Porque somos tão pouco cordiais
quando a etiqueta diz:
"as visitas devem ser tratadas com talheres de prata
e lenços de seda"
[com o que há de melhor]
Porque somos deselegantes
com quem está sempre:
de portas
e braços
e pernas
e bocas
e riso aberto
Nunca nos pôs para fora
contudo, jamais ousamos
entrar e sentar à mesa
[ainda que, seja inesperado, o convite]
por maior a fartura
não nos regozijamos
com o convite indistinto
Só os gregos [guerreiros]
a desejavam
Oh, morte!
Antes na juventude
que na senilidade
Falamos dela como se amigos fôssemos
mas, sequer nos dispusemos a conhecê-la
Ela é parte de nós e negá-la é renunciar o Todo
Nossa relação de intimidade
com intragável amiga
não passa de lamento
de um árcade enlutado
que perdera a musa
e extirpou o amor
por não ter sido ambos convidados.
Ai de mim! Ai'me!
Oh, silêncio Antártico!
Oh, barquerio! Recebera duas moedas
e embarcou apenas Julieta
deixando Romeu a chorar as estrelas
Aprendi olhando para esse Mar de águas negras
e seguindo os conselhos dos grandes mestres
a ser um exímio bon vivant
Quem se antecipa escolhe onde sentar
antes que seja convidado
a navegar nesta caravela sombria
convidar-Te-ei ao meu recanto
para banquetear comigo
e, quem sabe assim
Oh, barqueiro!
não embarque [nem convides] a mim
menos ainda ao meu amor
Quero permanecer por todo o sempre
neste lado da margem
e na condição de anfitrião
sou antissocial, não aceito convites.
[José Ailton Santos]


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