sábado, 8 de junho de 2013

VISITA INDESEJADA



Porque somos tão pouco cordiais
quando a etiqueta diz:
"as visitas devem ser tratadas com talheres de prata
                                                    e lenços de seda"
                  [com o que há de melhor]

Porque somos deselegantes
com quem está sempre:
de portas
e braços
e pernas
e bocas
e riso aberto

Nunca nos pôs para fora
contudo, jamais ousamos
entrar e sentar à mesa
[ainda que, seja inesperado, o convite]
por maior a fartura
não nos regozijamos
com o convite indistinto

Só os gregos [guerreiros]
a desejavam

Oh, morte!
Antes na juventude
que na senilidade

Falamos dela como se amigos fôssemos
mas, sequer nos dispusemos a conhecê-la

Ela é parte de nós e negá-la é renunciar o Todo

Nossa relação de intimidade
com intragável amiga
não passa de lamento
de um árcade enlutado
que perdera a musa
e extirpou o amor
por não ter sido ambos convidados.



Ai de mim! Ai'me!
Oh, silêncio Antártico!
Oh, barquerio! Recebera duas moedas
e embarcou apenas Julieta
deixando Romeu a chorar as estrelas

Aprendi olhando para esse Mar de águas negras 
e seguindo os conselhos dos grandes mestres
a ser um exímio bon vivant


Quem se antecipa escolhe onde sentar 

antes que seja convidado
a navegar nesta caravela sombria 
convidar-Te-ei ao meu recanto
para banquetear comigo
e, quem sabe assim
Oh, barqueiro!
não embarque [nem convides] a mim
menos ainda ao meu amor

Quero permanecer por todo o sempre
neste lado da margem
e na condição de anfitrião
sou antissocial, não aceito convites.



[José Ailton Santos]

Nenhum comentário:

Postar um comentário