Tudo em mim cheira suor e sangue.
E por quê?
Ensinaram-me que colecionar lágrimas
é aceitar os grilhões.
E desde tenra idade
aprendi a fugir dos lobos
e matar os mosquitos.
Meus pés têm três camadas de tecido
e servem para me proteger
dos espinhos e pedras.
Não sou geneticamente modificado.
Mas, há tempos
trago meus pés descalços.
Vi
ouvir
sentir
e atuei
nas cenas mais feias e horríveis da vida.
O inferno de Dante.
Meu silêncio não é complacente
é de dor.
Sobrevivi, por longos anos, de migalhas e sobras.
Contudo, dentre os miseráveis
era o único
que não parava para admirar
nem agradecer pelo alimento.
Não se tratava de insensibilidade
e sim de sobrevivência.
Comia a tudo:
sem cheirar
sem interrogações
sem orações prévias
...
meu único mandamento era
"Serviu como alimento, coma!"
E assim fui crescendo e tendo músculos fortes.
Afinal de contas, nunca tive alimentos:
amassados
mastigados
triturados
vitaminados.
Nunca! Nunca! Nunca mesmo!
Ninguém abriu portas para mim
nem jamais me cederam o lugar:
na fila
no assento
na vaga [livre]
na oportunidade revelada
...
Aprendi a pescar:
sem varas
sem anzóis
sem iscas...
Pasmem!
Meus peixes
pescava, seduzindo-os.
Hoje estou aqui
sou um sobrevivente.
Todavia,
a vida nunca me fora fácil.
Tudo que tenho conquistei:
os amigos
as paixões
as amantes
os amores [vividos e sonhados]
...
até os inimigos foram conquistados.
O mérito é todo meu!
[José Ailton Santos]

EU DARIA O SEGUINTE NOME PARA ESSA POESIA, A AUTOESTIMA ALIMENTADA DE UM POETA SEDUTOR. A POESIA IMITANDO A REALIDADE OU SERÁ AO CONTRÁRIO?
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