sábado, 20 de abril de 2013

ÓSCULO ENAMORADO

Mandou-me um beijo
Aceitei prontamente 
Não pude recusar
Ainda que tenha sido, assim
... entre lábios frios e distantes.

Ah! Como é doce a esperança.

Antes fosse prudente
Afinal, a paixão é um mal súbito
E os mesmos lábios frios
Podem me queimar 

Mas, que fazer
Adoro brincar com fogo.




Dedico às nove musas gregas, filhas de Mnemósine [Memória] e Zeus [Júpiter].



[José Ailton Santos]

ARBÍTRIO [LIVRE] ARBÍTRIO

                                                                                                       [Caminhando com Nilton Bonder].



Não há liberdade nos extremos!

Somente se é livre 
na corda bamba.
Não caías pra um lado
tão pouco pra outro.

Fechas os olhos e siga.
O invisível é tão real
que não enxergamos a olho nu.

Desejas de forma plena
sem nódoa,
sem nevoeiro,
sem encruzilhada,
sem máscaras.

Sejas igual na diferença
faças escolhas
mesmo que sem respostas.
Afinal de contas
as respostas são pecados que pertencem a outrem.
Cometas seus próprios pecados.

Não há Santo que no histórico 
não tenhas grandes pecados 
não aceitarás fruto de ninguém 
colha-os você mesmo.

Não idolatrarás Nada nem Ninguém
ainda que sejas a dúvida, ainda que sejas...
Pois, Idolatria [é arbítrio sem liberdade] é excesso 
e todo excesso é ilusório.
De modo semelhante
a dúvida é uma espécie de não-viver.

Não duvides, tão pouco sejas idólatra!
Ou serás condenado a viver eternamente 
no Paraíso [paradisu - recinto circular]

Honras teu pai NÃO lhe sendo semelhante!

Não obstruirás
e não construirás [barreiras, cercas, muros...]
ainda que sejas de madeira.
Não se aposses de nada 
salvo, das suas escolhas.

Sejas fluidez.
"O infiel é aquele que não faz."


[José Ailton Santos]

terça-feira, 16 de abril de 2013

O PREÇO


Quanto vale?
Diz-me, quanto vale?
Afinal, tudo tem um preço,
ainda que seja a ajustar.

É no preço
ou por Quilograma?

o sexo banal,
a moral de areia,
a Ética disfarçada 
e a persona non grata

No balcão da esquina
de tudo se vende.

O amor quanto vale?
Já diziam os poetas românticos:
- Não tem preço!
Pena que todos estejam mortos
e que a mercadoria 
não valha o mesmo que outrora.


E o ser humano?
Quanto vale?

- Inteiro ou fragmentado?
Pois cada parte tem um valor.

E o corpo, isso mesmo?!
O corpo, quanto vale?
- Vale menos que o tecido.

Cetim
Chitão
Gaufrê
Challis
Cambraia
...
Seda, lã, veludo, linho, pele, algodão...


E eu, quanto valho?
Diz-me sem arrodeio.
- Isso meu nobre amigo
depende da nascença.




[José Ailton Santos]






terça-feira, 9 de abril de 2013

ENIGMA


Penso que sou um espelho
onde possibilito a todos
[todos os sentenciadores
que me olham
a uma distância segura]
enxergarem
não a mim
mas, a vós mesmos
Juízes de si

Quando pretenderem
revelar-Me
não conceitue 
não tente explicar
não interprete 
nem desvende
tão pouco defina
...
apenas sinta.

Agora
se queres mesmo saber
quem sou
sou uma metamorfose
sou o começo e o fim
dentro do meio
sou o vestido
que se põe nu
sou a taça que se põe:
cheia
completa
transbordante...
e se faz vazia
sou a ausência
que se faz presença
inteiro
e vulnerável.

Bem
agora que me conhece 
- Muito prazer!
Sou um enigma.



[José Ailton Santos]


segunda-feira, 8 de abril de 2013

RELIGIÃO NÃO É POLÍTICA!?




O assunto de hoje é requentado. Igualmente aquela sobra do almoço que você guarda para o jantar, às vezes, fica uma delícia. Contudo, há quem jogue fora. Particularmente, gosto, pois o caldo engrossa e o sabor é outro. Leitor! É você mesmo! Não sei por que ainda se assusta quando me dirijo a você, afinal é com você mesmo que sempre estou a dialogar. Pois bem, vou tecer alguns (pós) conceitos sobre a eleição do Papa. Opa! Falei eleição. Mas, a escolha do Papa não é assunto religioso? Por conseguinte, qual a relação com eleição? Ignorante como sou, entendo eleição como a escolha de um entre dois, ou entre vários, por uma maioria. Todavia, há quem acredite, que toda maioria é burra, nada contra essa espécie de animal prestativo, tão pouco estou a julgar os Cardeais que votaram no escolhido.

Justifico-me com outro raciocínio pueril que tanto me caracteriza. Compreendo que sendo o Papa o representante de Deus na Terra, deveria o céu se abrir e descer sobre a cabeça de Jorge Mario Bergoglio uma pomba branca [e não fumaça branca] e uma voz de arauto a dizer: - este jesuíta é o Meu escolhidO e apesar de Ser brasileiro, gosteI foi do argentino. Confesso que até entendo a escolha divina, mas na Argentina também tem corrupção. Opa! Perdão! Político não é corrupto, corrupta é a política. E política e corrupção não tem nenhuma relação com religião.

Peço desculpas a você leitor pelas blasfêmias. E de agora em diante, tentarei me esforçar para mudar a direção do vento para não esvoaçar seus lindos cachos. Todavia, uma questão importante a se dizer é que o mundo não vive mais o período histórico do medievo, onde a Igreja e seus membros detinham 2/3 das terras da Europa e a hegemonia e legitimidade das interpretações dos mais variados fenômenos da vida e da morte. O mundo moderno trouxe ganhos importantes na independência moral, espiritual e politica dos indivíduos, a saber, democracias, liberdades...

Sinteticamente, o mundo mudou e a Igreja continua com a mesma indumentária.

No entanto, como meu leitor é valente e não se rende fácil diante do meu malabarismo com as palavras, deve estar a dizer: - ele deixou para falar sobre o Papa agora para reunir informações alheias e dizer de outro modo o que muitos já disseram. Penso que você não está de todo errado. Contudo, lhe asseguro, minhas palavras são claras e puras, não trazem consigo a sujeira da fonte, pois sempre apanho água dos primeiros ou após se instalar a calmaria nas águas, nunca junto à multidão. Afinal de contas, já dizia meu pai, bebe água fresca quem chega primeiro ou aguarda a água acalmar, pois enquanto estiverem todos a beber na fonte, a água jamais fica clara. É preciso esperar a sujeita decantar na fonte para a água voltar a ficar límpida. Sabedoria popular, nunca a ignore ou certamente vai padecer.

Retomando o raciocínio após um caneco d’água cheio pelas beiras. Vejamos, a sede da Igreja Católica fica no Stato dela Città del Vaticano [Estado da cidade do Vaticano], isso mesmo, um espaço territorial murado e politicamente organizado, que fica dentro do território de Roma. Foi criado em 1929, em decorrência do Tratado de Latrão, mas isso não vem ao caso, é outra história. Quando o Cardeal Joseph Aloisius Ratzinger renunciou fiquei perplexo. Como pode? Que pecado? Que transgressão? Como pode um homem negar a Deus. Sim, pois os Papas não vivem para si e sim para a causa divina, ao menos é o que sempre soube. E tenho isso como verdade absoluta. Espero que não duvides de mim? 

Eles, os Papas, vivem para servir a Deus e Bento XVI, em ato de coragem e ousadia, pediu as contas. Nem Satanás ousou tanto, pois este fora demitido, inclusive, por justa causa. Contudo, Bento XVI foi mais ousado e disse: - estou cheio desses afazeres! Vejam meus amigos o que é a ousadia, e não duvides, Deus sabe recompensar e reconhecer os ousados. O anjo celeste como castigo fora precipitado aqui entre nós [na Terra] e Ratzinger fora se hospedar no Castelo Gandolfo, um lugar extremamente aconchegante, luxuoso e rodeados de livros os mais variados, bem diferente da morada de Cristo. E para não se afastar muito da Cúria, vai residir em definitivo até seus últimos dias num mosteiro, que se encontra em reforma, localizado no interior dos jardins do Vaticano. Se pudesse lhe aconselhar algo neste momento leitor, diria: Ousadia camarada e faça acontecer!

Perdão, mais uma vez falo bobagens. Será que serei julgado por estas palavras? Sinto-me um tanto inseguro sobre isso, mas... Acredito que o tribunal celeste existe somente na nossa mente, talvez, este seja o mais poderoso mito das religiões. Acredito que Deus se comunica conosco e nós com Ele em nível de consciência. Logo, quem nos releva da culpa imputada e ao mesmo instante condena é nossa própria consciência. Essa coisa de certo e errado entendo ser uma convenção [necessária até] das sociedades, pois no campo celeste o que existe é a máxima do livre-arbítrio e Bento XVI [assim como, Nilton Bonder, em seu livro intitulado “O código Penal Celeste”] sabe como ninguém disto que falo.  

Qual terá sido a real motivação para o Papa renunciar, será que desejou criar um fato histórico? Será que a coalizão das forças politicas degringolou? Ou será mesmo cansaço físico e mental? Respondo a primeira indagação afirmando que Ratzinger foi bem sucedido, conseguiu entrar para a história da Cristandade. A segunda indagação se baseia nos escândalos que vieram à tona, vazamento de informações sobre corrupção no Vaticano. Isso mesmo, corrupção! E pensar que corrupção era coisa de política? A terceira indagação me trás a mente a lembrança de Karol Jósef Wojtyla, conhecido entre os católicos por Papa João Paulo II. No final da vida ficou corcunda pelo peso da idade e saúde abalada, porém renitente na sua vocação e missão. Bem, era assim que eu o via, pois quero não imaginar que seria apego ao poder.

Bom, o fato é que a Igreja não poderia ficar sem um pai [Padre] e abriu-se novamente o processo sucessório. Bandeiras à mão e torcida organizada, a Praça São Pedro no Vaticano parecia mais uma final de World Cop, no popular, Copa do Mundo. Após alguns dias de silêncio e algumas chaminés de fumaça preta, eis que surge a fumaça branca. Custa entender essa história de fumaça, onde teve início este costume e porque ainda se mantém? Deixa quieto, não importa, o que de fato importa é que o Arcebispo de Buenos Aires e Cardeal-Presbítero argentino de origem italiana, Jorge Mario Bergoglio, acusado na Argentina por alguns de ter delatado colegas durante o regime militar naquele país, surge na sacada da Janela mais poderosa do mundo, a curvar-se diante da multidão pedindo bênçãos a todos os presentes. O ritual não seria ele abençoar os fiéis? Bom, deixa quieto novamente, porém se fosse World Cop a grande campeã seria a Argentina. E o Brasil? Nem como vice ficou.

Sim, ainda sobre a suspeita que pesa sobre o novo Papa de delator, há quem negue esta versão. Todavia, não vou gastar meu latim nesta celeuma, mesmo porque, religião é coisa séria e regime Militar amigo, ainda hoje é um tabu. O que desejo registrar são algumas particularidades do novo Papa, nunca antes na história desse país, perdão, deslizei, da Igreja Católica houve um Papa nascido na América e, ainda por cima, no Hemisfério Sul. É o único na história de origem Jesuíta [olhe que se você estudar um pouquinho sobre a relação histórica dos Jesuítas com os Papas, vai se impressionar ainda mais com a escolha]. O papa também é o primeiro não-europeu em mais de XII séculos. E ainda por cima, fez questão de ir ao Hotel pagar a conta, esse Papa Francisco é mesmo o 'cara'. Doravante, creio que vai virar hábito entre os próximos escolhidos. Nesse fato de pagar a conta no balcão do hotel o que me instiga é saber por que a mídia insistiu tanto na repetição da informação, fiquei a pensar o que será que desejam revelar com esse gesto? Com a palavra, os ex-Papas. 

Nunca esqueçam, religião e política não se misturam. Agora, que o Papa recebeu Presidentes de nações do mundo inteiro isso é inegável. Entre duas uma, ou o Vaticano também faz política ou o mundo inteiro vai se converter ao Catolicismo. Nem uma, nem outra, a verdade é que o Papa se chama Francisco e como tal é seguidor de Giovanni di Pietro di Bernardone, afetuosamente chamado de São Francisco de Assis e que costumava dizer: “se alguém vem a mim eu não mandarei embora” (Evangelho de João 6:37) ainda que seja Cristina Kirchner. Agora, a pergunta é, e o novo Papa, seguirá ao pé da letra essa máxima, ainda que seja um homoafetivo, uma prostituta, um transexual, um pobre, um latino...?

Abundam na história das civilizações, registros que todo povo ou grupamento necessita de um líder e a verdade é que a Igreja estava órfão de um faz tempo. O Cardeal Ratzinger foi um Papa extremamente vaidoso e monástico, prova disso eram as vestes e jóias que foram produzidas a partir do momento da assunção da função - atendendo a um pedido do mesmo -, por artesões e alfaiates da mais fina flor da vestimenta italiana. Jóias modernas e vestes que lembravam os Papas renascentistas. Ele reintroduziu o latim na missa e restaurou velhos hábitos e cerimoniais de caráter palacianos, a saber, todos os fiéis e visitantes que iria comungar, Ratzinger estendia primeiro a mão para que todos beijassem o anel papal e, em seguida, dava a hóstia; numa atitude obsoleta e de extrema inversão do valor de humildade pregado pelo Cristo, ou seja, a figura máxima do Cristianismo.

Você caro leitor, deve ter notado pela escolha dos exemplos que minha admiração pelo ex-Papa não é das mais desejadas. Porém, vou logo avisando, não sou herege nem diminuir minha fé na Igreja. Apenas mudei meu comportamento e meu olhar sobre a mesma. Torço para que este novo Papa traga de volta a Igreja a órbita da mensagem de Cristo, pois a humanidade necessita de pessoas em lugares de comando, que saibam amar os diferentes e defender os mais necessitados dos arroubos dos donos do capital no mundo. Quem sabe também o Papa Francisco não consiga junto ao Banco do Vaticano [Isso mesmo, Banco! Por sinal, o banco mais sólido do universo. Mas, religião não é comércio.?] empréstimos para as nações pobres a juros simplórios. Não vou nem falar em doar aos pobres, aí seria uma outra Igreja e não esta que aí está. Além do mais, não queremos notícias de um Papa morto, não é isso?  Empréstimos a juros diminuto já seria de bom alvitre. Seria, certamente, uma contribuição e tanto para os desvalidos do mundo, independente de credos religiosos.

É inegável que a Igreja continua sendo regida pelo direito canônico, os dogmas do passado continuam em pleno vigor, a forma de escolha dos Papas continuam seguindo os mesmos preceitos e rituais do passado, o celibato ainda é uma realidade, a impossibilidade de mulheres ocuparem funções de prestígio na Igreja também é fato... Todavia, acredito que a Igreja vai mudar; só não posso assegurar, ainda, se a mudança será para melhor. Agora, inegavelmente, os sinais são visíveis e pelo que se observa são otimistas também. Desejo finalizar com uma última observação, a origem geográfica do Papa diz muito sobre seu futuro pontificado, a escolha do nome é muito simbólica, e, não encaro que tenha sido sem propósito, o comportamento do Papa Francisco é extremamente relevante e motivador para elevar a crença dos fiéis. No entanto, é preciso esperar o Sol se pôr para saber se a noite será estrelada.

Jamais esqueçam:

- Religião não é política! Todavia, uma pergunta que não quer calar, quem era o seu candidato favorito na escolha do novo Papa?


terça-feira, 2 de abril de 2013

POEMA MÉTRICA

Oh! Minha doce amada!
Pedistes-me um poema?
Antes fosse uma rosa
pois, adoraria poder te dar

Todavia
o que não possuo
não tenho por hábito 
dar a ninguém

De outro modo
o que já doei 
não prometo a mais ninguém
Meu coração é seu
quanto a minh'alma
pertence aos deuses.



Sinto por ti
Oh! doce amada!
Afinal
no meu ateliê 
não tem tesoura, nem trena, nem nada.
Somente eu e minha solidão.

Na minha morada
não possuo jardins 
nem pássaros a cantar na janela 
só há
amassado papel
amargura
frustrações
fornicação
e tinta fresca.

Não sou o que queres de mim
nem tenho o que busca
tão pouco dar-te-ei
o que somente a mim foi ofertado:
Dádiva.

Oh, doce amada, quanta tristeza!
Não sou artífice, sou poeta.


[José Ailton Santos]

GENEALOGIA



Meu nome?
Me chame como quiser!
Sou filho de Mané:
nego home, ignorante que nem a peste
mas um exímio pescador
que, inda por cima é bom na lida
espinho que se preza
não teima com ele:
calumbi
jurema
mal vizinho
juazeiro...

home de sangue quente
que não foge de peleja
ou morre ou mata.

Esse por sua vez é irmão de:
Tonrege, [ou tonho],
zé Carlos
Valtinho
Meu Pinho
Sila
Gusta
Zéza 
e a nega Lú - preta de cria
não era boa pra casar
era boa na cama [de palha seca ou mato deitado] e na lida.
Me ensinara a arte da safadeza.

Esses, por sua vez, filhos de Tico
                      [meu vô, caburé da cara larga]
também atendia como Chico do pó
como era conhecido em Cedro
                                      [Aqui, não me refiro a madeira de lei
                                                            e sim a cidade do santo]
"Cedro de São João”
que já fora Darcilena.
Mas, isso é coisa de muitos anos
nem nascido inda era.
Pois bem,
O véio Tico andou também com seu comboio
                                                            [de burros]
                                                            por outras terras:
Poço dos Bois,
               Telha,
              Amparo,
             Canhoba,
            Aquidabã [antiga Cemitério]
           e inté Propriá.

E nas Alagoas, onde também era pescador:
Porto Real do Colégio
Tibiri [terra de índias e caboclas desavergonhadas]
São Brás...


Meus bisavôs de pai
nem nome sei
o que sei é que o pai, do pai do meu pai
era home valente:
no braço
na faca peixeira
na carabina...
e na luta franca.

E a mãe, do pai do meu pai
minha bisavó de pai
sei apenas que era índia.
Selvagem! Nunca vira gente
fora criada pelos seus como bicho no mato
vivia na caatinga, no mato fechado...
Foi pega no laço
e foi como tudo começou
num sexo selvagem
indecente
imoral
obsceno...
embaixo de um juazeiro
a vista só dos bichos.

Já, os pais da mãe de meu pai
sei deles não
é a parte de sombra das lembranças 
                  [mais é um povo da tez alva, galego da venta e os beiço pocado].

Minha mãe se chama Maria
e seu segundo nome é Carmo
em homenagem a santa.
É descendente direta dos Juremas.

Meu avô de mãe
atendia por João Félix
homem alto e magro
era um típico sertanejo
mas não era de briga não
ao menos, isso soube do meu pai, que inda dizia:
- nem os bichos que comia tinha coragem de matar!
Pegava-os na arapuca.

Minha avó de mãe
atendia pela alcunha de Dona Antônia rezadeira
mulher de média estatura
mas viva, bem diferente do marido.
Era boa por demais com os netos
gostava mesmo era do arroz doce de domingo
dos geladinhos que me dava
e da frutas tiradas no pé
no quintal grandão que perdia de vista.
Era onde costumava brincar
quando aparecia alguém pra rezar
e ela dizia: - vai lá pro quintal menino
senão o olhado passa pra ti.
Perdi a véia pequeno
mas inda lembro com saudade.

Os pais dos pais de minha mãe?
Nunca ouvir contar sobre eles
acho que eram agricultores
talvez, diaristas de algum fazendeiro da região.
Sendo honesto, sei lá! 
Quando souber eu emendo essa história.

Da junção carnal de Mané e Maria [meus pais]
Nasceram:

Zanza*,
essa foi a primeira, nasceu no oiteirinho
numa casa de barro
era moça bunita
das coxas grossa
embuchou antes de casar
quase que mata o Mané de desgosto.
Mas, isso é passado
hoje, vive bem com Bobinho
e é funcionaria pública.

Betão,
o segundo 
           [esse tem história que não cabe nessa história]
era menino home:
brigão
raparigueiro nato
iniciou na safadeza
inda quando era home de calça curta
e teve como professor tio Valter.
Tinha vocação pra ser home de Lampião
e olhe lá se não assumisse o comando do bando.
Herdou vários ofícios de: vô, pai e tio
                                                   [bom de briga, montar cavalo, caçar, pescar, mexer com gado, atirador exímio, criar galos de briga...]
e como ironia do destino é puliça.

Belezal,
ou Magia, ou Júnio, ou ainda “J”.
Negrinho metido
e boçal
mas, como dizia Mané 
bom de enxada que era um pestinha
esse sempre foi dengoso
mirado
reclamador que vixe maria.
Porém, era bom nos estudos
foi o primeiro da casa
a ter faculdade e emprego de gente [hoje todos tem estudo]

Nena,
essa quase o porco come quando inda era criança
era um tipo estranho
e pra completar começou a ouvir vozes.
Sai pra lá!
Inda pensou ser freira
mas no fundo, gostou não.
ainda bem que arrumou um Buneco pra sua vida.

A próxima é Dente
ganhou o nome devido à saliência dos dentes
dentuça igualzinha a Mônica                                                                                                                                                                  mas já se curou da feiura.
Também era chamada de Miyagi San
porque era menina home:
corria
     brigava
           ganhava queda de braço dos meninos
                 e se a briga era com outra mulher
                       batia de mão fechada
                              com o grosso dos dedos na cara.
Sempre fora minha parceira em todas as disputas
na corrida, nos estudos [quem ficaria com o primeiro lugar]
ela foi sem dúvida meu maior adversário
hoje, continua home: na garra, na coragem, determinação...
coitado do Marcelinho Pão e Vinho.

Por último e não menos importante
Pipiu,
a caçula
dengosa
chorosa
de pouco apetite pra comida e pras coisas do mundo também
religiosa
temente a Deus
acho inté que ganha do Papa na fé.
Habilidosa nas letras e no pensar
e, de certo, se não amalucar tem grande futuro.

Vixe!
Inda falta as sementes dos filhos de Mané e Maria.
Mas, essa parte fica proutra ocasião.

Quanto a mim? O que queres saber?
Sou o caçula dos home, isso basta!


* Os nomes em negrito são apelidos caseiros para, respectivamente, Elizângela, Luiz Alberto, José Alberto, Rosângela, [eu ficaria aqui na cronologia], Ângela e Adriana.


[José Ailton Santos]