sábado, 11 de janeiro de 2014

QUÊ DE PAIXÃO


Minha amada é uma espécie de Substantivo.
Ela tem certo quê de mistério
e o meu quê vem amiúde depois do dela.

Nossa relação parece uma Interjeição.
Se chego cedo ela diz: que! Você aqui, já!
Como resposta digo-lhe: Quê! Você ainda assim!

Fico com cara de Preposição e insisto:
Temos que sair mais cedo para garantir assento.
E ela como sempre tem que me agredir. -Vá na frente!

Fico parecendo uma Partícula Expletiva, ou melhor, de Realce.
Quase que não consigo acreditar naquelas palavras.
Mas, ela é que habitualmente diz a palavra final.

E meu coração feito Advérbio consola-me.
Que linda ela fica quando zangada.
E que longe será a ida sem ela. Decido-me por aguardá-la.

Já meu cérebro racional feito Pronome Relativo pensa alto
Este não era o cenário que imaginava encontrar. 
ambiente frio [que] é incapaz de causar emoção.

E meu ego ferido igual Pronome Substantivo Indefinido, bradou para mim:
Que aconteceu com você?
Você precisa de quê? Recomponha-se e converta sua face coloquial em norma culta.
Antes de decidir sair, alonguei meus braços e entreguei-lhe as flores.

Instantaneamente, o ímpeto dela revestido de Pronome Adjetivo Indefinido, exclamou: 
Que flores você escolheu!

Diante do descaso com que recebeu as flores
ruborizei as maças da face e assumir o papel de Adjunto Adnominal.
Que mulher é você? Insensível!

Perdi a razão e fiquei encolerizado igual uma Conjunção.
Arrume-se logo, que o tempo não dorme!
Já falamos tanto, que perdemos a hora.
Sentei-me diante da escrivaninha e me pus a aguardá-la.
Fazia horas que estávamos ali, inabalaveis, discutindo nossa relação
e tendo por árbitro a décima sexta letra do alfabeto latino.




[José Ailton Santos]

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