da tal supremacia do interesse público. Segundo esse preceito jurídico, a vontade do indivíduo é anulada pelo interesse coletivo. Eu pergunto, o que interessa essencialmente a coletividade de Cedro de São João, pagar o salário dos professores ou manter 70 nomes na folha de pagamento, ressalto, esses 70 nomes beneficiam os interesses coletivos? Os 70 comissionados beneficiam a vontade individual ou coletiva?

Pergunto mais uma vez, melhor suprir a falta de medicamentos nas unidades de saúde ou manter 70 comissionados? O princípio da supremacia do interesse público não seria melhor representado se a população fosse convidada a deliberar sobre o tema: 70 comissionados ou o problema imediato da comunidade?

Palavras, palavras, palavras... não movem sequer a toalha da mesa onde ora apoio meu personal computer, quiçá mover o cérebro petrificado das pessoas desta frígida cidade, quiçá extirpar do espírito vil das pessoas [minoria claro] que usam este fórum para seus arroubos morais, éticos... hipócritas clamuflados, vocês não enganam a mim, pois conheço seus passados e seus históricos!

Enquanto isso, no Paraíso Cedral, vamos sentando à porta para fingir que sabemos ler, alisar a barriga que se alegra por ter quatro anos de fartura, vamos parar nosso carro novo na porta e nos alegrar por saber que esse brinquedo de luxo, que admiramos mais que usamos, não custou nem uma gota do nosso suor e sim, é proveniente do que deveria ser usado com a tal da SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO.

Um selinho nos menos preconceituosos e nos guardiões da moral podre, uma cusparada.

domingo, 27 de outubro de 2013

TRAGÉDIA EM CENA, O ESPETÁCULO É VOCÊ!



Precisamos receber uma bofetada no queixo?
Ou, porventura, fosse melhor um tapa de mão aberta
bem no meio da nossa face?
Ou ainda, quem sabe, um soco no estomago?
De preferência, que nos deixe sem ar, agonizando.
Perfeito! Bravo! É isso!

1, 2, 3 Gravando!

O fato é que precisamos despertar.
Urge que acordemos. 
Precisamos sair da condição de expectadores.
Chega de ser paisagem em filme de Cowboy americano.

Necessito.
Desejo.
Clamo.
Rogo...

Quero mesmo é atuar
cansei de ser plateia
irritado em aplaudir mediocridade.
Tô de saco cheio da escuridão do teatro.
Amargurado com a vilania dos atores.

CORTA!

Não! Ainda não.
Tenho algo a dizer.
Precisamos  rasgar a cortina do teatro
e mostrar nossa cara em cena
É! Isso mesmo, nossa cara
para assustar a multidão
que segura a cabeça com a mão.

Palmas! Palmas! Palmas!

Palmas? Palmas? Palmas, que nada.
Precisamos é parar de provocar o riso
e despertar na plateia
a revolta,
a fúria,
o ódio,
a ira...
e, por fim, o desejo insano de apedrejar
todos os atores, que faz tempo estão em cartaz.
Encenando coisas que nos deixam xilocaínados.

FIM DO ESPETÁCULO

Público atônito,
um ator possesso no palco
e, em sua mão uma vela,
que derrete a queimar a epiderme
insensível à dor.



[José Ailton Santos] 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

CONTUMÁCIA




Cansei desses papéis pré definidos
Cansei da regra "cada coisa no seu lugar"
                        [e se não houver um lugar para cada coisa?]
Cansei da obrigação de ir às missas aos domingos
Cansei de ouvir conselhos
                       [quando precisar eu compro um que possa pagar]
Cansei de ser bonzinho
Cansei de ser fiel ao outro e esquecer de mim
Cansei do hábito cordial de sorrir para tudo e todos
Cansei de ser honesto
                       [percebi-me morando em Cedro/Brasil]
Cansei  de acordar cedo para enriquecer os outros
Cansei de ouvir desaforamentos
Cansei de ser quem fui até este instante
Cansei de tudo que me aborrece
                       [até de mim mesmo]




[José Ailton Santos]

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

RAPUNZEL ÀS AVESSAS



Olhava-te da janela.
Enquanto você me fitava...
retribuindo
seduzindo
provocando
infernizando...
Meu coração impulsivo
so te julgava no Imperativo
deixou-me em pânico
e sedento por ti.

Meu olhar tateava em teu corpo
[feito cego em moradia alheia]
pois, minhas mãos estavam petrificadas
pelo vazio espacial que nos separava.
Enquanto isso, você se movia
como se aceitasse minhas carícias.

Tudo acontecia ali
diante do Sol confidente
que reluzia em teus cabelos
como que tentando metamorfoseá-la
numa princesa feérica.

Nesse instante, trocamos de papéis
enquanto, solitário, aguardava-a na torre
admirando petrificado seus fios dourados
que por força da convenção coercitiva
não vinha me resgatar de forma lendária.

Você se punha à espera de mim
entre:
as flores do jardim da praça,
o coreto de arquitetura neoclássica
e a multidão coadjuvante
...
Não imaginas como te desejei.
Afinal, estavas ali, tão perto,
tão ao meu alcance...
Faltou-me as tranças
para trazê-la até mim
e, quem sabe assim
teus lábios pudessem tocar os meus.


[José Ailton Santos] 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

BANQUETE COM AFRODITE




Choro, porque me visitas sem que te peças?
Horas, porque teimas em passar?
Riso, porque me abandonas com a taça ainda cheia?
Isso é injusto!

Saudade, que fazes à mesa?
...
Tédio é casa e coração vazios.
Immortalité é meu desejo por ti
Amor é limitado para servir como conceito

Nada! Nada substitui o instante entre nós dois.



[José Ailton Santos] 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

ZÉ AILTON, CIDADÃO NOTABILÍSSIMO DE CEDRO DE SÃO JOÃO.



Leitor amigo, perdoe-me pelo ostracismo intelectual. Mas já dizem os poetas boemios - detesto os poetas sóbrios - escrever é algo que para ocorrer necessita de três elementos prévios: tempo, inspiração e prazer de ofício. Desses apenas o último se faz presente agora. Bom, antes que me julguem pedante pelo título acima, aviso que o pedantismo faz parte de mim na mesma medida que a humildade, ou seja, não possuo tais 'virtudes', talvez o desenho mais real de mim seja o fato de ter aparelho digestivo igual a vocês, daí, produzo fedor também.

O fato que ora me faz sair do ostracismo intelectual não é nada nobre, menos ainda se julgar que a situação ocorrera no dia 04 de outubro de 2013 [emancipação política de Cedro de São João/SE] uma data festiva, onde jovens sonhadores misturam sorrisos com cores e festejam a data máxima da identidade local. Pois bem, abandono agora meu teatro introdutório e parto em direção aos fatos.

Ao meio dia, quando saia de minha residência fui parado pelo Excelentíssimo senho prefeito Claudionor Vieira de Melo. Prontamente parei com a atenção que me caracteriza, e se seguiu o diálogo que ora tomarão conhecimento.

O Excelentíssimo senhor prefeito me desejou bom dia e disse, eu vou lhe pedir um favor e estou certo que vai me atender, pois é um jovem intelegente e conhecedor das coisas. Por favor, quando você retirar o seu lixo caseiro ponha-o na porta da sua casa e não do outro lado da rua. Vale lembrar que o local onde eu deixo o lixo empacotado não possui residência alheia e sim a cerca de um loteamento, que por sua vez pertence ao vice-prefeito.

Fiquei surpreso com o pedido, porém lhe assegurei que a partir daquela data o lixo voltaria a ser colocado onde sempre deixei, desde o momento em que fui morar na residência atual, para ser mais exato, maio deste ano. E que não iria apresentar resistência posto que o pedido partia de um vizinho ilustre. Dei minha palavra como garantia, porém fiz a seguinte ressalva, expanta-me que a queixa tenha partido de Vossa Excelência, visto que, não é o proprietário do terreno, ou seja, não infringir o direito de vizinhança.

Ao que ouvir como resposta: - Não sou o dono do terreno, mas sou o prefeito da cidade! [foi uma carteirada ou não? Ajudem-me a entender.]. Falei ao Excelentíssimo senhor prefeito, que havia escutado suas palavras e as recebiam como vindas de um vizinho de rua, todavia como naquele instante estava a falar na condição de prefeito seria ideal que agisse com formalismo e me notificasse para aí sim, tomar conhecimento da minha infração, pois se veio a mim na condição de prefeito me advertir, deve haver um amparo legal para tanto, talvez uma lei municipal que trata da coleta e destinação do lixo doméstico e ele não condição de gestor 'temporário' deve conhecer melhor que eu, mero professozinho de quinta.

Na ocasião sugerir ao Excelentíssimo senhor prefeito que fizesse uso de uma ideia inteligente e instalasse tonéis especificos para coletar o lixo dos moradores da rua, anúncios em carros de som, panfletos... assim evitaria essa situação. Contudo, o Excelentissimo senhor prefeito informou que já havia colocado carro de som para informar a população, falei que desde meu regresso a Cedro nunca ouvir esse tipo de anuncios.  Àquela altura a esposa do Excelentíssimo senhor prefeito, que estava no carro com o mesmo ouvindo a tudo feito flores num jardim, se cansou da minha facúndia e resolveu entrar em sua residência e para não me alongar mais fiz uma última indagação, perguntei ao Excelentíssimo senhor prefeito se ele iria conversar com todas as pessoas da cidade que coloam o lixo doméstico em local inadequado, ou se a honra seria somente minha. Ele me respondeu que não iria fazer, mas que já havia conversado com um dos meus vizinhos, ou seja, moram de inveja, pois o cidadão notabilíssimo de Cedro de São João sou eu. Por fim, para não me alongar me despedir.

Sensível ao apelo do meu vizinho ilustre e a determinação do Excelentíssimo senhor prefeito, vale lembrar ambos são a mesma pessoa, pela rua onde moramos, resolvir ouvir outros vizinhos e sair no final da tarde a ouvi-los, pasmem! Para minha surpresa meu vizinho da direita me confirmou que o prefeito nunca falou sobre o tema com ele, inclusive, disse que ele passa e não fala com ninguém [coitado do meu vizinho, esqueceu que não estamos em época de campanha eleitoral], o meu vizinho da esquerda disse a mesma coisa, o da casa em frente idem, outro morador da rua que é mais vizinho do Excelentíssimo senhor prefeito do que meu, dado a localização geográfica da vizinhaça, me falou que nunca falara com o Excelentíssimo senhor prefeito e que por sinal, afirmou que já viu por mas de uma vez familiares do Excelentíssimo senhor prefeito colocando lixo no local onde o mesmo me determinou que não colocasse. Opa! Assim não pode nao é. Talvez o Excelentissimo senhor prefeito seja daqueles que diz, faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.

Outra moradora da rua também me confirmou já ter visto por mais de uma vez familiares que moram com o Excelentíssimo senhor prefeito colocando lixo no local condenado por ele. Vejamos, das duas uma, ou o Excelentissimo senhor prefeito e sua esposa, às vezes, se propõe a fazer atividades domésticas e jogam lixo no local indevido também, o que acho pouco provável a julgar pela ocupação diária dos dois ou, então, não estão a saber como anda sendo administrada sua casa [que isso não ocorra na prefeitura, senão...].

Olha vejam só, vocês devem estar se perguntando, porque este notabilíssimo cidãdão de Cedro, isto é, EU, trouxe este assunto à público. Explico, por dois motivos, primeiro porque ele não me pediu segredo, pois se tivesse eu perguntaria, quem estar a pedir segrego, o vizinho ou o Excelentissimo senhor prefeito? Se a resposta fosse o segundo não cumpriria. Segundo, porque entendo que asuntos da adminstração pública devem ser publicizados, afinal isso é TRANSPARÊNCIA. Além do mais, confesso que me sentir a última gota da última coca cola com rato do deserto, ou melhor, como diz Roberto Carlos, o cara. 

É comum ouvir as pessoas dizendo que nunca conseguem encontrar tempo para uma audiência com o Excelentissimo senhor prefeito e de repente, assim do nada, ele faz sinal da janela do seu Corola Prata para falar comigo... confesso que gostei do início da nossa conversa, quando ele me adjetivou como 'jovem', 'inteligente','conhecedor', meu termômetro de vaidade foi la na casa de São Pedro e por lá ficou... mas, quando fiz a resalva, não sendo o dono do terreno, logo porque se queixa? Ele, supostamente magoado, pois esperava, talvez, encontrar alguém subserviente, segurou o queixo com as mãos e falou com voz tridente: - Eu falo porque sou o prefeito da cidade! E voltou a segurar o queixo com as mãos, pois ao invés de mandar ele se envolver com as coisas sérias que ele anunciou na abertura dos trabalhos legislativos e lhe dar um até logo... respondir cautelosa e serenamente, na condição de gestor me notifique, pois passarei a saber da infração cometida e prontamente corrigirei o ato e os danos causados. Adoraria ter acesso ao teor da notificação, mas receio que está nunca venha.

Eis aqui minha versão do fato ocorrido ao meio dia do dia 04 de outubro de 2013, na conhecida rua das sete casas. Agora, ponho este espaço à disposição do Excelentíssimo senhor prefeito e/ou dos seus sequazes [e olhe que há muitos, alguns velhos de idade e de ideias e outros jovens de idade e fetidos de intelecto] para apresentar outra versão dos fatos, caso discordem desta.

Antes de parti duas perguntas, primeira, sou ou não sou o cidadão notabilíssimo de Cedro de São João? Segunda, estamos comemorando quase cem anos de emancipação política, e a emancipação civil, democrática... quando virá? 

domingo, 14 de julho de 2013

QUE É UMA MULHER?

Dedico a um ser livre, liberto e feminino... Simone de Beauvoir



... é mais que possuir um útero.

É uma categoria
é um rosto
é uma cor
é um corpo
é uma roupa
...

atitudes
interesses
ocupações 
manifestações...

O certo é que a função
de fêmea não basta
para defini-las.

Ademais, até um Leão
pode se converter 
numa mulher,
basta que ele
nasça e cresça 
numa sociedade que o deseje assim.


[José Ailton Santos]

ESPELHO INTERIOR


No silêncio das horas,
 durante a noite intensa e fria,
 converso com
 Cecília Meireles 
e seu Retrato.















O meu rosto de hoje
são pinceladas da vida que vivi
e o retrato de agora:

nunca foi calmo,
jamais fora triste
e
não é magro.

Os meus olhos
não são vazios, 
ainda se encantam 
com as cores arco-íricas.

E os meus lábios
não se ressecaram 
com as amarguras 
dos amores passados.
De fato, não tem o calor de outrora.
Mas, ainda compartilha beijos.

Minhas mãos,
não estão sem forças
apenas são mais delicadas
Nunca foram: 
paradas
frias
mortas...
são sensíveis e comportadas.

E meu coração,
não se esconde,
aprendeu com a vida 
a nunca mais se magoar
nem magoar semelhantes.
Continua trabalhando
amando [com sabedoria]
pulsando e vivo.

E quanto as mudanças?
físicas, emocionais, espirituais...
                                             [essenciais]
Não me dei conta,
enquanto elas aconteciam
eu as vivia
De modo:
simples
certo
e
fácil

Não me procuro em espelhos,
meu auto/retrato
prefiro construir 
em silêncio e sozinho.




[José Ailton Santos]





segunda-feira, 24 de junho de 2013

ANTI-ROMÂNTICO



À você,

As flores inocentes
arrancadas por mãos
não tão puras.

Semelhante ao olhar 
que destino à Lua
de longe te observo:
excelsa
sublime
encantadora!

Bendigo o dia em que nascentes
Oh, doce amada!

Enfeitiçastes-me!
Fui subjugado por essa paixão.
Dei-lhe minh'alma e a aprisionastes
estou sem alma e coração
feito cadáver 
dissecado
desnudo 

À mim, 

um pequeno espaço
dentro deste seio [divino] me bastaria 
não desejo muito
um olhar seu [apenas] me tornaria luz

Não desejo riqueza
isso, não importa.
O fato é que
não viveria fora desta prisão
não quero me remir.

A vida?
Já não a quero mais
nem ela a mim.
E quanto a viver?
Desaprendi.

Meu desejo é só um:
o fogo e a chama, que habitava em você
E as flores? Não as quero para mim
quero sim,
a felicidade fugidia de quem ganha um beijo
ainda que amistoso.

As horas passam
as flores murcham
O amor morreu:
tão breve
tão sem amor
assim...
Como rosas, que não foram colhidas.

O jardim secou!
Não sou mais romântico
sou... 



[José Ailton Santos]

sábado, 8 de junho de 2013

PÁSSARO TRISTE


Sou igual ave
que gosta de voar
todavia, não abandono 
o galho frondoso 

Fico a ver os outros
fazendo manobras 
num céu de Verão
à tarde
sob o Sol poente
e a brisa dos ventos faceiros 

Tenho asas 
contudo, não servem 
para voar

Meus vôos
não os exercito no ar
e sim no pensamento.


[José Ailton Santos]  

VISITA INDESEJADA



Porque somos tão pouco cordiais
quando a etiqueta diz:
"as visitas devem ser tratadas com talheres de prata
                                                    e lenços de seda"
                  [com o que há de melhor]

Porque somos deselegantes
com quem está sempre:
de portas
e braços
e pernas
e bocas
e riso aberto

Nunca nos pôs para fora
contudo, jamais ousamos
entrar e sentar à mesa
[ainda que, seja inesperado, o convite]
por maior a fartura
não nos regozijamos
com o convite indistinto

Só os gregos [guerreiros]
a desejavam

Oh, morte!
Antes na juventude
que na senilidade

Falamos dela como se amigos fôssemos
mas, sequer nos dispusemos a conhecê-la

Ela é parte de nós e negá-la é renunciar o Todo

Nossa relação de intimidade
com intragável amiga
não passa de lamento
de um árcade enlutado
que perdera a musa
e extirpou o amor
por não ter sido ambos convidados.



Ai de mim! Ai'me!
Oh, silêncio Antártico!
Oh, barquerio! Recebera duas moedas
e embarcou apenas Julieta
deixando Romeu a chorar as estrelas

Aprendi olhando para esse Mar de águas negras 
e seguindo os conselhos dos grandes mestres
a ser um exímio bon vivant


Quem se antecipa escolhe onde sentar 

antes que seja convidado
a navegar nesta caravela sombria 
convidar-Te-ei ao meu recanto
para banquetear comigo
e, quem sabe assim
Oh, barqueiro!
não embarque [nem convides] a mim
menos ainda ao meu amor

Quero permanecer por todo o sempre
neste lado da margem
e na condição de anfitrião
sou antissocial, não aceito convites.



[José Ailton Santos]

quinta-feira, 6 de junho de 2013

BRASIL, TÃO GRANDE E TÃO PEQUENO.


Não me considero um pessimista. Não me comporto como um pessimista. Não me contamino pelo pessimismo nem me sinto pessimista. Logo, não sou um pessimista. Ainda que, às vezes, raras vezes, pareça um. O que não sou é cego, imbecil e não abandonei o velho, saudável e perigoso hábito de pensar. Afinal de contas, parecer é só parte da moeda. Na verdade, acredito que o Brasil está longe de se tornar a Cidade do Sol de Tommaso Campanella (1568 - 1639), ou qualquer outra coisa semelhante, como bem esqueletou Platão, More, Rousseau, Marx, Engels... como modelo ideal de Estado. 

Vamos por os pontos nos i's. Faz tempo que nosso país não se comporta como uma nação que se preocupa com o futuro do seu povo. O brasil continua provinciano. Salvo algumas particularidades, continuamos um país exportador de matérias primas, respeitadas as discrepâncias, parecemos ainda o Brasil que fora colonia de Portugal, seguimos refém da tecnologia e ciência estrangeira. Não produzimos ciência, tecnologia, cultura, memória, justiça... até nosso futebol não é mais de qualidade, ou seja, falta-nos um comportamento de excelência, que coadune com as dimensões e os anseios de uma nação que se pretende pousar entre os grandes.

Vou cercar uma questão pontual. Vejamos o caso da educação no nosso país; o governo federal estimula e adota postura no sentido de elevar o número de matrículas nas escolas, sem atentar para a qualidade necessária. O importante, nesse caso, não é melhorar a qualidade da educação fornecida e sim a quantidade de brasileiros "alfabetizados". Afinal, quanto mais alunos matriculados, melhor nosso IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] no ranking mundial. Um país com alto número de analfabetos não pode se declarar de primeira grandeza, daí nosso esforço para sorrir na foto, a saber, matricular e certificar alunos que ao final do Ensino Médio sabem apenas assinar o nome no R.G. [Registro Geral] e ao final do Nível Superior sabem [na melhor das hipóteses] pronunciar o nome de alguns teóricos da área de formação, mas é só isso, nada mais.

A licenciosidade reina. Se, no passado, a sala de aula era tida como o local de adestramento dos corpos. Atualmente, é o lugar da vergonha, da proliferação de maus comportamentos, de fantoches, do estímulo a falta de ética... Opa! Mas ao menos são eleitores alfabetizados. A regra é "não reprovar ninguém", senão a escola fica vazia, pois os alunos que são reprovados ficam desestimulados e passam a sofrem de transtornos psicosocioemocionais [sabem o que é isso? Nem eu!]. Logo, não podemos "reter" ninguém, como se os professores fossem os únicos [até pode ser, porém são casos diminutos] responsáveis pelo insucesso dos alunos. Brincadeira ou piada? A matemática é simples leitor, se a escola não tem aluno, não tem verba, não tem lotação para professor, não, não, não...diante de tantos nãos, melhor aprovarmos todos os alunos e sorrir para a foto de formatura. Ao menos seguiremos o preceito constitucional da isonomia, tratando todos por igual. Não se trata de brincadeira, não se trata de piada, é sim, o colapso de um projeto de nação. 

Se mais de 50% dos alunos são reprovados, coitado do professor, será inquirido pelas instâncias superiores, obrigado a provar que não é culpado pelos péssimos resultados e a elaborar atividades compensatórias, tudo para manter a máscara. O aluno em primeiro lugar, ainda que ele acenda fogueira com livro didático [livro didático, esse tema requer um texto a parte, mas mexer com as editoras é caso de vida ou morte, então...], ainda que ele compareça [fisicamente] a aula com fone no ouvido e facebook no celular, ainda que espanque professores, estupre, roube, mate... temos que avaliá-los "da média pra cima", pois temos que ficar arrumados nas estatísticas. Como dizia um amigo meu, "estatística é igual fio dental em mulher na praia, mostra tudo, menos o essencial". Alguém acredita em estatísticas? Eu particularmente sou dado as crenças, acredito em tudo, desde que me contem sorrindo, pois se falar sério eu penso logo que é piada. 

Questão de prova. Quem (des)cobriu o Brasil? Antes que você responda, diga primeiro para que serve mesmo essa informação na nossa vida prática? Aqui vai a minha resposta, serve talvez como sugestão para nome de filho. Apesar que há quem prefira pôr o nome do filho de Neymar, "o bicho é pegador e tá na moda", fazer o que não é mesmo, alguns nascem com o cobre para o Sol, enquanto outros nascem com o mineral virado para Lua. Sim, voltando a pergunta, o aluno responde com outra pergunta: - quem havia coberto o Brasil? E o salário, Ô!

Aprovar um aluno sem o mínimo de conhecimento dos conteúdos [aqui, não se trata de ser conteudista] necessários ao nível escolar em que se encontra, permitindo sua progressão para o nível seguinte. é uma questão que requer uma reflexão, exegese, mergulho no supra-sumo existencial ético do professor. E a nação que tem conhecimento dessa rotina e faz vista grossa, relega ao seu povo um futuro medíocre, ainda mais injusto, desigual e catastrófico.  Imaginem como será a sua cidade, o seu estado e o país daqui a uma ou duas décadas? Se seguirmos nesse passo, receio que vamos chegar entre os primeiros dentre os últimos. 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

ENTRE O INSTANTE E A BREVIDADE DA VIDA


Não há passeios eternos
e todo jardim só brilha
nas Primaveras

Não há como não desejar
o calor do Sol 
durante as madrugadas frias

E se a solidão existe 
é porque o amor
não passou de um instante
feliz e fugaz

A noite encerra 
a brevidade dos dias
e a morte a finitude da vida
...?



[José Ailton Santos]

domingo, 26 de maio de 2013

PROMESSAS



DEUS!

Se me deres o que te peço
Prometo!
Vou fazer diferente
não vou rezar trezentos Padre Nosso
não vou à Roma de joelhos
não vou acender velas
não vou
sequer
sofrer um tiquinho
"Martírios Humanos"

Sim, Prometo!

Vou comer todas as tardes
uma fruta do seu Jardim de delícias
E, à noite, antes de dormir
vou ler pra Ti
ainda que seja uns minutinhos
o Marques de Sade
não se trata de Sadismo, Transgressão...

Desejo, definitivamente
tirar a maquilagem 
e desnudar 
à tradição espiritual ocidental

Na natureza não há nudez
e só a moral veste o homem


[José Ailton Santos]