quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

DOSTOIÉVSKI



Pensei que desejava ser rico,
mas, não era desejo d’alma.

Sonhava em comer, beber...
Tudo em abundância.
Todavia, uma paixão me basta.

Os sonhos de outrora,
não os quero mais.
Afinal, para que servem os sonhos,
senão para afastar os homens de si mesmo.

Uma rapariga linda e formosa!
Era o que mais desejava.
Mereço todos os castigos 
dos crimes que não cometi
Crime e Castigo 
faces [de uma mesma moeda]

Saudaçoes de um amigo
que teima em não se tornar bolorento,
Ailton.



Contudo, queres a verdade,
nem todas as mulheres,
[eram-me suficientes]
Volição: sexo, poder... liberdade!

Flores que caem, já é outono.
Desejo, agora, uma xícara de chá,
amargo de preferência,
quem sabes assim,
afasto de uma vez esses demônios.
Recordações da casa dos mortos 

Respiro longamente, silencioso...
Os amores? Nunca os tive de verdade.
Apenas, convenções, conveniências.
E, uma vida contingenciosa.
O frio siberiano corrói a mente 
petrifica a alma
e amoxicilina as paixões  

Ah! Quanto à vida,
não mais existe.
E se queres me encontrar,
procure-me, talvez, nas ruínas de uma grande dor.


[José Ailton Santos]

2 comentários:

  1. Fiquei pensativo, tentando compreender ou até quem sabe encontrar o que levou Nietzsche a se sentir tão seduzido, identificado com os escritos de Dostoievski a ponto de denominá-lo como um dos poucos pensadores livres. Seria a presença constante da duvida em seus escritos? Ou seria a aceitação do real em detrimento a este imposto mundo ideal? Estaria Dostoievski convicto de que as coisas deste mundo bastariam? melhor os carinhos de uma bela rapariga e o saborear de um refinado vinho a viver iludido, acreditando nas falsas ilusões depositadas no além. Quem diria que estamos presos a este mundo, depositar esperanças no transcendente seria fugir desta vida em que nada existe que não tenha que passar por ela. Teria Dostoievski descoberto que vive melhor o homem que deixa seu corpo se pronunciar? Melhor seria ceder aos instintos, ou melhor, as pulsões do corpo, algo real em detrimento de uma matéria caótica, que na verdade nos escapa totalmente, encontrando sustentação apenas neste dito, mundo ideal. Estaria Nietzsche seduzido pelos escritos que em muito se assemelham a sua forma de ver este mundo, que em tudo é marcado pelo poder dos supersticiosos que a todo instante busca de varias formas castrar a liberdade dos libertos? Ou será que existe uma má interpretação por parte do filosofo quanto à escrita do poeta, “É preciso amar não só por um instante, casualmente, mas sempre até o fim”. Creio que se assim o fosse o poeta não teria enunciado a morte de Deus para em seguida Nietzsche a confirmar, afirmando que: "Deus morreu". Gostaria de encerrar minha participação indagando ao autor da poesia, qual sua semelhança com ambos os pensadores? Visto suas poesias estar sempre exalando este ar de independência do corpo, das coisas do mundo, do palpável, inteligível em detrimento do transcendente. Parabéns pela profundidade do texto. Acredita existir espaço para minha analise?

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  2. Dostoiévski é meu escritor preferido. "Crime e Castigo" e "Recordações da Casa dos Mortos" são dois clássicos da literatura universal. Se ainda não o fez, sugiro que leia: "Os Irmãos Karamazov", "O Eterno Marido", "O Jogador" e "Noites Brancas". Parabéns pela poesia.

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