segunda-feira, 20 de maio de 2019

ACASO




Minha respiração ofegante 
denunciava meu atraso,
não fosse isso,
seria fácil notar meu destempero.
Não esperava encontrá-la.

Ainda que por um instante
fitei meu olhar no dela
nos saudamos sutilmente e segui adiante.
Apesar do atraso
havia poucos lugares ocupados.
Procurei o assento mais distante
do lugar provável onde sentaria
para quem sabe assim, me recompor
e admirá-la com minuciosidade.

Para meu espanto 
e desordem cardio-respiratória
ela percorreu em diagonal 
toda extensão do ambiente
e veio acomodar-se  
justamente
ao meu lado.

captávamos no ar, 
ouvíamos nas ondas,
olhávamos na retina,
percebíamos na  pele,
mucosas e vísceras.

Ao final do evento,
nos erguemos aplaudindo...
o tempo se dissipou
e com ele o paladar,
que não foi sentido.

Sentia-me uma criança,
que tendo muitos biscoitos
os distribuí sem egoísmo
porém, percebendo que se escasseiam
morde os últimos aos poucos
e os esconde de tudo e todos.

Minha alma apressada questionou,
quando a encontrarei novamente?
O olhar distante, de quem parte saudosa,
respondeu cheio de incertezas.
Em breve.





José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe, Pós Graduado pela Faculdade Pio X em História do Brasil, Graduando do curso de Administração de Empresas pela UNIT, ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela ANBIMA, blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].


quinta-feira, 9 de maio de 2019

OCEANO


Olhou-o em profundidade
lembrou da adolescência
e de quão encantador lhe parecia
ainda impressionava-se com a vastidão.

O oceano era a muralha
que gradeava a paixão dentro de si
o imaginário fastuoso da outra margem
era mais tentador que a maçã edênica
todavia, diferente de Eva, não mordeu.

Uma vez, passeou nas ondas de jangada
uma luz vivaz irradiava da face
semblante elevado e lábios elásticos
sorria, sorria, sorria...
peristalticamente.

Comedida pensou:
se a embarcação não suportar as ondas?
se os ventos rumarem em direção distinta?
se não houver lugar na outra margem para mim?
se, se, se's... incertezas e dúvidas.

A embarcação se foi
e com ela outros tripulantes.

Sentou na areia
e se viu cada vez menor no horizonte.
As ondas vinham e lhe estendiam a mão
contudo, cruzou os braços hesitante
queria e temia, feito gelo e fogo
o silêncio espiritual habitou.

Foi morar longe do mar
cresceu em casa com jardim
chegou a pensar que amava as flores
que tinha aprendido a sorrir com elas
porém, à noite, a visão ressurgia
a paixão pela imagem feérica da outra margem.
Fogueira em chamas.

Queria entrar no oceano:
sem roupas 
sem hesitação
sem embarcação
sem medo de afogamento...
nadar com braçadas largas
nadar toda distância com um fôlego apenas
ter uma visão clara da outra margem.

Ao crepúsculo do dia
correu para o oceano
pôs os pés nas águas,
girou e pulou feito criança
cantou e dançou
sorriu, sorriu...
íntima e profundamente.

As lembranças da embarcação
as lembranças do passeio entre as ondas
as lembranças do cheiro do mar
as lembranças do marinheiro.
Nostálgica, chorou.

Ao cair da tarde,
de volta ao jardim,
não via mais o colorido das flores
apenas, um impulso recorrente
"a travessia do oceano".
As águas invadiam o ser por inteiro
angustiada, sufocada...
temia afogar-se em devaneios,
o sonho recorrente passou dos limites.

Mudou-se de casa e foi morar no sítio 
voltou a cultivar flores, convidou as abelhas
e voltou a sorrir, até que em algum dia
a outra margem te convide novamente
a fazer a tão sonhada travessia.






José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe, Pós Graduado pela Faculdade Pio X em História do Brasil, Graduando do curso de Administração de Empresas pela UNIT, ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela ANBIMA, blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].



terça-feira, 7 de maio de 2019

NADA A PAGAR NEM A RECEBER

Ouça o que te digo!

Hoje, exatamente hoje,
não faço lamúria por nada:
que perdi
que sofri
que errei
que ganhei.

Aplausos e vaidades
não me aprisionam,
venci o labirinto de Dédalo*.

Compreendi,
que bons e maus bocados
são transitórios,
não se deve vangloriar
quando a mesa está farta
nem maldizer a vida pela fome.
Coma, quando houver o que comer
e faça jejum, quando escassear,
ambos vão passar.

Não busco saciar minhas paixões 
nem ser submisso as paixões alheias
não serei prisioneiro de mim
nem aceito submissões. 


Absolutamente,
tudo que vivi:
as pessoas
os prazeres
...
o mal e o bem
que me quiseram.
Hoje, a tudo sou indiferente.

Alerto,
a quem eu fiz chorar
e ainda aguardam desculpas,
esqueça!
Busquem outras árvores
para cravar iniciais.

Exorto,
a quem me magoou:
- não olhe para trás,
toque o enterro adiante,
incinerei as lembranças
e as cinzas estão à sete palmos.
Tudo reduzido a zero.

Quer saber?
Dane-se o passado,
seus ensinamentos
e todos que dormem abraçado a ele.
O hoje é um eterno acerto de contas
e sigo caminhando com ele.

Nos bolsos,
não trago nem levo nada
não dou nem recebo troco.
Quanto ao amanhã,
seguirei a marcha a favor dos ventos.

Ao fim da estrada,
não me preocupa onde vou dormir,
se em castelos ou em palhoça,
desde que haja calor no interior.





*DÉDALO - Na mitologia grega era um homem muito inteligente, além de ser inventor e construtor do labirinto que o rei de Creta, Minos, havia ordenado a construção para que servisse de prisão para o Minotauro, filho da esposa do rei com um touro por quem havia se apaixonado. Certo dia, Dédalo revelou o segredo do labirinto e o rei zangado mandou prender a ele e ao filho no cárcere que o inventor planejara.


José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe, Pós Graduado pela Faculdade Pio X em História do Brasil, Graduando do curso de Administração de Empresas pela UNIT, ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela ANBIMA, blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].





quarta-feira, 1 de maio de 2019

PRIMEIRO DE MAIO, FAXINA DOMÉSTICA E A MORAL DA HISTÓRIA



Aparentemente hoje é um dia comum, tal qual os outros, diferente dos demais apenas por ser um dia representativo [dia do trabalhador] e por significar uma pausa na minha vida dinâmica. Acordei cedo, como não tinha que ir trabalhar, afrouxei o rigor da rotina cotidiana cronometral e resolvi fazer uma faxina na casa, ou seja, pôr algumas coisas no lugar, arrumar aqui, retirar poeira dali, higienizar o ambiente jogando no lixo coisas que achava que podia precisar, porém nunca busquei para nada. 

Em meio a preguiça típica da data [feriado], quis esmorecer na tarefa, talvez, porque soava melhor assistir um filme, ouvir música e beber umas cervejas, sair sem destino. Um pensamento reptiliano [herança dos ancestrais que poupavam energia por não saber quando iam comer novamente] invadia minha mente na intenção clara de deixar tudo como estar. Aproveitei a oportunidade e fiz da atividade de faxina doméstica um momento de aprendizagem e desenvolvimento pessoal. Moral, se você não for valente e tiver um propósito forte, não vai conseguir concluir o que planejou, pois o convite ao fazer nada é poderoso. 

O que uma simples faxina tem a ver com nosso desenvolvimento pessoal? Acreditem, tem mais do que aparentemente parece. Acompanhem o desenrolar da narrativa e perceba você mesmo. Parei e pensei: - se ficar imaginando como vou limpar toda a casa, o trabalho que vai dar, não vou concluir essa atividade nunca. Mas, ao invés de pensar no todo, foquei nas partes; limpei a garagem, depois o quarto e o banheiro, depois outro e outro e outro, e, por fim, a casa estava limpa e o ambiente leve. Moral, se deseja algo grandioso, comece pequeno, pois até Deus construiu o mundo por partes.

Enquanto limpava a casa, notei que havia uma teia de aranha em um dos cômodos, que havia isolado para evitar mais desordem no ambiente. Fiquei observando a engenhosidade, a textura, localização, dimensão da rede, como os fios foram tecidos com cautela e precisão... e notei que a aranha estava escondida à espreita, então, me peguei pensando: - e se não cair nada nessa rede como ela vai sobreviver? Peguei um inseto e joguei na teia, contudo não fiquei para observar o que aconteceria. Após concluir a limpeza de outros cômodos da casa fui até a teia para verificar o resultado. A aranha estava no mesmo lugar, porém a presa estava enrolada em uma espécie de colcha de linha semelhante a da teia. Moral, às vezes, precisamos agir mesmo sem ter a certeza do resultado, pois se não tecermos nossa teia não haverá alimento. 

Intrigado, peguei um inseto mais pesado e forte e joguei na teia, após ele rasgar a teia algumas vezes, devido o peso, coloquei ele com mais cuidado de modo que ficasse preso a teia. Observei que após o inseto se mover para se desprender da teia, a aranha rapidamente veio até ele e iniciou uma luta ferrenha para enrolá-lo, mas a presa resistia e tentava desfazer as amarras, fiquei ali por alguns minutos até que a aranha desistiu [o que imaginei] e voltou para o lugar onde estava a descansar. Voltei para meu ofício e minutos depois retornei para verificar o que houve, o que vi, o inseto forte havia sido todo enrolado pela aranha. Moral, se a tarefa parece árdua, faça uma parte, descanse e retome o trabalho, até que seja concluído.

Ao final da faxina doméstica, casa limpa, coisas no lugar, aranha e presas foram parar no lixo. Qual a moral, se você não cuidar da vida do mesmo modo que cuida da casa, a sujeira vai se acumulando, outros seres vão ocupando o espaço que deveria ser apenas seu e, por fim, tenha como certo que, uma vez a casa limpa, deve continuar a limpá-la, pois, no instante em que abaixar a espada a batalha será perdida.












José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe, Pós Graduado pela Faculdade Pio X em História do Brasil, Graduando do curso de Administração de Empresas pela UNIT, ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela ANBIMA, blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].

NÓS, SEM A CASCA


Quando se retira o poder
Quando se retira o exceder
Quando se retira o manto da soberba


Quando se extirpam as vaidades
Quando se extirpam as promiscuidades
Quando se extirpam as máscaras e maquiagens

Sem ornamentos,
Sem vestimentas: nos corpos, nos templos e nos comportamentos
Eis verdadeiramente o que sobra; quem somos


O que sobra é singelo e sublime
O que sobra é a nudez que não se reprime
Uma nudez que não é apenas poética
é bela e divina por ser a essência estética 




José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe, Pós Graduado pela Faculdade Pio X em História do Brasil, Graduando do curso de Administração de Empresas pela UNIT, ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela ANBIMA, blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].