Henry
David Thoreau afirma em seu ensaio originalmente chamado, Resistência ao
Governo Civil, [onde este texto bebeu até cair] que o melhor governo seria
aquele que de modo absoluto não governa. E segue afirmando de modo profético
que, quando os homens estiverem preparados, este será o modelo de governo que
terão. Thoreau é considerado o criador dessa forma de protesto, que, de forma
bem sucedida, foi usada por Mahatma Gandhi no processo emancipatório da Índia e
Paquistão. E a partir desse momento ganhou um novo conceito tipológico, sendo
conhecido como, princípio da não violência.
Mas,
vocês devem se perguntar, o que o vinho tem a ver com a água? Respondo, a
depender da sua fé, um pode ser o outro e vice-versa. Todo governo é uma conveniência
e, como tal, vez por outra, se torna inconveniente. Como meu leitor é questionador,
deve estar me perguntando, como se dá essa inconveniência? E fazendo uso da maiêutica
socrática, devolvo a pergunta, há algum indício da vontade dos cidadãos nas
ações dos governos [doravante, vou substituir esta palavra por prefeitos]? Para
quem, de fato, esses governam?
Enquanto
pensam nas respostas, vou falando o que penso. Caso a população possuísse o poder
– falo de forma concreta, não me venham tergiversar - de julgar os gestores
públicos, que exercem mandatos eletivos, e emitir sentenças, suponho que esses
gestores seriam, em sua maioria, condenados. Pois, se julgarmos levando em conta
os efeitos das ações desses e não apenas as intenções declaradas, esses
mereceriam os piores castigos. Calma, leitor! Não intento, com minha sentença,
por fim aos gestores municipais. Mas, não nego, é bem verdade que anseio por um
governo melhor do que esses, que aí estão. Olhem para sua cidade, qual a diferença
existente entre o anterior e o atual gestor? Antecipo-me, a diferença reside,
tão somente, nas caras e bocas, essas por sinal, ávidas pelos melífluos do
poder.
Como
estou cônscio que um prefeito que atenda aos anseios dos munícipes, ainda não
habita na Terra, desejaríamos ao menos, que os atuais deixassem que cada homem
pudesse escolher livremente – sem as velhas interferências psico-financeiras – o
modelo de gestão e prefeito que mereça nossa reverência. Pois, se isso ocorresse
ou vier a ocorrer algum dia, estejam certos que o tipo de prefeito idealizado
por muitos [o qual compartilho], se encontraria em processo de gestação.
Você
deve estar me rebatendo agora não é mesmo? Dizendo o seguinte, esse camarada é
um pessimista, que não é capaz de perceber que as leis estão mudando e prefeitos
como os conhecidos no presente, são espécies em extinção. Convido todos os são-paulinos
a baterem palmas comigo, palmas para este monstro do otimismo e da sapiência humana. Palmas!
Palmas! Leis? Desafio alguém a me provar, que exista uma lei, uma só, que tenha
convertido homens desonestos no contrário? Que tenha convertido água em vinho.
Será que existe algum crente aí, que possa me apresentar um miraculum lex [milagre da lei] sem cair
no universo da ortodoxia?
Diante
da ausência de exemplos reais. Sigamos viagem por estas veredas. Não precisamos
de líderes de madeira, vazios de princípios e de caráter. Não precisamos também
de homens que nos sirvam de maneira amputada, apenas com seu intelecto, sem o
envolvimento espiritual e afetivo. Os municípios sergipanos, quiçá do Brasil,
precisam de prefeitos que sirvam a comunidade nos moldes do que declarou Artur
Shopenhauer, é preciso encontrar políticos que vivam PARA a política e não DA
política. Afinal, esses sim serviriam aos nossos propósitos, pois não se sujeitariam
a serem feitos de tecido, linha e palha.
Todavia,
por onde devemos começar, pela mudança dos gestores ou da maneira com fazemos
política? Há meios de um homem entrar para a política do seu município sem
desonra? Sem mácula de caráter moral e principiológico? Como será possível a um
candidato, de caráter duvidoso ou não, que fez uma campanha alicerçada em
alianças e favorecimentos mal intencionados, fazer uma boa gestão? Respondo previamente,
que este candidato não será eleito sem desonra.
Desta
forma, não podemos criticar o eleito se este foi vencedor com o nosso voto e
apoio. Não posso querer curar-me de um mal causado por mim mesmo. Diz os
antigos boticários, que a diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem
a ser aplicada ao problema, logo, precisamos encontrar a medida certa, a pessoa
certa, para extirparmos o mal que consome lentamente a vida do organismo vivo [o
corpo social].
O
avançar do mal torna este nosso dever ainda mais urgente. Pensando racionalmente,
o problema não se resume apenas, a saber, se existem pessoas tirando proveito
do dinheiro público - que serviria para ajudar na educação, saúde... da
população mais necessitada -, o problema maior é saber que este câncer se
desenvolve a sombra dos nossos cuidados, no jardim da nossa casa, inclusive, continuamente sendo regado
por nós.
Como
outrora fui cobrado por não expor soluções, segue uma, nós cidadãos devemos
resistir aos ganhos aparentes do câncer político, que se desenvolve em cima da
nossa fraqueza moral, ainda que, isso custe nossa vida, pois, só assim,
mudaremos esse quadro terrível de miséria humana, moral e ética. Ou continuaremos
como afirma thoreau, andando continuamente como um indivíduo que pratica ato
sexual por dinheiro, bem vestido, que se preocupa com a aparência física,
enquanto arrasta a alma pela sujeira e imundície da vida.
Por ora, falo por mim, malo mori quam foedari*
* Antes morrer do que desonrar-se.

Bom dia Camarada, eu espero que minhas colocações possam contribuir. Quanto à extensão do texto e as provocações, são realmente para nos levar a refletir sobre o nosso papel e posição enquanto formadores de opiniões. Minhas postagens, parte do conhecimento armazenado na mente de um sonhador, devaneios que busca dar vazão a sentimentos inerentes, aos valores daqueles que sofreram e sofrem na pele, as dores de estigmas; superados por um sentimento incansável de superação, que é capaz de nos fornecer a emancipação como prêmio.
ResponderExcluirInicio minha contribuição virtual a cerca dos seus devaneios, citando um conterrâneo: "A História de Sergipe e a História do Brasil não são fatos distintos, antitéticos, excludentes. Não existe o todo sem a parte. Não existe a parte sem o todo". Camarada, é alinhado com as reflexões deste sergipano esquecido, Ariosvaldo Figueiredo, aonde encontro as pedras que auxiliam na construção das minhas certezas e incertezas, ambos os frutos da constante busca por explicações para as dúvidas a cerca da gritante inversão de valores presentes no campo político. Ser verdadeiro no tocante a discordar da prática ou do modelo, como somos, enquanto sociedade, escravizados, veladamente por estes descendestes dos parasitas colonizadores, como se refere Manoel Bomfim, outro importantíssimo intelectual sergipano, também esquecido por sua terra, mas, muito bem lembrado por Darcy Ribeiro, no início do prefácio da obra: A América Latina & Males de Origem. É assinar nota de culpa, ou seja, sentenciar-se: postura quase singular entre a grande maioria dos gestores públicos que não tem compromisso com o povo, mas sim com o bolso dos seus, já que o crescimento financeiro não é somente do executivo mais também dos que o auxiliam, e que, quase sempre não pertencem ao povo, às escolhas quase sempre não são por competência. Muitas vezes é preferível aceitar a dissimulação e de forma astuta colaborar para engrandecer esta infindável colcha de retalhos, fortalecendo medidas paliativas e assistencialistas, capazes apenas de dar o mínimo como colaboração aos menos abastados, mas, o suficiente para a manutenção desta minoria dita cidadãos de direitos, mas não de fato, já que continuam a reproduzir a mão de obra necessária à manutenção desta plêiade, que há muito, vivem de explorar nossa ignorância, digo nossa enquanto povo. Acredito estarmos buscando com maior rapidez, aprender a superar, agindo como verdadeiros disseminadores das verdades ocultas, camufladas em determinadas ações, agindo como pessoas mais esclarecidas e com certeza colaborando para nos tornamos cidadãos melhores: exemplo a criação deste espaço, desta comunidade e de alguns projetos que tramitam em nossas mentes e que passam a tomar forma quando sensibilizamos outros a acreditar que é possível seguirmos em frente; isto é inquestionavelmente transformação. Com tão descarada desvalorização do modelo politico e mesmo assim estes se mantem direcionando os rumos da nossa sociedade, o que esperar desta categoria, como medida que auxilie a independência do povo? É claro, que nunca iremos poder contar com esta pequena e dominante parcela, inclusive com os seus filhos para nos auxiliar, como representantes políticos.
Esperar que alguém que nunca vivenciou o mundo carente dos excluídos possa agir com sensibilidade e transformar esta atual realidade, seria no mínimo inocência ou ingenuidade. Se estes não pertencem a esta categoria “povo” e como os nossos representantes em sua grande maioria pertencem à classe dos mais afortunados, como consequência, estaremos em grande desvantagem na luta por reconhecimento e abertura politica. Digo isso, partido de um conhecimento anacrônico, a cerca da história política do nosso Sergipe, algo que não difere do restante do Brasil. O que procuro fazer é valorizar ao máximo, ações como esta que estamos encampando, mesmo divergindo em alguns momentos, mas acredite, tentando aprender a colaborar com este estado democrático de direito, quero acreditar... Includente, porém, sem perder o foco das minhas convicções, mas, vivas. Compreendendo que "As verdades que a maioria proclama são verdades de tal modo velhas que já estão decrépitas. Ora, uma verdade velha, assim, está no ponto de se transformar em mentira. Nenhuma sociedade pode viver nutrindo-se de verdades mortas”. Manoel Bomfim, apud Henrik Ibsen. Neste contexto e diante destas formas ultrapassadas de fazer politica pública, prefiro coadunar com Aristóteles, referindo-se a seu mestre Platão "É preferível à verdade que amigos". Partindo destas premissas consistentes e verdadeiras e conhecendo nossa história de transformação, aos poucos conseguiremos transformar esta realidade em dias de glorias. .
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirComentário enviado para meu e-mail por uma colega.
ResponderExcluirParabéns pelo escrito intutulado "O melhor governo e o que menos governa". Demonstra que não é apenas um na multidão, mas que acompanha o que ocorre no mundo, principalmente em Sergipe. Gosta de POLÍTICA como um partidário fervoroso, mesmo não tendo apreço por nenhum partido.
Congratulações também por se preocupar pelo bem comum.
No mais, agradeço pelas leituras.
Abraço,
Cláudia Carvalho.