quarta-feira, 10 de outubro de 2012

GREVISTAS! ATIREM A PRIMEIRA PEDRA!



Tornou-se lugar comum, na grande mídia,  apontar trabalhadores em greve ou mesmo o exercício deste direito - isso mesmo, direito! - como um problema social e de impacto altamente negativo, especialmente, para as camadas menos favorecidas da sociedade brasileira. Vale lembrar que a greve é um instrumento extraordinariamente poderoso - talvez, esse seja o centro da questão - no equilíbrio, ou seria desequilíbrio, das forças envolvidas no conflito que caracteriza as relações econômicas, sociais e trabalhistas. 
Por outro lado, diferente do fenômeno social que a greve representa, o seu exercício não pode ser confundido com o próprio direito em si, pois, enquanto o direito ao ato é simbólico, a sua prática representa a mais nítida manifestação de cidadania, sem olvidar do aspecto pedagógico que o ato atinge. Por conseguinte, se a greve de forma isolada representa a libertação da classe-que-vive-do-trabalho [para usar uma expressão de Ricardo Antunes em seu livro intitulado, Adeus ao trabalho: ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho], o seu exercício soa como transcendência.
Aqui, não me darei ao trabalho de contextualizar histórica e politicamente o cenário e os esforços empregados por muitos cidadãos brasileiros na conquista desse patrimônio do trabalhador – a greve. Afinal de contas, suponho ser do conhecimento de todos, se não em profundidade ao menos de ouvir dizer, os esforços e tragédias dispensados nessa conquista. E, no mais, não intento cansar o leitor tecendo uma colcha de retalhos das lutas e batalhas que precederam esta conquista social.
Mas, vejamos, onde é que pretendo chegar? Vou direto a questão que me motivou a escrever tal missiva. Conhecendo a realidade brasileira – não que a conheça tão bem, porém a julgar pelo que chega ao meu conhecimento – e de como inúmeros direitos, que são desconhecidos pela maioria da população, são negados, ignorados, interpretados e reinterpretados a luz do mais forte, ou seja, todos os recursos são disponibilizados para negar a classe-que-vive-do-trabalho direitos que lhes pertencem, ao que consta, tem garantias constitucionais, contudo, na pratica a realidade ecoa muito diferente, pois o direito de exercício necessita de endereço, sobrenome e credenciais.
Diante do exposto, fico um tanto quanto receoso, quando ouço, leio e vejo na grande mídia, seja ela local, regional e/ou nacional, alguns formadores de opinião [radialistas, jornalistas, políticos, empresários, intelectuais...] apontando a greve ou mesmo seu exercício como motivo, único e exclusivo, causador dos infindáveis transtornos que assaltam à população.
Esquecendo-se de discutir o outro lado da moeda. Por que não discutir com profundidade as razões que levam trabalhadores em todo o país, quiçá no mundo, a cruzarem os braços como forma de forçar uma negociação que atenue seus sofrimentos e minimizem a péssima qualidade como frequentemente é prestado alguns serviços de utilidade pública, a saber, educação, saúde, transporte, serviços bancários, telegráficos e de comunicação, além de outros.
Esses criadores de catástrofes sociais, que vêm na mobilização das massas um caos social, não enxergam [ou melhor, sabem o que fazem, porém tentam mostrar o contrário] que a tentativa de acabar com as greves é uma ação coordenada por uma aristocracia que tem como pressuposto a desigualdade essencial dos indivíduos, refiro-me a desigualdade em todos os sentidos.
A questão é que a greve não fica apenas no plano das negociações de categorias de trabalhadores, ela tem se mostrado um mecanismo de democratização das relações de poder entre as várias camadas da sociedade, gerando uma correlação de forças, que tem se apresentado eficiente ao incluírem na vida política, camadas sociais até então excluídas. Sendo mais objetivo, rompendo com um padrão de mando oligárquico e antiquado.
Aqui, reside o problema central que a grande mídia e seus sequazes tentam esconder da população, em uma tênue cortina de fumaça, quando tratam do direito de greve. O medo, o pavor, o temor, o receio claustrofóbico desse exercício de cidadania amalgamar as classes superiores com os elementos situados nas camadas inferiores, que até bem pouco tempo estavam marginalizados da vida política brasileira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário