quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A PRINCESA E O PLEBEU



Dei-me a ti sem reservas.
Entreguei-me a tua voz e vontade
e abri meu mais casto tesouro
                         [meu coração]


Não temi tua grandeza 
e sofri por ter sido displicente.
Ignorei o fato de ser uma escrava
da tua origem e nascimento.


AI DE MIM!
Como dói a certeza desta hora.
Antes ser tragado pela garganta
[em chamas] do Inferno
a viver os dias que me restam.


O dia não acabou, mas o Sol luzente [consternado]
já se recolheu faz tempo.


Sinto a verdade em seus sentimentos
são sinceros
sem mácula
sem má fé
e sinto que me corresponde.


Contudo, um corpo que treme ao frio
não se aquecerá com a vaga ilusão
do calor ardente de uma lareira.
Faz-se necessário a presença física
de um cobertor
            [ainda que em farrapos].


AI DE TI!
Pois, suas escolhas
não são livres como a das pessoas comuns
para que possas decidir
por aquilo que lhe convém.


A segurança e o bem-estar do reino
depende de vossas escolhas.
Como é triste a certeza.
Como é triste ser quem sou.


Custa-me confessar.
Todavia,
doravante, suas palavras
que outrora invadiam meus ouvidos
sem antes [ao menos] se anunciar,
a partir deste instante
somente serão ouvidas e aceitas
à medida que as possam tornar-se reais
do contrário, sofrerei em silêncio,
pois, o gemido que se eleva
atrai, não a cura da dor
e sim a atenção de curiosos 
                          [aves de agouro]


Sou plebeu
ninguém canta louvores a mim
e, se me ponho nu
diante da luz da Lua
a ninguém interessa
apreciar minha beleza.



[José Ailton Santos]

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