terça-feira, 7 de maio de 2019

NADA A PAGAR NEM A RECEBER

Ouça o que te digo!

Hoje, exatamente hoje,
não faço lamúria por nada:
que perdi
que sofri
que errei
que ganhei.

Aplausos e vaidades
não me aprisionam,
venci o labirinto de Dédalo*.

Compreendi,
que bons e maus bocados
são transitórios,
não se deve vangloriar
quando a mesa está farta
nem maldizer a vida pela fome.
Coma, quando houver o que comer
e faça jejum, quando escassear,
ambos vão passar.

Não busco saciar minhas paixões 
nem ser submisso as paixões alheias
não serei prisioneiro de mim
nem aceito submissões. 


Absolutamente,
tudo que vivi:
as pessoas
os prazeres
...
o mal e o bem
que me quiseram.
Hoje, a tudo sou indiferente.

Alerto,
a quem eu fiz chorar
e ainda aguardam desculpas,
esqueça!
Busquem outras árvores
para cravar iniciais.

Exorto,
a quem me magoou:
- não olhe para trás,
toque o enterro adiante,
incinerei as lembranças
e as cinzas estão à sete palmos.
Tudo reduzido a zero.

Quer saber?
Dane-se o passado,
seus ensinamentos
e todos que dormem abraçado a ele.
O hoje é um eterno acerto de contas
e sigo caminhando com ele.

Nos bolsos,
não trago nem levo nada
não dou nem recebo troco.
Quanto ao amanhã,
seguirei a marcha a favor dos ventos.

Ao fim da estrada,
não me preocupa onde vou dormir,
se em castelos ou em palhoça,
desde que haja calor no interior.





*DÉDALO - Na mitologia grega era um homem muito inteligente, além de ser inventor e construtor do labirinto que o rei de Creta, Minos, havia ordenado a construção para que servisse de prisão para o Minotauro, filho da esposa do rei com um touro por quem havia se apaixonado. Certo dia, Dédalo revelou o segredo do labirinto e o rei zangado mandou prender a ele e ao filho no cárcere que o inventor planejara.


José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe, Pós Graduado pela Faculdade Pio X em História do Brasil, Graduando do curso de Administração de Empresas pela UNIT, ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela ANBIMA, blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].





11 comentários:

  1. Amigo, parabéns! Que conselhos bons! Era tudo que necessitava ouvir. 👏👏👏👏 Bravo!

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  2. Parabéns, amigo! Notável escritor!

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  3. Parabéns meu amigo! 👏👏🙌🙌✍

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  4. Excelente!😍 Parabéns!👏👏👏 Sucesso!🙌🙌🙌

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  5. Irmão,Parabéns!
    Gratidão pelo lindo texto.Após a leitura me senti renascida.Deus abençoe sempre.Amo você

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  6. Eis a revelação do segredo de como viver bem... parabéns, mester Ailton

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  7. Ninguém melhor para retratar os anseios e angústias que caracterizam o ser humano do que o poeta, somente este parece compreender as profundezas da mente que insiste não ser reveladas aos homens comuns. Como apagar da memória os encontros e desencontros que deixam cicatrizes e viver o hoje sem as marcas do passado que insistem em projetar parte do futuro sem ser um poeta?

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  8. Seu poema tem uma grande conexão (intertextualidade) com a canção de "Je Ne Regrette Rien" de Édith Piaf:

    "Não, Eu Não Lamento Nada
    Não, nada de nada
    Não, eu não lamento nada
    Nem o bem que me fizeram, nem o mal
    Isso tudo me é igual
    Não, nada de nada
    Não, eu não lamento nada
    Está pago, varrido, esquecido
    Não me importa o passado
    Com minhas lembranças
    Acendi o fogo
    Minhas mágoas, meus prazeres
    Não preciso mais deles
    Varridos os meus amores
    Com seus tremores
    Varridos para sempre
    Recomeço do zero
    ...

    Pois minha vida
    Pois minhas alegrias
    Hoje
    Começam com você".

    Mas também, traz a lembrança de um poema de Fernando Pessoa...Autopsicografia:
    "O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente.

    E os que lêem o que escreve,
    Na dor lida sentem bem,
    Não as duas que ele teve,
    Mas só a que eles não têm.

    E assim nas calhas de roda
    Gira, a entreter a razão,
    Esse comboio de corda
    Que se chama coração."

    Suassuna dizia que ser poeta é muito bom, pois não há obrigação nenhuma com a veracidade, pode-se mentir à vontade. Pensei que vencer o labirinto significasse ser Teseu, mas, analisando melhor...vejo que é ser o próprio Dédalo: "o homem asfixiado nas limitações da liberdade saciada".

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    1. Saudações, Priscila.

      Comentários sempre ricos, belos e certeiros. Há todos esses sentimentos e impressões presentes no texto, Piaf, Pessoa, Suassuna, Bernardo Guimarães (o seminarista e escrava Isaura), Aloísio Azevedo (cortiço), Dostoiévski (crime e castigo, recordação da casa dos mortos), textos bíblicos (em especial os apócrifos), mitologias... diálogos com familiares, amigos e pessoas. Meus textos são uma colcha de retalhos às vezes com cores vibrantes e outras com cores opacas e tristes.

      Forte abraço e que Deus te conceda saúde e sabedoria.

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