Diria os mais ingênuos e socialmente respeitáveis que a vida é uma coisa maravilhosa ou que é um presente de Deus aos homens, ou ainda, como dizia o poeta “ela é uma doce ilusão”. Todavia, desconhecem estes doutores do saber, que a mesma é um conceito muito amplo e que admite diversas definições, inclusive, definições pouco agradáveis. Biologicamente, e de modo enxuto, Darwin diria que ela não passa do lapso entre a concepção e a morte de um organismo.
Mas, aos olhos de um modesto pensador [ou
seria pensador modesto], a vida nada mais é do que um ato de covardia. Explico melhor, quando alguém atenta contra
outro pelas costas, não dando ao mesmo, condições de defesa, não denominamos
este ato de covardia? Então, de forma semelhante, somos jogados no mundo sem
direito de escolha, sem ao menos sermos consultados se queremos a vida, sem ao
menos podermos discutir as condições com as quais teremos que viver. Além desses
aspectos apontados, há o inconveniente de quando estamos no melhor da festa
[olha aqui mais um conceito para a vida] somos despertados pela algidez da
foice da morte, isso quando não somos interrompidos antes mesmo de nascer.
A verdade, ou aquilo que entendo como
verdade, é que não há espaço para conceitos nem opiniões. Sequer sabemos como e
onde tudo começou, ou ainda, de onde viemos? Qual o propósito? Onde estávamos antes
do começo e para onde vamos depois do fim? Argumentos há em demasia, teorias
são várias, mas não passamos disso, nem um passo além das fantasias socialmente
aceitas. Nada sabemos ao certo, salvo os religiosos dogmáticos.
As certezas tornam-se dúvidas e o mesmo
poeta, vez por outra, muda de opinião e diz, “ela é maravilha ou é sofrimento,
ela é alegria ou lamento”. Mas, certo só as surpresas, o imprevisível, os bons
e ruins momentos. Cansado de seguir as borboletas, o modesto pensador sentou à
sombra de uma árvore e ressonou longamente. Despertou com um passarinho azul
feito arauto declarando que a vida era uma tarde chuvosa, onde o Sol por mais
que desejado, teimava em não aparecer.
O poeta, neste instante, lembrou-se da
aula, com a sala vazia, que tivera com Arthur Schopenhauer na Universidade de
Berlim, quando este falava sobre o homem e a vida. Falava o professor que a vontade
humana inexiste, e, ainda que se tentem atribuir causalidade as ações humanas e
a vida, o que existe é um impulso de preservação. Nada na vida reflete a
vontade humana, daí viver não passa de sombras de uma volição distante, seria algo comparado as sombras do mito platônico da caverna.
Se a vontade que julgava ser minha é
resultado de uma vontade prévia e alheia, a quem pertence o sentimento
adquirido na vivência com outras pessoas? Qual a relação do tempo com esse fenômeno?
Qual a razão de tanto esforço humano? Para que acumular riquezas, amores, se no melhor
da festa não poderemos beber uma última taça. Decididamente, não quero a vida e
sim a morte, contudo, antes de morrer pedirei a Soren Kierkegaard explicações sobre a morte.
Certamente, a esta altura, o poeta está
bêbedo, o louco pensador curou-se da loucura e o leitor abandonou o texto, pois
se não sabemos o que vem a ser a vida, quiçá a morte. Respondo, a vida pode ser
uma infinidade de cousas como ficou claro nos diferentes conceitos. Mas, e a
morte? A resposta vem em seguida, a morte é um punhal e, como tal, só fere e sangra a carne, mas é incapaz
de penetrar na alma humana.
* Este texto é uma adaptação das ideias expostas a mim por meu muy amado primo, Ângelo Aragão.
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Este texto me fez pensar o quanto Erasmo estava correto quando descreve em sua obra “elogio da loucura” o quanto os homens são ingratos e negligentes com a mais importante das Deusas, a loucura. Porque buscar mecanismos para compreender a vida se esta deusa pode evocar vários súditos em nossa defesa e assim nos auxiliar na compreensão de uma vida sem exigências, não devemos esquecer que a vida nada mais é do que um faz de conta em que a mãe loucura nos manipula como desejar. Melhor cultuarmos a ela e assim quem sabe superar tanto a vida quanto a tão temida morte, já que foi através de um ato de loucura que Titão conseguiu a imortalidade, graças à intervenção da louca da esposa junto a Zeus. Imaginar o decurso da historia da humanidade esquecendo de enaltecer esta importante deusa seria negligenciar a existência da espécie, imaginar que por força da loucura Eva e Adão deu inicio a um novo mundo, Moises matou aos seus e o próprio Cristo transgrediu para que pudéssemos eleva-lo a atual condição de grande bussola da humanidade, vejam que não é preciso muito para vencermos a morte e superamos esta convenção chamada vida, o importante é ser louco e assim poder se deliciar com um cálice de nepente ao lado de Como para em seguida cair nos braços de Morfeu e acordar radiante ao lado desta indispensável Deusa.
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