quinta-feira, 6 de junho de 2013

BRASIL, TÃO GRANDE E TÃO PEQUENO.


Não me considero um pessimista. Não me comporto como um pessimista. Não me contamino pelo pessimismo nem me sinto pessimista. Logo, não sou um pessimista. Ainda que, às vezes, raras vezes, pareça um. O que não sou é cego, imbecil e não abandonei o velho, saudável e perigoso hábito de pensar. Afinal de contas, parecer é só parte da moeda. Na verdade, acredito que o Brasil está longe de se tornar a Cidade do Sol de Tommaso Campanella (1568 - 1639), ou qualquer outra coisa semelhante, como bem esqueletou Platão, More, Rousseau, Marx, Engels... como modelo ideal de Estado. 

Vamos por os pontos nos i's. Faz tempo que nosso país não se comporta como uma nação que se preocupa com o futuro do seu povo. O brasil continua provinciano. Salvo algumas particularidades, continuamos um país exportador de matérias primas, respeitadas as discrepâncias, parecemos ainda o Brasil que fora colonia de Portugal, seguimos refém da tecnologia e ciência estrangeira. Não produzimos ciência, tecnologia, cultura, memória, justiça... até nosso futebol não é mais de qualidade, ou seja, falta-nos um comportamento de excelência, que coadune com as dimensões e os anseios de uma nação que se pretende pousar entre os grandes.

Vou cercar uma questão pontual. Vejamos o caso da educação no nosso país; o governo federal estimula e adota postura no sentido de elevar o número de matrículas nas escolas, sem atentar para a qualidade necessária. O importante, nesse caso, não é melhorar a qualidade da educação fornecida e sim a quantidade de brasileiros "alfabetizados". Afinal, quanto mais alunos matriculados, melhor nosso IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] no ranking mundial. Um país com alto número de analfabetos não pode se declarar de primeira grandeza, daí nosso esforço para sorrir na foto, a saber, matricular e certificar alunos que ao final do Ensino Médio sabem apenas assinar o nome no R.G. [Registro Geral] e ao final do Nível Superior sabem [na melhor das hipóteses] pronunciar o nome de alguns teóricos da área de formação, mas é só isso, nada mais.

A licenciosidade reina. Se, no passado, a sala de aula era tida como o local de adestramento dos corpos. Atualmente, é o lugar da vergonha, da proliferação de maus comportamentos, de fantoches, do estímulo a falta de ética... Opa! Mas ao menos são eleitores alfabetizados. A regra é "não reprovar ninguém", senão a escola fica vazia, pois os alunos que são reprovados ficam desestimulados e passam a sofrem de transtornos psicosocioemocionais [sabem o que é isso? Nem eu!]. Logo, não podemos "reter" ninguém, como se os professores fossem os únicos [até pode ser, porém são casos diminutos] responsáveis pelo insucesso dos alunos. Brincadeira ou piada? A matemática é simples leitor, se a escola não tem aluno, não tem verba, não tem lotação para professor, não, não, não...diante de tantos nãos, melhor aprovarmos todos os alunos e sorrir para a foto de formatura. Ao menos seguiremos o preceito constitucional da isonomia, tratando todos por igual. Não se trata de brincadeira, não se trata de piada, é sim, o colapso de um projeto de nação. 

Se mais de 50% dos alunos são reprovados, coitado do professor, será inquirido pelas instâncias superiores, obrigado a provar que não é culpado pelos péssimos resultados e a elaborar atividades compensatórias, tudo para manter a máscara. O aluno em primeiro lugar, ainda que ele acenda fogueira com livro didático [livro didático, esse tema requer um texto a parte, mas mexer com as editoras é caso de vida ou morte, então...], ainda que ele compareça [fisicamente] a aula com fone no ouvido e facebook no celular, ainda que espanque professores, estupre, roube, mate... temos que avaliá-los "da média pra cima", pois temos que ficar arrumados nas estatísticas. Como dizia um amigo meu, "estatística é igual fio dental em mulher na praia, mostra tudo, menos o essencial". Alguém acredita em estatísticas? Eu particularmente sou dado as crenças, acredito em tudo, desde que me contem sorrindo, pois se falar sério eu penso logo que é piada. 

Questão de prova. Quem (des)cobriu o Brasil? Antes que você responda, diga primeiro para que serve mesmo essa informação na nossa vida prática? Aqui vai a minha resposta, serve talvez como sugestão para nome de filho. Apesar que há quem prefira pôr o nome do filho de Neymar, "o bicho é pegador e tá na moda", fazer o que não é mesmo, alguns nascem com o cobre para o Sol, enquanto outros nascem com o mineral virado para Lua. Sim, voltando a pergunta, o aluno responde com outra pergunta: - quem havia coberto o Brasil? E o salário, Ô!

Aprovar um aluno sem o mínimo de conhecimento dos conteúdos [aqui, não se trata de ser conteudista] necessários ao nível escolar em que se encontra, permitindo sua progressão para o nível seguinte. é uma questão que requer uma reflexão, exegese, mergulho no supra-sumo existencial ético do professor. E a nação que tem conhecimento dessa rotina e faz vista grossa, relega ao seu povo um futuro medíocre, ainda mais injusto, desigual e catastrófico.  Imaginem como será a sua cidade, o seu estado e o país daqui a uma ou duas décadas? Se seguirmos nesse passo, receio que vamos chegar entre os primeiros dentre os últimos. 

4 comentários:

  1. Um retrato muito bem falado de uma educação que vive sendo maquiada, para alcançarem seus objetivo, pessoas graduadas mas muitas vezes analfabetas. Parabéns.

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  2. É incrível como nosso país no lugar de progredir, regride.

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  3. Caríssimo amigo, cada fato descrito por você me fez entrar em contato com uma realidade que não a vejo pelos bastidores da educação."Todo mundo sabe alguma coisa, mas ninguém sabe tudo" Um pensamento que carrego há muito tempo. Ele foi colocado aqui para que juntos possamos refletir por uma outra vertente. O quanto cada professor conhece do que seus alunos sabem? Esta, seria a seta indicadora para interagir saberes com gosto de prazer, no caminho para a construção do conhecimento e desenvolvimento da aprendizagem. Entretanto alguém em algum lugar entendeu que sabia alguma coisa e aí passou a acreditar que esse saber era mais que o saber que os outros tinham, a partir disso um número cada vez mais de pessoas passaram a competir uns com os outros. Resultado, aprender perdeu o prazer, conhecer se tornou obrigatório e não necessário. Assim, avaliar perdeu sua verdadeira origem, que ao meu ver, seria identificar o que funciona ou não funciona para buscar soluções. Já parou para observar como nossas habilidades para solucionar problemas em nossa rotina é cheia de impasses e nossas escolhas nem sempre são conscientes, nem de que fomos nós que escolhemos e nem o porquê?
    Hoje estamos vivendo o resultado da educação sem consciência da Divindade que há dentro de cada um de nós. Assim, filha mata a mãe estrangulando-a enquanto dorme, jovens incendeiam dentistas por não ter dinheiro para dar-lhes...
    Quantos educadores assassinaram os sonhos de seus alunos, dizendo a eles o quanto eram burros, incapazes, magros, gordos, loiros... O pior é que junto a eles, a família foi a protagonista.
    Enquanto a educação continuar fundamentada pelo ter, desprovida de respeito pelos diversos tipos de saberes. A violência imperará em nossa sociedade, não importando se serão aprovados todos os alunos ou não. e os professores estão sendo valorizados ou não, pois não sobrará vivos para contar a história e nem refazê-la.

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