Superada a fase das indefinições, optou-se por dar sustentação ao governo. Daí, os líderes sindicais entraram numa espécie de estado de indiferença a cerca das questões de impacto sobre a vida da classe trabalhadora. Sem dúvida, esse foi um período de grande desgaste dos sindicatos com suas bases, pois essas estavam sendo dissuadidas que o momento era delicado e que seria um risco "ir para cima do governo". Afinal, a classe dominante do país estava alerta e à espera de um deslize do governo federal para encabeçar um movimento de destituição do mesmo.
Ledo engano, o tempo mostrou que estes sindicalistas estavam errados a cerca da ideia de atrelar a classe trabalhadora como se esta fosse "correia de transmissão" do governo, quando na verdade, deveriam era usar a força do movimento classista para pressionar este mesmo governo para votar as reformas politicas e sociais urgentes para o Brasil e para a "classe-que-vive-do-trabalho". Daí, enquanto o movimento sindical silenciava e perdia espaço nas mobilizações nacionais, a classe dominante sufocava o governo exigindo o atendimento dos seus interesses imediatos, a saber, elevação dos incentivos fiscais, auxílios financeiros, et cetera. Esse fato obrigou o governo federal a estabelecer alianças políticas para manter a governabilidade, ao passo, em que descaracterizava seu projeto de governo inicialmente traçado, com foco na classe menos favorecida.
A partir dessa correlação de forças que se estabeleceu, o governo ficou sem o apoio popular necessário para encaminhar e aprovar no Congresso Nacional as reformas, as quais o Brasil necessitava e continua necessitando, urgentemente, para crescer economicamente e tornar-se uma nação socialmente mais justa. Dentre as reformas, cito a política, tributária, sindical e, por que não citar a quase esquecida, a reforma agrária, dentre outras. Enquanto isso, as centrais abandonaram as lutas e deixaram de cobrar da forma devida do governo, fato esse, que nunca deveria ter acontecido, pois gerou um desequilíbrio na correlação de forças em atrito historicamente no país.
Por conseguinte, houve redução nos gastos públicos e perdas de direitos sociais, compensados com paliativos econômicos - de caráter assistenciais - concedidos pelo governo - que historicamente combateu esta pratica - com fins, exclusivamente, eleitoreiros. Esta manobra do executivo, inclusive, fora interpretada equivocadamente por muitos lideres sindicais como privilégios sociais, numa clara demonstração de erro de condução, ao fazer opção pela sobreposição da política partidária sobre o movimento trabalhista, retirando deste sua autonomia e a força de agente de transformação social. Esta situação para alguns analistas, além de ter adiado, desestabilizou aquilo que seria o início de uma caminhada rumo ao Socialismo ou ao que se poderia chamar de democratização social.
Fato é, que a maioria dos sindicalistas ao optarem em dar sustentação ao governo atrelando os sindicatos e as centrais aos partidos políticos, proporcionaram retrocessos gratuitos à classe trabalhadora. É preciso deixar claro que a relação entre partidos e entidades de classe deve ocorrer, porém deve haver a independência de ambos e sem atrelamento de um ao outro. E, no segundo governo Lula, quando se esperava uma mudança de postura, o que se viu foi um aprofundamento dos erros do primeiro governo, ou seja, os dirigentes sindicais que foram cooptados, num primeiro momento, para o alto escalão do governo sem a devida reserva, instantaneamente, retirou a possibilidade dos sindicatos prepararem novas lideranças para continuar conduzindo o movimento. Foi um tiro no pé dos trabalhadores.
Dessa forma, relegou o sindicalismo ao amadorismo de pessoas bem intencionadas, porém sem habilidade para dialogar com as bases, com os patrões e com o próprio governo. E, por fim, diante desse quadro, a quem coube a tarefa de "partir para cima do governo"? A tarefa ficou a cargo dos partidos de oposição, alguns nanicos, outros de grande envergadura, contudo sem credibilidade e desgastados e, por último, centrais sindicais sem grande expressão junto a sociedade e a classe trabalhadora. Oposição está, que, possivelmente, só ocorreu por conta da ausência de espaço no alto, médio e baixo escalão do governo para acomodar a todos, logo, sem carinho na cabeça e tapas nos ombros, esses ficaram batendo nos pés do gigante no intento de chamar sua atenção.
Consequentemente, se estabeleceu entre os líderes sindicais, que por sua vez, eram militantes históricos ligados ao partido no poder [ou seria mais acertado partido no governo], uma corrida em direção as tetas do governo, que, diga-se de passagem, abundam regalias. A pergunta que se fiz na ocasião, nas raras oportunidades que tive, e que a faço novamente é a seguinte, como não cair no casuísmo de taxar esses militantes de traidores? Como não tratá-los como pessoas que mancharam suas histórias de lutas, em troca de vestir ternos de grifes e se trancarem nos gabinetes da burocracia, tudo negociado tendo os trabalhadores como moeda? Agora, deixo minha última pergunta, será que o equívoco conduziu o movimento sindical ao oportunismo ou este precede aquele?
.jpg)
Nenhum comentário:
Postar um comentário