01 EPISÓDIO:
Meu pai, pela manhã, retornava da pescaria e trazia o balaio [um tipo de cesto de origem indígena] cheio de piabas [tipo de peixe pequeno existente em vários rios do Brasil] e ao descer da bicicleta para empurrá-la, pois o peso da bicicleta com o cesto dificultava a subida da ladeira da Barroca [uma espécie de bairro do município]. Pois bem, no momento em que ele subia a ladeira um morador da localidade pergunto-lhe:
- Mané, tá vendendo pé-de-moleque agora é?
O nego do jeito que vinha suado e de sangue agitado, parou a bicicleta, olhou em direção ao gozador e lhe deu a seguinte resposta:
- Eu não estou vendendo pé-de-moleque não, estou vendendo [pipipipi] sobrou uma quer pra você botar no [pipipi]?
O gozador percebendo que seu intento não fora atingido e percebendo que todos na rua riam da resposta que recebera, voltou a falar:
- Oh, Mané, precisa responder desse modo?
Ao que obteve como resposta:
- Vai procurar seu lugar ou quer que eu mande você ir buscar minha cueca embaixo do seu colchão, que sua mulher esqueceu de me devolver ontem à noite? [sobrou para a esposa do infeliz]
E ainda disse mais: - Cabra safado me respeite. Aí, o cara acordar de madrugada, até essa hora sem comer e vem um insolente feito você fazer graça de mim.
"NÃO CUTUQUE FERA COM VARA CURTA, POIS PODE PERDER O BRAÇO."
02 EPISÓDIO:
Hoje, à tarde, enquanto sair a passear pelas ruas e becos da cidade de Cedro de São João, ouvir a conversa de dois anciãos. Um disse: - Ei, homem, arrie esse trabalho e vamos à missa! Ao que o outro deu como resposta: - Deus disse, primeiro as obrigações depois a devoção. O primeiro voltou a falar: - Então, vá derrubar a Igreja. Ao que o segundo respondeu: - Eu não, vá você que está aí sem fazer nada.
"QUEM NÃO DÁ OPINIÃO, NÃO PERDE A FEIÇÃO NEM O AMIGO.
03 EPISÓDIO:
Sentando num banco da praça, que fica localizada em frente à prefeitura, eis que quando cheguei estavam dois homens a conversar, um aparentando seus 80 anos e outro uns cinquenta anos mais jovem. O mais velho disse:
- Um homem tem que zelar da aparência física e, mais ainda, da imagem familiar. O mais moço, então, perguntou:
- O que é imagem familiar?
O homem mais velho fechou o semblante como se estivesse a se admoestar que a tarefa não seria das mais fáceis e disse:
- É zelar pelo nome da família, pois a imagem familiar é o escudo que blinda sua honra e moral perante os outros.
Insistindo na pergunta, o jovem voltou a questionar: - como assim, nome da família?
O mais velho perguntou:
- Meu garoto, você é rebento de qual raiz familiar em Cedro.
O jovem deu a seguinte resposta e partiu:
- Se não sabe responder diga, agora ficar me enrolando não dá.
O homem octogenário meneou a cabeça e olhou em volta, como se desejasse se certificar que não havia ninguém próximo, para praguejar e disse entre lábios:
- Quanta insipiência.
"SÓ HÁ UM MAL, A IGNORÂNCIA. SÓ HÁ UM BEM, O CONHECIMENTO."
04 EPISÓDIO:
Antes de regressar para minha casa, resolvi entrar na quadra de esportes e assistir alguns minutos do jogo que lá ocorria. Pois bem, eram equipes uniformizadas, uma de jovens de Cedro e outra da cidade vizinha, Telha. Diga-se de passagem, o prefeito atual desse último município, construiu numa gestão de um ano e dois meses, até o presente, duas quadras novas em dois povoados e reformou a da sede da cidade, pergunto: - e o prefeito de Cedro construiu quantas? A diferença de gestão reflete no resultado do jogo dos garotos. Bom, vamos retomar o raciocínio. A equipe do município de Telha "passeava" entre os jogadores de Cedro, uma goleada. Eis que em um lance, um jovem da equipe de Cedro, pretenso candidato a vereador na cidade, saiu do gol em direção ao adversário, esqueceu a bola e quase expôs a tíbia e a fíbula - ossos da canela - do jogador. Um aparte, se ele for agressivo assim no parlamento local, vou me converter em seu eleitor e cabo eleitoral. O jogo perdeu o sentido, violência vazia e gratuita da parte da equipe do Cedro, enquanto os garotos de Telha metiam bola entre as pernas dos adversários em resposta à pancadaria. Antes de regressar para minha casa, eis que surge um novo lance, e, o goleiro da equipe de Cedro abandona o gol novamente, não para evitar o gol e sim para arremessar quadra fora um garoto da outra equipe, que por sorte ou por dominar as técnicas de um dublê, não saiu do jogo gravemente ferido, quiçá, morto. Não me contive diante da cena e gritei, em alto e bom som:
- Se tiver confusão vou estar do lado dos garotos da Telha viu!
Um familiar meu que estava ao meu lado questionou:
- Vai mesmo ficar contra os de Cedro?
Ao que deixo como resposta, ao meu familiar e aos que questionem meu patriotismo, bairrismo ou sei lá o quê.
- Convidem-me para uma causa justa e terão meu apoio e defesa veemente, do contrário, estarei de punhos fechados, ainda que seja, contra minha gente.
"COMPETIR, VENCER E SABER PERDER, SÃO PARTES DISTINTAS E FUNDAMENTAIS DE QUALQUER JOGO."
[José Ailton Santos]
[José Ailton Santos]

Muito bom este resgate aos causos. Tornar publico esta parte da historia horal não poderia ser registrado e escrito por alguém melhor. Parabéns.
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