quarta-feira, 7 de outubro de 2020

INTIMIDADES





 As melhores conversas,

os melhores toques [sutis e sensíveis],

os melhores beijos,

as mais doces frutas,

as mais perfumadas flores;

são as colhidas em seu jardim.


Saiba,

nunca anelei tanto alguém,

de tantas formas e maneiras,

como a ti.


Descruze os braços

e me aperte entre o peito.

Deixe-me ser:

o beija-flor no bailado,

o pássaro que canta na antemanhã,

o aroma exalado das pétalas 

[cravo e jasmin].


Descruze os braços

e não se esconda de mim,

a parte que protege em ti

[censora impiedosa de si]

é tão linda rosa, 

quanto as que brotam em seu jardim.


Então,

pare de se proteger,

permita-se cair neste abismo

e confie que estarei de braços abertos 

para te acolher.

Deixe-me ser o cultivador desse raro jardim.


E se em murmúrio

alegas que te faço suar,

mesmo longínquo de ti,

é porque sou metal em fundição,

enquanto você

é a temperatura que me põe em ebulição.


Bem diz o repente do cantador:

Quanto mais florido é o jardim,

mais íntimo é o jardineiro das flores;

ele as conhece em suas particularidades 

e elas o conhece:

pelos passos calmos,

pelo silêncio que acalma,

pelo som que sai dos lábios [assovio].




José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe [UFS], Pós-graduado pela faculdade Pio X em História do Brasil, graduando do curso de Administração de Empresas pela Universidade Tiradentes [UNIT], ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais [ANBIMA], blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão]

segunda-feira, 13 de julho de 2020

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE PESSOAS NO TRABALHO COM EQUIPES DE ALTO RENDIMENTO



A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE PESSOAS NO TRABALHO COM EQUIPES DE ALTO RENDIMENTO[1]




JOSÉ AILTON SANTOS
Graduando do curso de Administração de Empresas Bacharelado – EAD
UNIT - Universidade Tiradentes





RESUMO



O estudo busca demonstrar como a gestão de pessoas se ajustou para enfrentar as alterações ocorridas no início do século XXI nas relações e na natureza dos trabalhos, além de dar ênfase a importância da gestão de pessoas no processo de gestão dos trabalhos com equipes de alto rendimento. A metodologia utilizada foi de revisão bibliográfica e as questões levantadas em caráter de hipótese demonstrou que equipes com alto rendimento precisam de uma gestão especifica, que saiba como atenuar problemas e aproximar talentos em prol de objetivos comuns. Além desses aspectos, o estudo apontou como a gestão de pessoas pode contribuir para suprir eventuais carências entre os colaboradores e enfatizar aspectos positivos de modo a aproveitar melhor o potencial de cada um dos colaboradores pertencentes ao time. Destaca-se também as constantes mudanças ocorridas nos ambientes de trabalho, de modo ubíquo, e como elas têm ocasionado e aquecido discussões sobre o tema do alto rendimento nos diferentes setores de trabalho, bem como a gestão de pessoas colabora com a extração de resultados acima do normal nas equipes.

Palavras-chave: Gestão de pessoas; Trabalho em equipe; Alta performance.

INTRODUÇÃO

O presente artigo visa tratar da importância da gestão de pessoas para o elevado rendimento do trabalho das equipes, além de apontar elementos sem os quais a interação e alta performance não prosperaria. A partir do material pesquisado foi desenvolvido um olhar particular sobre a gestão de pessoas e sua interferência nos resultados dos trabalhos das equipes, sendo que o intento basilar deste texto é que as reflexões aqui postadas possam estimular outras pessoas, alunos, funcionários, empresários e empreendedores a desejarem aprofundar seus conhecimentos sobre o tema e seus impactos nos setores de trabalho e/ou nas atividades econômicas.
É notório que vivemos em um contexto que sinaliza o advento de mais um ciclo das revoluções técnico-científicas que atingiram o mundo no final do século passado e início deste, fortemente arraigada no uso do conhecimento como principal ferramenta, consequentemente houve uma profunda mudança no posicionamento das organizações em relação ao mercado. No mundo globalizado em que vivemos as empresas cada vez mais necessitam de rapidez e criatividade na solução de problemas advindos de seus processos e da incessante procura por tecnologias e produtos que satisfaçam os anseios de uma demanda em ascendência exponencial e que reduzam bruscamente os custos produtivos, mas que ao mesmo tempo, os harmonize com graus de excelência, de confiabilidade e qualidade.
Para atingir os objetivos acima mencionados, é primordial a atuação de equipes orientadas para resolver problemas e criar soluções, desenvolver estratégias e produtos. Cada vez mais é exigido que as equipes alcancem novos patamares, metas desafiantes sejam atingidas e que ainda mantenha acessa a chama da inovação. Por essas razões, as equipes – seu funcionamento e a interação entre seus membros – se transformam em temas de estudo, pesquisas e temas de interesse geral. Foi desse misto de temas que resultou o interesse para elaboração deste estudo acadêmico. Mas, o que é uma equipe de alto desempenho? Quais são os fatores e atributos que devem ser considerados durante a formação de uma equipe de alto desempenho? Como se formam, se mantém e se dissolvem as equipes de elevado rendimento?
Esse é um dos grandes desafios para as empresas. E o objetivo deste trabalho é apresentar um panorama, ainda que limitado, pois o tema é amplo e profundo, sobre como a gestão de pessoas é importante elemento para que as equipes de alto rendimento forneçam resultados acima dos normais. O presente trabalho está divido em três partes, a primeira onde será apresentado um ligeiro panorama das transformações que vivemos no início deste novo milênio, em seguida será elencado elementos que devem ser inseridos, estimulados e preservados nas equipes de trabalho para que esses atinjam elevado rendimento, e, por fim, como o alto rendimento das equipes tornam as empresas lucrativas, viáveis do ponto de vista do modelo de negócio e extremamente disputadas pelos futuros candidatos.

1 – SOCIEDADE DO CONHECIMENTO: DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS

Vivemos um contexto novo em todos os aspectos e essa novidade afeta irrestritamente todas as pessoas em todos os lugares do planeta, as mudanças impactam áreas econômicas, tecnológicas, sociais, culturais, legais, politicas, demográficas, ecológicas entre tantas outras. E são justamente essas transformações que afetam de modo sistêmico gerando resultados inesperados e incertos nas organizações. Independentemente de onde ocorram essas transformações elas afetam a todos, pois tudo se conecta de alguma forma, daí a preocupação das empresas em estar permanentemente alerta e com um olhar para os acontecimentos externos (CHIAVENATO, 2014).
As empresas têm percebido que as mudanças que provocavam alteração de modelos produtivos e que antes levavam séculos para serem consolidados, hoje se alteram em anos, às vezes, em menor tempo ainda. Basta lembrar que já vivemos sobre a égide de um modelo de sociedade agrária, onde “a possibilidade de produção de alimentos independente da caça e da coleta modificou sobremaneira a organização social” (SABBAG, 2007, p. 22), nesse modelo a integração do homem com a natureza era sua característica marcante. Séculos depois a humanidade experimentou uma outra realidade bem distinta, não mais baseada na terra e sim em instrumentos mecânicos voltados para a produção, estamos nos referindo a sociedade industrial, onde a colheita foi substituída pelo produto e quanto maior a produção maior seria o lucro (SABBAG, 2007).
Saltando dos modelos de sociedade e de produção já obsoletos, analisamos o contexto presente, onde impera o que conhecemos por sociedade do conhecimento. E se no passado “enquanto a terra simboliza a sociedade agrária e a cidade retrata a sociedade industrial, o que simboliza a sociedade do conhecimento é algo intangível, embora tão fecundo como a terra-mãe: a mente” [SABBAG, 2007, p. 24-25). Nessa nova fase vivida pela humanidade há ganhos e perdas, como nos outros momentos certamente, as atividades laboriosas sofrem mudanças, enquanto outras dão lugar a novas formas de produzir. E, nesse lapso, os trabalhadores que não conseguem acompanhar as mudanças ou migrarem para as novas atividades ficam sem trabalho e renda. Contudo a sociedade se reorganizar e os instrumentos de regulação se adaptam a nova ordem estabelecida.
Podemos afirmar que todo período de transição é excludente, pois ele nunca consegue fazer com que as pessoas migrem em sua totalidade do modelo em extinção para o modelo emergente, daí consequentemente surgem inúmeros problemas, sendo que no momento presente com um agravante, pois a mancha de povos e nações acaba sendo muito maior que no passado, pois antes as sociedades experimentavam essas mudanças em tempos distintos umas das outras, no entanto a transição para a sociedade do conhecimento abraça muitos povos e nações ao mesmo tempo, devido as relações estarem atualmente bastante interligadas.
A aceleração do tempo é umas das características mais marcantes dos novos tempos. E é possível afirmar que o conhecimento pôs esse tempo em alta rotação, gerando uma extraordinária produção de mais conhecimento, como exemplo, basta levar em conta que de 1450 até 1950, ou seja, um lapso temporal de quinhentos anos, o que se produziu de conhecimento foi superado pelos últimos 25 anos (SABBAG, 2014 apud DRUCKER, 1970). Se no passado as distâncias eram percorridas em dias, o conhecimento a partir de seus inventos tecnológicos encurtou essas distâncias abissais para questões de segundos, mas esse ganho de tempo não veio sem trazer consequências políticas e econômicas.
Umas dessas consequências é a crença do conhecimento sem limites, que põe em discussão a própria racionalidade e segurança da humanidade, na medida em que se implanta dúvidas e incertezas sobre a necessidade de se impor limites, ainda que artificiais, pois não podemos esquecer das consequências do conhecimento no uso de energia nucleares, agrotóxicos, clonagem de humanos entre outros. Outra questão que se levanta são as mudanças bruscas e profundas, causando a sensação que tudo é transitório e efêmero, uma espécie de desgoverno; podemos apontar também a ideia de aldeia global, que pasteuriza todos as culturas e civilizações em um estilo de vida homogêneo e hegemônico.
Além desses aspectos, ainda podemos citar a volatilidade do capital, que cria uma nova forma de capital - digital e especulativo -, pondo em estado de alerta e risco a economia de várias nações. Apenas para citar mais algumas consequências; riscos econômicos e incertezas políticas, destradicionalização, multiplicidade de interesses e necessidades, valores ambíguos, exclusão, riscos ambientais, insegurança, riscos do estilo de vida, vida apartada e unidimensional, perplexidade e defensividade, sentimento de traição à lealdade, falência do planejamento estratégico, maior competição que gera ameaças, produtos e serviços ganham dinamismo, crise de liderança e de competências e o valor atribuído aos negócios.
Apenas para comentar um pouco mais detalhado esses dois últimos impactos causados pelo avanço do conhecimento em nossa sociedade, podemos afirmar que a crise de competências ocasiona por tabela uma crise de liderança, pois no ambiente empresarial atual não se aceita mais a figura dos dirigentes onisciente e onipresente, em seu lugar surgem líderes que inspiram pessoas para seguirem rumo aos resultados ou lugares planejados, as tomadas de decisões são amparadas em informações e as pessoas conseguem manter sinergia mesmo em cenários com condições bastante duras e adversas (LEVITT, 1975 apud SABBAG, 2014).
Por fim, o valor atribuído aos negócios está voltado para a capacidade de aplicar conhecimento aos produtos, serviços, processos, relações, entre outros elementos, do que propriamente aos ativos patrimoniais concretos. Fica notório que o olhar temerário recai sobre esse novo contexto, pois há apegos aos tempos onde o mundo era mais calmo, estável e conhecido, e, por conta dessa situação, também fica claro que a sociedade do conhecimento precisa de pessoas, organizações e elementos que capacitem a sociedade adequadamente para enfrentar os novos desafios que emergem em meio a nova onda do mundo contemporâneo (SCHAFF apud SABBAG, 2014).

2 – ELEMENTOS ESSENCIAIS DA ALTA PERFORMANCE

As pessoas têm ganhado título de ativo mais relevante nas organizações, isso porque, as pessoas são as modeladoras da nova realidade vivida pelas empresas. Afinal, o cenário vivido até a última década do século XX não tem mais aplicabilidade no momento presente, a saber, as duas primeiras décadas do século XXI, intensificou drasticamente a competitividade, agravamento das incertezas, mudanças contínuas e aceleradas, forte migração da mão-de-obra da área industrial para de serviços. Diante das transformações apontadas e em busca de alcançar objetivos específicos e manter vantagens competitivas de forma continuada, as empresas e corporações tem estabelecido uma rotina constante de processos de adaptações. As razões e necessidades dessas adaptações foram expostas longamente nos parágrafos acima, afinal a presença viva de um mercado globalizado e a interação continua com áreas e setores diferentes tem exigido dos colaboradores das empresas maiores habilidades, competências e domínios de diversas teorias, além de uma efetiva gestão do conhecimento, que consequentemente exige maior interação entre as pessoas e os setores das empresas, situações que geram relações informais capazes de galgar obstáculos e limites (ALVES, 2017, TU, 2013).
O desenvolvimento de relações informais nos locais de trabalho é solo fértil para fomentar a flexibilização e horizontalização das relações de trabalho nas organizações; essa situação favorece a ruptura com a departamentalização, que cria atividades diferentes e que põe barreiras entre os colaboradores, desencadeando um clima de baixa circulação do conhecimento e limitação da obtenção desse mesmo conhecimento, além do desconhecimento das atividades desenvolvidas pelos demais colaboradores, que se amplia para âmbito geral da empresa. Esse problema é minimizado pela aproximação desenvolvida, quando do momento em que alguns desses colaboradores realizam algum trabalho, projeto ou atividade juntos, cria uma situação que possibilita o desenvolvimento de uma relação de proximidade e familiaridade (ALVES, 2017 e CHIAVENATO, 2014).
Para se atingir resultados de alta performance as organizações precisam construir relações por fora das definidas nos organogramas, pois são nessas relações que se encontram um maior número de colaboradores participando das tomadas de decisões e envolvidos em atividades coletivas de natureza mais colaborativa e cooperativa, pondo de lado os diferentes níveis hierárquicos, e, por sua vez, desencadeando o desenvolvimento de relações de confiança, solidariedade, cooperação e generosidade entre os envolvidos, ainda que sejam de diferentes setores (SCHEIN, 1982 apud ALVES, 2017). Nesse tipo de ambiente as pessoas são vistas como parceiros das organizações:

Como tais, elas seriam fornecedoras de conhecimentos, habilidades, competências e, sobretudo, o mais importante aporte para as organizações: a inteligência que proporciona decisões racionais e que imprime significado e rumo aos objetivos do negócio. Nesse sentido, as pessoas constituem o capital humano e intelectual da organização. Organizações bem-sucedidas tratam seus colaboradores como parceiros do negócio e fornecedores de competências, não como simples empregados contratados (CHIAVENATO, 2014, p.3)

Conforme preceitua o autor acima, as organizações que enxergam seus colaboradores como parceiros obtém melhores resultados em seus processos de trabalhos e, consequentemente, atingem resultados mais expressivos que as organizações com visões e posicionamentos distintos. No entanto, para atingir a alta performance entre os colaboradores e suas respectivas equipes, não basta tê-los como parceiros, é preciso desenvolver nos mesmos alguns elementos e fixá-los na sua rotina diária como se fosse um estilo de vida. Segundo (BERSOU, 2013 e CHIAVENATO, 2014), a presença desses elementos nas equipes é sinônimo de elevado nível de resposta ao comando, daí a necessidade de estar arraigado em toda cadeia de comando, do presidente aos supervisores, todos devem ter como responsabilidades: integrar e orientar novos colaboradores nas equipes, treinar e preparar as pessoas para as atividades do futuro, colocar as pessoas onde possam desenvolver o melhor de si, desenvolver relações agradáveis de trabalho, desenvolver habilidades e competências em cada colaborador, criar e manter níveis elevados de motivação, proteger a saúde dos colaboradores e fornecer condições adequadas de trabalho.
Além dos aspectos acima, podemos citar a interdisciplinaridade, que sendo bem conduzida leva os colaboradores e equipes a uma elevação do pensamento estratégico, e, para pôr em prática deve-se ter disciplina na gestão e um método de trabalho bem definido. Outro elemento a ser considerado é o de entrega, esse diretamente ligado ao conceito de honra, que se relaciona com o cumprimento de objetivos pré-definidos, seja na esfera individual ou coletiva, quando esse elemento se enraíza no corpo funcional há ganhos significativos nas questões ligadas as responsabilidades e as atitudes adquirem força. Há também, o controle das emoções a partir do aprofundamento dos diálogos, que servirá como remédio para curar as questões não resolvidas no interior das equipes, e, por fim, a sincronia operacional e mental como elemento vital para unir as equipes em momentos de incertezas, caos e de extrema complexidade (TU, 2013; CHIAVENATO, 2014, ALVES, 2017).
Nota-se que para equipes de trabalho atingirem alto rendimento, o trabalho de gestão de pessoas desenvolvido no interior das empresas e que se expande para todos os níveis, devem levar em conta, que todos os colaboradores devem receber educação, treinamento, motivação e serem lideradas para introduzirem em si mesmas uma espécie de espírito empreendedor e uma cultura de participação e de oportunidade e desenvolvimento pessoal.

As organizações bem-sucedidas proporcionam às pessoas um ambiente de trabalho acolhedor e agradável, com plena autonomia e liberdade para escolher a maneira de realizar seu trabalho. As pessoas são consideradas parceiras e colaboradoras, não funcionários batedores de cartão de ponto. Como diz Robert Waterman, as empresas que colocam acionistas, clientes e funcionários no mesmo nível, em vez de colocar os acionistas em primeiro lugar, são paradoxalmente aquelas que proporcionam o melhor resultado para seus acionistas (CHIAVENATO, 2014, p. 36).

Os colaboradores no interior das equipes também devem ter objetivos claros e alinhados com o do time, pois conforme mencionado anteriormente, em cenários de caos e complexidade é preciso que os colaboradores tenham consciência límpida dos objetivos fundamentais e estratégicos, do contrário toda a estrutura pode ruir, ou seja, precisam estar munidos de autossuficiência e autogestão. E, esses mesmos colaboradores, precisam adquirir grande poder de observação para saber o momento exato de extrair dos clientes a gama de conhecimento e inovações que eles possuem e que são muitas das vezes necessários para criar novos produtos e/ou serviços. Pode-se afirmar, que se os colaboradores ou as equipes possuírem esses elementos de modo cristalizado em suas consciências, não há outro caminho senão o da excelência e o da alta performance (TU, 2013, ALVES, 2017).

3        – IMPACTOS DA ALTA PERFORMANCE EM EQUIPES DE TRABALHO

Diante de tudo que foi relatado neste trabalho e do último aspecto a ser discutido, faz-se necessário destacar dois conceitos, o primeiro é o de gestão de pessoas e o segundo o de equipes de trabalho. O presente estudo entende gestão de pessoas como uma área extremamente ligada à mentalidade e à cultura empresarial que predomina nas organizações. É uma área que depende de vários aspectos das organizações, que englobam arquitetura organizacional, estilos de lideranças, processos internos, ramo de atuação, além de inúmeras outras variáveis (CHIAVENATO, 2014). Enquanto, que, equipes de trabalho não são meros agrupamentos de pessoas, pois a mera junção de pessoas em um dado setor ou atividade não representa o significado que equipes de trabalhos tem para o presente estudo. O conceito de equipe de trabalho é mais particular, pois representa um conjunto de pessoas agrupadas em torno de um ideal compartilhado, de um propósito comum, de um sentimento de pertencimento ou mesmo de uma identidade (SABBAG, 2007; ALVES, 2017).
Nota-se que uma equipe se diferencia do grupo por um elemento central, a união, a sinergia entre seus elementos constituintes. Enquanto um grupo compartilha informações, toma decisões e não envolve trabalho coletivo, que requer esforços conjuntos; uma equipe desenvolve esforço coordenado, gera sinergia positiva e permite a melhora do desempenho organizacional da própria equipe e da organização. Para ser uma equipe, os colaboradores devem gostar uns dos outros, afinal o bom relacionamento interpessoal garante a existência de uma equipe. A satisfação em fazer parte deve ser elemento chave, diferentemente dos grupos, que preferem que as coisas funcionem em conformidade, querem sempre que as coisas funcionem do mesmo jeito. Nesse ambiente narrado há monopólio da fala, quando há problemas busca-se um bode expiatório; quase sempre o colaborador mais fraco - isso na visão do grupo, pois muitas das vezes é o membro mais forte, daí a necessidade de excluí-lo (CHIAVENATO, 2014; ALVES, 2017, TU, 2013).
A opção por alguns modelos de gestão de pessoas inadequados vem conduzindo algumas empresas por caminhos espinhosos, gerando baixa produtividade e afetando a competitividade essencial ao tipo de negócio e a consequente questão dos baixos resultados obtidos; situação que ameaça a continuidade dos negócios e a própria sobrevivência das organizações que optam por esses modelos obsoletos. Justamente para reverter esse cenário de produtividade mínima é que as empresas vêm investindo nas equipes e na forma de geri-las, como já apontamos no tópico anterior. Por essa razão, esse estudo tem dado destaque a nova roupagem que a gestão de pessoas tem ocupado nesse novo processo e, na mesma toada, tem colocado sob os holofotes os efeitos da gestão de pessoas no trabalho das equipes de alto rendimento, além de destacar o cenário vivido pelas organizações contemporâneas neste início de século. Faz-se mister registrar que a gestão de pessoas é a grande responsável por definir a visão e objetivos, a metodologia escolhida na condução dos trabalhos e, por fim, os elementos sine qua non para pôr as equipes em funcionamento e extrair o que há de melhor em cada participante do time em favor do resultado coletivo, pois o ponto de partida pode até nascer do talento individual, todavia a sequência do processo dependerá de um sentimento e ambiente compartilhado – sonho comum (TU, 2013; CHIAVENATO, 2014).
Aqui, não se trata de homogeneizar todos os colaboradores que compõe as equipes, e sim, de integrar as diferenças existentes em cada um deles, e, por mais que sejam preservadas as características individuais de cada um, o resultado da integração é maior do que o total das individualidades (PAMPOLINI, 2013). Neste momento, começa a ser apresentado o conceito de alto desempenho demonstrado por algumas equipes de trabalho, pois o elevado desempenho está associado àqueles que superam os padrões e limites comuns ou convencionais, gerando espanto e surpresa pelos resultados que conseguem desenvolver ou apresentar. Vejamos:

Caracterizam seus membros como tendo profundo senso de propósito, metas mais ambiciosas e uma complementaridade de conhecimentos e habilidades, expectativas altas em relação a si mesmas e aos demais, principalmente em relação aqueles com quem trabalham diretamente. Reis et al. (2007) também afirmam que as equipes se diferenciam das demais equipes pela intensidade das ações realizadas e nas atitudes e habilidades dos membros da equipe. MORE et al, 2012, p.3.


Nota-se que as equipes de alto desempenho se destacam em relação as demais a partir do nível de compromisso e comportamento dos seus membros, sempre acima dos padrões normais de atuação. Entre os colaboradores das equipes há sempre uma complementaridade de conhecimentos e habilidades, quando o assunto é desafio que exigem grande esforço das equipes, como por exemplo, restrições ambientais, atendimento aos clientes, ameaças competitivas e alterações de tecnologia, situações que exigem esforços muito superiores aos de um único colaborador – por mais elevada que seja sua qualificação – ou de grupos de trabalhos. Daí se afirmar que, quando a atividade de trabalho cobra para sua execução capacidade de julgamento, competências muito distintas e várias habilidades, o desempenho de equipes de alto rendimento é superior à ação isolada ou a de grandes grupos de pessoas. Daí a gestão de pessoas assumir elevado grau de importância, pois as pessoas dentro das organizações se converteram em principal ativo e as organizações bem-sucedidas compreenderam cedo que para crescer, prosperar e manter a continuidade dos negócios precisam encontrar meios de dar retornos justos aos investimentos – tempo, conhecimento e dedicação - dos colaboradores (SABBAG, 2007; CHIAVENATO, 2014).
Equipes de trabalho com elevado desempenho tem outro diferencial em relação as equipes normais, a saber, as organizações não fazem gestão de pessoas de equipes de alto rendimento, pois a gestão ocorre com elas e não para elas. E para evitar que a gestão seja voltada para as pessoas, a fase inicial de relacionamento do colaborador com a empresa deve ser muito bem desenvolvida, ou seja, a empresa deve ter bastante habilidade para recrutar, selecionar, treinar e manter as equipes de elevado rendimento, pois esse é o que poderíamos chamar do principal obstáculo para os negócios. O resultado reflete no modo como a gestão ocorrerá, afinal há uma enorme diferença entre gerenciar pessoas e gerenciar com elas. Se no primeiro exemplo as pessoas são o objeto que sofrem manipulação das gerências, direcionadas, guiadas e controladas para atingir fins específicos. No segundo caso, as pessoas são protagonistas das gerências, pois elas próprias se guiam e assumem o controle para alcançar os fins da empresa e seus próprios objetivos pessoais (MORE, 2012; CHIAVENATO, 2014).
A construção de equipes de trabalho de alta performance não ocorre de qualquer modo, tão pouco surgem do acaso, há caminhos a serem percorridos para se chegar ao resultado acima do normal. Podemos apontar os seguintes, primeiro, as chamados pseudo-equipes, que são grupos onde a presença de objetivos coletivos inexiste, ao contrário, o que se observa é a ênfase nos objetivos individuais de cada colaborador. No segundo momento temos as equipes potenciais, esses apresentam resultados baixos, contudo tem consciência que precisam melhorar em variados aspectos; o terceiro momento apresenta o que chamamos de equipes reais, onde há colaboradores que atuam em conjunto e coordenados, desenvolvendo atividades coletivas para alcançar os objetivos da empresa. E, por fim, há o último estágio, onde se observa a atuação de equipes de alta performance, nessas equipes o rendimento está acima das equipes anteriores (MORE, 2012 apud PINTO, 2010; KATZENBACH e SMITH, 1994).
Nota-se que constituir uma equipe ou várias delas com alta performance não é tarefa simples nem ocorre no curto prazo dentro das organizações, porém para que essa realidade aconteça é preciso ter uma boa gestão de pessoas cristalizada na essência dessas organizações. Os colaboradores devem ter domínio de relação interpessoal e, fundamentalmente, haver integralidade entre todos os membros da equipe, ninguém deve deixar de compartilhar dos mesmos objetivos, não importando se a equipe é formada por profissionais já existentes na organização ou se é composta por novos profissionais. Por isso, é preciso que se diga que para fazer parte de equipes de alta performance os colaboradores devem possuir atributos individuais e atributos ambientais dentro de um contexto coletivo. Os primeiros atributos devem ser: pró-atividade, criatividade, influência, capacidade de comunicação, responsabilidade, ética e competência (aptidão) e o segundo grupo de atributos são: clareza de objetivos, clima aberto e favorável, confiança entre os membros e flexibilidade - capacidade de se adequar a uma nova equipe ou receber um novo membro, afinal todos são substituíveis – (MORE, 2012; CHIAVENATO, 2014, TU, 2013).

O resultado de uma boa gestão de pessoas em equipes de alta performance é o fiel da balança, é um divisor de águas, é a cereja do bolo, em resumo, representa a diferença entre o sucesso e o fracasso. Podemos ousar afirmar, que mesmo para um colaborador de destaque e talentos inigualáveis, não saber trabalhar em equipe ou não ser capturado por ela, pode ser um erro no trabalho de gestão de pessoas e na decisão do mesmo, que certamente limitará sua carreira.

Mesmo que isso pareça óbvio, é mais fácil falar do que fazer. Grandes times são raros, e mais raros ainda são times que permanecem grandes por muito tempo. A maioria de nós já vivenciou o estímulo e a camaradagem que resultam do trabalho em sincronia com outras pessoas, mas também já passamos por reuniões improdutivas, intermináveis, conflitos destrutivos e a sensação de mesquinharia de que nossos colegas não estão trabalhando tanto quanto nós e, mesmo assim, recebem tratamentos mais favoráveis (TU, 2013, p. 8).


Esse trabalho finaliza afirmando que gestão de pessoas e suas respectivas competências representa - no cenário atual vivido pelas organizações e colaboradores - uma questão delicada e de extrema relevância para o planejamento estratégico de qualquer empresa. E, por sua vez, é importante demais para ficar limitada as ações de uma gerência, setor ou repartição das empresas, sejam elas públicas ou privadas (ALVES, 2017). Outra afirmação é que as equipes de alta performance são difíceis de se constituir e uma vez formadas é sabido que irão se dissolver em algum momento, pois os colaboradores de desempenho acima do normal, sentem o momento de maturidade e declínio das equipes e optam em enveredar por outros caminhos, seguindo projetos novos, individualmente ou em novas equipes. A partir desse ponto, eis que surge um novo desafio a gestão de pessoas e as empresas, a saber, como reter esses talentos para que não migrem para empresas concorrentes e como desenvolver novos talentos para que as equipes não se fragmentem e sejam fragilizadas, levando essas mesmas empresas a perda do seu principal ativo – as pessoas – e da sua capacidade competitiva.

REFERÊNCIAS:

 ALVES, Bartolomeu. Pilares das organizações do futuro: o que gestores públicos e privados devem conhecer. São Paulo: Dash Editora, 2017.

BERSOU, Luiz. Os oito passos necessários para construir equipes de alto desempenho. Coluna Gestão Empresarial. Revista O Papel – dezembro/December, 2013. Disponível em: <http://www.revistaopapel.org.br/noticia-anexos/1386770330_f96ab85bb0cb9671da27d8ed6b0b34ee_1769942633.pdf>. Acesso em 28/06/2020 às 01:00.

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. – 4. Ed. – Barueri, SP: Manole, 2014.

CHRISTENSEN, Clayton M. ... [et al]. Gerenciando a si mesmo. Harvard Business Review; tradução de HBV Harvard Business Review Brasil. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.

MORE, Jesus Domech... [et al]. Fatores que incidem na formação de equipes de alto desempenho. XXXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção - desenvolvimento sustentável e responsabilidade social: As contribuições da engenharia de produção. Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro, 2012. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2012_TN_WIC_163_951_20999.pdf>. Acesso em: 28/06/2020 às 00:45.

PAMPOLINI, Claúdia Patrícia Garcia. A liderança e a gestão de equipes de alto desempenho na gestão estratégica de pessoas. Centro Universitário Uninter. Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa - PR, v.6, n.2, p.57-63, 2013.
Disponível em: <http://www.admpg.com.br/revista2013_2/Artigos/07%20-%20Artigo7.pdf>. Acesso em: 28/06/2020 às 00:30.

SILVA, Auriérico dos Santos da... [et al]. Equipes de alta performance e o papel do líder como construtor de resultados. FATEB, 2011. Disponível em: <http://pg.utfpr.edu.br/expout/2011/artigos/24.pdf.> Acesso em: 28/06/2020 às 00:03.

TU, Khoi. Supertimes: os segredos de sete equipes vencedoras para um desempenho fora de série; tradução: Peterso Rissati. – 01ª ed. – São Paulo: Portfólio – Penguin, 2013.

SABBAG, Paulo Yazigi. Espirais do conhecimento: ativando indivíduos, grupos e organizações. – São Paulo: Saraiva, 2007.





¹ - Artigo apresentado a Coordenação do curso de Administração de Empresas Bacharelado, modalidade EAD, da UNIT [Universidade Tiradentes], como requisito final de avaliação da disciplina Estágio Supervisionado I, período 2020.1, que tem como coordenador do curso o Prof. Me. José Walter Santos Filho, como orientador o Prof. Me. Mário Eugênio Paula de Lima e co-orientador a prof. ª Maísa Amorim.


terça-feira, 26 de maio de 2020

RASGA - MORTALHA*



Empoleirou-se na fachada
e se dispôs a pipilar,
um gemido de medo,
um som de seda rasgada.

Acordou-me assustado
sem nenhuma cerimônia.
Desta vez,
Eu - era o moribundo.
Lembrei das histórias
e um frio me arrepiou 
a parte posterior do pescoço.

O sino badalou, 
fez soar por todo o vale
 - início da madrugada - 
E, em seguida, ouviu-se,
repetidamente,
o som da ruína.
A ave emitia seu gemido de augúrio.

Diz o cancioneiro popular:
"o canto desta ave
é prenúncio da morte".
E eis que tens razão!
Posso atestar.
Ontem, a ave piou em minha casa
e hoje, ao invés da morte,
meu vizinho [trouxe vinho] e veio cear comigo.
Antes de se despedir, confessou:
- a carne cozida estava deliciosa!

E se é certo que a ave
é prenúncio da morte.
Por certo,
nem a ave
nem o agouro 
nem a morte
nem as carpideiras**
...
voltarão a visitar alhures.
Ao menos, não por ora,
enquanto mira e estilingue 
estiverem atilados.




* - A coruja-rasga-mortalha possui o nome científico de Tyto Furcata. Ela pertence a família Tytonidae e é conhecida em inglês como American Barn Owl. Esta ave é conhecida por muitos nomes que se referem a sua aparência, como: Coruja-branca, corja-de-prata, coruja-demônio, coruja-fantasma, coruja-morte, coruja-de-noite, coruja-rato, coruja-caverna, coruja-de-pedra, coruja-passatempo, coruja-maquineta, coruja-de-peito-branco, coruja-dourada, coruja-de-palha, coruja-curral, coruja-delicada, coruja-das-torres, coruja-da-igreja, coruja-do-campanário e principalmente, como Suindara, esse último associado a uma lenda. Popularmente, no Nordeste brasileiro, dizem que se uma coruja rasga-mortalha pousar no telhado ou na sacada da casa de alguém e piar um som semelhante ao de um rasgo de seda, é sinal que alguém na residência falecerá muito logo.

** - Mulheres de mais de 30 anos, a quem se pagava para chorar nos funerais.




José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe [UFS], Pós-graduado pela faculdade Pio X em História do Brasil, graduando do curso de Administração de Empresas pela Universidade Tiradentes [UNIT], ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais [ANBIMA], blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão

quinta-feira, 21 de maio de 2020

NAMORO NAS ÁGUAS




Mal o Sol nasceu
e lá estava ela
para mais um dia de namoro
com o Chico¹.


Tocou a ponta do pé
nas águas que beijavam,
                                      - num frenesi ininterrupto -
a margem do Chico.


Ela veio com passos calmos,
como se desejasse sondá-lo,
como se desejasse se [re]conectar.
Acredito que buscava mesmo,
se energizar, entrar em sintonia...


Despiu-se, ali mesmo
- vagarosamente, sem pressa, sem ruído -
achatada entre a palidez da Caatinga² e o Chico.
As aves, os peixes, o espaço infinito e móvel...
a tudo assistiam: admirados e pasmos,
diante de tamanho primor.


O vento suave e fresco à beira rio,
sorrateiro veio acariciar sua cútis macia,
enquanto, paulatinamente, entrou nas águas
alguns passos adentro e submergiu no Chico;
submersa, bailava em acrobacias lascivas.


Eis que emerge
em meio as águas claras do Chico
e feito deidade olímpica,
expõe um sorriso faceiro e garrido:
queixo elevado,
lábios esticados ,
dentes alvos à mostra,
maçãs da face - arredondadas e polidas -,
olhos retesados em emanação de prazer.
Todo o ser reluzia.


O bailado das águas
pareciam aplaudir
radiante beleza.
Enquanto o Sol, agora desperto,
se diluia em cortejo e calor,
a beijar - incansavelmente -
aquele corpo delgado
aplainado na malemolência do Chico.


Eu, como por destino, ali estava,
camaleonicamente em meio a vegetação
e dentro da minh'alma [sem freios] eclodiu,
irremissivelmente uma voz plangente,
que me contorcia com ciúmes do Chico.

Ai de mim! Ai'mi!³







¹ - Alcunha popular atribuída ao Rio São Francisco ou Velho Chico, esse que é um dos mais importantes rios do Brasil e das Américas, também conhecido como rio da integração nacional, pelo fato de atravessar cinco estados do país, a saber, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.

² - Substantivo feminino, que representa uma mata do nordeste brasileiro, onde a vegetação possui folhagem e é quase exclusivamente de espinhos, cactos e gravatás.

³ - Ai de mim! Ou Ai'mi! Uma espécie de gemido grego popularizado pelo ator, diretor e apresentador de TV, Antônio Abujamra, que apresentava um programa de entrevista na TV Cultura intitulado, Provocações, faleceu aos 82 anos, em abril de 2015.




José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe [UFS], Pós-graduado pela faculdade Pio X em História do Brasil, graduando do curso de Administração de Empresas pela Universidade Tiradentes [UNIT], ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais [ANBIMA], blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão]

terça-feira, 5 de maio de 2020

ADÃO, ONDE VOCÊ ESTÁ?


Javé Deus chamou o homem: "Onde você está?" Ele respondeu: "Ouvi teus passos no jardim e tive medo, porque estou nu, e me escondi". Javé Deus continuou: "E quem lhe mostrou que você está nu? Será que comeu da árvore da qual lhe proibi comer?¹ Guardem essa passagem no oxigênio, pois vamos nos ater a ela mais adiante. Vejamos, os textos bíblicos, via de regra, são lidos pelos olhos da fé, algo plausível e uma forma aceitável de leitura, contudo há outras perspectivas de leitura, podemos citar a filosófica, teológica, histórica, antropológica, entre outras cabíveis e plausíveis. Aqui, convido-os a seguir por uma abordagem pouco ortodoxa, pois tem como intento trazer à luz do entendimento uma leitura a contrapelo, dizendo de modo simples, digamos que seja uma leitura às avessas. Todavia não pretendo extirpar a abordagem de fé de nenhum dos leitores, mesmo porque entendo ser algo extremamente individual e não tenho por hábito dar pitaco na cor da tinta da casa de ninguém. E mesmo que minha abordagem possa soar conflitante com o entendimento de alguns leitores, não busco convertem ninguém a minha religião, e, antes que gritem, vou logo avisando que também tenho religião, ainda que seja associada ao verbo religare, não confundam com o verbo relegere*.

Sabido é que, cada indivíduo [homem ou mulher], grupo social e a sociedade em geral, constrói e é construída por uma visão de mundo que lhe é peculiar, digamos que seja o seguinte, Deus cria o homem e o homem cria deus na medida que condiciona sua existência a crença Nele. Questiono, se o homem não reconhecesse a existência de Deus, suponho que Sua soberania estaria comprometida, não acham? Ainda que a existência não esteja condicionada a essa circunstância. Esse entendimento é particular deste autor,não o atribuo a ninguém ainda que haja quem compartilhe. Caro leitor, lembra da passagem que pedi para guardar no oxigênio, hora de trazê-la de volta. Quando Deus pergunta onde Adão está, Ele questiona a localização de Adão? Acredito que não, senão não seria Deus [oni-tudo, ciência-saber = saber de tudo] a perguntar. Acredito que se refere a perdição de Adão, a perdição não no sentido religioso e sim psicológico ou mesmo da identidade. Adão desaparece no campo da existência, da identificação, ele desaparece de si mesmo. 

Ouvi certa vez de alguém, não me recordo de quem, que nós estamos onde está nosso pensamento, por analogia Adão não se fazia presente porque seus pensamentos não estavam com Deus, ele experienciava uma nova forma de existência que desconhecia totalmente. Calma, essas palavras não estão no texto bíblico, mas declaro a você que me questiona, que como o texto sagrado não é escrito com sentimentos, ideias ou crenças e sim por palavras, uso as minhas para dialogar com as palavras dos tradutores, e quantos foram: hebraico, grego, aramaico, latim, alemão, voltas e voltas de traduções, até chegarmos as nossas traduções portuguesas do presente. Fico a pensar, quais palavras foram usadas por esses idiomas matrizes para representar as palavras, Adão, jardim do Éden, serpente, fruto e tantas outras palavras simbólicas? O fato é que algumas dessas palavras foram traduzidas e chegaram até nós relevando um entendimento claro e dominante, como por exemplo, o jardim do Éden se tratar de um jardim de delícias, de um ambiente imaculado. A questão é, seria isso mesmo?

As diversas interpretações dos intérpretes traz consigo mudanças semânticas que revelam mudanças de pensamento, significado e entendimento no curso da história da humanidade. Vou fazer uma outra observação da passagem bíblica, quando Adão e Eva comem do fruto nem a condição [nus] nem a natureza humana [originários do pó] se alteram, o que se altera é o olhar, a perspectiva em relação a como se vêem. Todavia, essa mesma passagem é entendida como primeiro pecado, como algo ruim, de aspecto negativo, pergunto novamente, será mesmo isso que a passagem quer nos revelar?

Vejamos, vou levantar outra questão da passagem contida no livro do Gênesis, qual seja, a criação de Adão e Eva e a relação desses com Deus. Entendo que há três modelos de criação operadas por DEUS no livro da Gênesis, os inanimados, que são inorgânicos, sem vitalidade e movimentos, sem reações [premissa válida, são o que são independente de tempo e lugar], os animados, que são orgânicos e reativos [agem de modo a perpetuar a vida; nascem, crescem, reproduzem e morrem] e os intencionados [semelhantes ao criador] os quais aponto como sendo Adão e Eva, ou seja, seres iguais a nós, seres humanos. Acredito que, aqui, cabe uma comparação para ajudá-los a melhor entender o que digo, Deus seria uma espécie de artesão, que ensaia o feitio de suas criaturas e atinge o ápice à medida que pratica [não vejam como menção herética, é apenas uma analogia]. Desse modo, somos o que poderíamos afirmar, a obra magistral do criador. E como tudo que por Deus foi criado, somos misto de bons e maus impulsos, somos constituídos de extremos, de contradições e não há aparentemente como sermos diferentes.

Tudo que Deus criou fez polarizado, nada define melhor as criações divinas que os extremos, acredito inclusive que a santidade [busca infinita] seja se estabelecer em harmonia entre esses extremos, continuarei esse raciocínio adiante, antes vamos a alguns subsídios para melhor fortalecer o que afirmo no início do parágrafo. Suponhamos que tudo que não é mencionado no livro do Gênesis como sendo criado por Deus, Ele já tinha criado anteriormente, mesmo porque, se assim não fosse caberia uma discussão ainda mais vasta, que teria como direção a intrigante crença de que algo pudesse existir anterior a Deus ou que não tenha sido por Ele criado. Isso sim, seria um absurdo aos olhos da fé, mas ainda assim plausível. Vamos a um exemplo para clarificar o que disse anteriormente. ""E Deus disse: "Quero que haja luz!" E houve luz. E Deus viu que a luz era boa e separou a luz da escuridão. À luz Deus chamou "dia" e à escuridão "noite""²  Assim como Deus criou a luz em oposição à escuridão, também separou as águas abaixo e acima do firmamento [céu], fez surgir terra em meio às águas, astros para separar o dia da noite, frutos permitidos e frutos proibidos, criou Adão obediente e em seguida criou Eva, que viria a ser a impulsionadora da transgressão [doravante, peço que vejam Adão e Eva como metáforas]. E ao final de cada criação, vem o sentimento do criador, expressado na seguinte frase, e Deus viu que era bom.

Convido o leitor que aguentou as tormentas das águas até aqui para continuar navegando. Permita-se entender que Adão simboliza, na passagem do Gênesis, um estágio no processo de amadurecimento da natureza humana, um instante na escalada rumo a plenitude do ser, Eva simboliza um instante diferente, mais avançado da criação, não à toa no relato do Gênesis ela foi criada em momento mais avançado em relação à Adão. Aqui, iniciamos a fragmentação da metáfora mítica de Adão e Eva. O momento simbólico da obediência de Adão e Eva é representativo da infância da nossa natureza humana, da criança ingênua e sem malícia, de uma moral vigente e não contrariada. Já o instante do comer do fruto, da desobediência, revela um despertar, revela uma criança que se põe adulta, que se descobre com um corpo que ganha novos contornos e acessórios, com reações antes não conhecida nem experienciada, a moral antes não contrariada, nessa fase se apresenta em mutação. Uma vez atingida a idade adulta não há meios de retornar a infância, do mesmo modo que não há meios de Adão e Eva retornar ao jardim do Éden, nem voltar a comer do fruto, "Javé Deus o despachou do jardim de Éden, para cultivar o solo de onde tinha sido tirado. Expulsou o homem e, ao nascente do Jardim do Éden, colocou os querubins e a espada de fogo, para vigiar o caminho da árvore da vida [Gn 3, 23-24].

Deus põe no jardim [acréscimo da metáfora da natureza humana] frutos que podem ser comidos e frutos que não podem ser comidos, acredito ser simplista demais a crença que frutos foram ali colocados para não serem comidos, e, ainda por cima, apontado sua localização exata. Poderiam simplesmente não serem postos ali ou plantados fora do alcance dos mesmos, não julgam pertinente? Vejamos, há meios seguros de se deduzir que o comer do fruto proibido simboliza o amadurecimento, a ruptura com um arquétipo vigente [uma espécie de paradigma] que os dominavam, enquanto que o comer é representativo da resistência que gera o despertar. O arquétipo é uma forma de conhecimento inconsciente [adormecido], que se modifica à medida que adquirimos uma percepção diferente, assumindo manifestações diversas, motivadas pela conscientização individual onde o arquétipo de manifesta³.


Há de forma repetitiva e claramente manifesta que tudo criado por Deus se faz mediante a fala, exemplo, "e Deus disse", "faça-se"... a única coisa que não fez Deus pela fala foi o homem, no texto há um entendimento manifesto que o homem foi modelado, ou seja, há uma ação diferente em relação as demais criaturas, aqui reside a diferenciação dos três modelos de criação exposto no quinto parágrafo. Ressalto, que a fala tem uma única função, justificar e convencer, inclusive comunica ao mundo a razão de ser das coisas, podemos ainda afirmar que toda fala é um sussurro do orador para si mesmo. Notamos que o impulso ético está presente em toda extensão do tratado mítico da criação humana, inclusive, foi posto como elemento constituinte em Adão e é esse impulso que atua de modo magistral sobre os gostos e costumes, ousadamente afirmo, até os dias atuais.

A obediência em Adão produz a moral, a malícia presente na serpente, provoca a fratura, a intenção encarnada em Eva. Logo, Adão e Eva são representativos das diversas morais existentes, bem como da ruptura, do que Nilton Bonder** vai chamar de maldade ou mais especificamente, de segundas intenções. Ainda segundo o autor, Adão e Eva [que simbolicamente associo a nós humanos] representa uma espécie de encruzilhada entre quem realmente somos e quem gostaríamos de ser/parecer. Assim, como Adão, somos impostores que nos escondemos em uma identidade que nos conduz [feito rio que corre inexoravelmente para o mar] a crises e exílios em nós mesmos, esse momento é representativo da pergunta feita por Deus, "onde você está Adão?"

Ao revelar a Deus que se escondeu por se perceber nu, estabelece uma questão dialética, como saber se quando estamos acordados não estamos sonhando? A resposta para a pergunta é a lucidez presente na própria indagação, ao se perceber Adão se torna lúcido, se torna desperto. O entendimento distorcido para essa passagem nos relegou uma relação negativa e doentia com nosso corpo, com nossa nudez. Contudo, sou do entendimento que Deus não recomendaria sufocar nosso impulso libidinoso, que não está ligado apenas com a nudez, pois do contrário, se esse impulso fosse negado ou reprimido estaria pondo em risco à vida, à existência, a presença de Adão. Se assim fosse, Adão e Eva estariam sós no jardim e continuaria ou não até nossos dias, caso não amadurecessem, caso não atingissem a maturidade, caso não comessem do fruto não chegariam a fase adulta, não chegariam as segundas intenções, as malícias, não despertariam a líbido, não dariam seguimento ao mandamento máximo dado a matéria, "crescei e multiplicai-vos". 

Espero que ainda estejam de olhos [da mente] abertos, pois vou afirmar algo duro aos olhos da fé, no Gênesis não há espaço para um mundo sem maldade, malícia, segundas intenções, sem desobediência, pois Deus não concebe metades, seres incompletos, somente o todo e o todo é a junção dos extremos, da polarização, da luz e da escuridão, da terra e das águas...notem que ao final da sua obra "Deus concluiu o trabalho que havia feito, e no sétimo dia descansou de todo o trabalho que tinha feito. Deus abençoou e santificou o sétimo dia, pois nesse dia Deus descansou de todo trabalho que tinha feito como criador", se o trabalho foi concluído não havia nada mais a ser feito e sendo Deus Onipotente, tem o controle absoluto de tudo, logo, imaginar que construiu uma obra falha ou defeituosa poria sua condição suprema novamente em questão. O que não é o caso. Mesmo porque se Deus desejasse que Adão e Eva não progredissem os teriam interrompidos, não permitiria que prosperassem, seguissem adiante, se o faz é plausível acreditar que há motivação para tal feito. Não acham? Todavia, não o permite sem uma contrapartida, qual seja, uma punição, um castigo.

Pergunto ao leitor, já parou para pensar por um instante, porque somente a desobediência é reprovada em todas as sociedades e em todos os tempos, diferentemente do homicídio, da tortura, do abuso sexual? Caso tenha ficado curioso, aconselho fazer uma pesquisa sobre o que afirmei e vai perceber que em diversas sociedades e em diferentes momentos históricos, vigorou por muito tempo a tradição, que os jovens só se tornavam homens, quando tiravam a vida de outra pessoa; vão descobrir também que vários governos praticaram a tortura para extrair informações de pessoas suspeitas [sobre esse tema não precisam buscam em sociedades distantes], a própria igreja católica praticou por vários anos a tortura nas inquisições e por séculos o estupro foi praticado por homens em crianças, serviçais e esposas; vão descobrir também que a pederastia e o casamento entre homens velhos com crianças foi praticado de modo regular, todas essas formas de violências e abusos foram praticadas com anuência ou passividade das sociedades em questão, porém desafio o amigo leitor a apontar uma sociedade, uma apenas, isso mesmo basta uma, que tenha tolerado ou aturado de modo apático a desobediência. 

Quando falo da desobediência me refiro em todos os âmbitos e esferas sociais, seja ela dentro das famílias, empresas, partidos políticos, credos religiosos, seitas ou na sociedade como um todo. Estou certo, não vão encontrar. E caso encontrem vão perceber como foram severamente extirpadas. Exemplo clássico da desobediência é O Diabo, Satã, Lúcifer [cada sociedade pinta essa figura com as cores da convencionalidade religiosa***] ao menos nas sociedades ocidentais de matrizes cristãs.  Qual o erro de Lúcifer, desafiar desobedientemente o poder hegemônico Daquele que tudo ver, sabe e pode. Ao se rebelar, o rebelado passa a ser chamado, visto e sentido de outras formas e olhares, onde o bom é quem faz as regras [DEUS] e quem as descumprem é o mal [Satã].

Satã, o desobediente, influencia outros que são acometidos do mesmo fim, são expulsos, são excluídos, são despossuídos [mera semelhança com pretos, pobres e "viados"]. Na mitologia mítica, Satã convoca uma assembleia para discutir formas de reconquistar aquilo que foi perdido, devido sua desobediência. Entre os demônios [daimónion - gênio, podendo ser bom ou mau] há sugestões de vários estratagemas, até que a proposta de Belzebu [depois de Lúcifer o anjo mais nobre] logra vitoriosa, o que ela propõe, um ataque insidioso buscando corromper as novas criaturas divinas: os homens****. Por conseguinte, a assembleia aprova democraticamente a proposta de Belzebu e, na ausência de voluntários, Lúcifer assume a tarefa pessoalmente. A atuação de Lúcifer é associada nas interpretações moderna à figura da serpente "Ela disse à mulher: é verdade que Deus mandou que vocês não comessem de nenhuma árvore do jardim? A mulher respondeu... não devem comer nem tocar nela, senão vocês vão morrer" [Gn 3:1-4].

A passagem da assembleia dos demônios é representativa, pois contrasta com a decisão unilateral de Deus em nomear seu filho [essa discussão se estabelece no Novo Testamento] comandante supremo do Universo, enquanto Satã nada decide sozinho, ao contrário, procura reunir os demônios e democraticamente [a expressão democraticamente se apresenta apenas para expressar a reunião de muitos] traçam uma estratégia para deporem o poder dominante. Sei que essa reflexão última não é fácil de ser digerida, mas tentem ignorar o valor que essas figuras tem no universo das mentalidades religiosas e apenas como um exercício de reflexão, avaliem o poder que essa obediência valorizada [representativa do BEM] fixa nas pessoas, grupos sociais e na sociedade ao longo de interpretações e mais interpretações, sobrepondo os textos de origem em diversas camadas, e o peso simbólico que a desobediência [representativa do MAL] fixa nos corpos e mentes docilizadas ao longo de anos, séculos e milênios. 

A escolha do texto religioso para tratar do tema da totalidade do poder e das suas ramificações no imaginário foi uma escolha arriscada, sei disso perfeitamente, mas serviu para exercitar uma linha de raciocínio recorrente em mim, entendo que algumas dessas questões devem ser discutidas, pois elas podem resolver situações não resolvidas, resolvidas em parte ou, o que é pior, escondida do conhecimento geral. Com impacto direto nas sociedades do presente, por exemplo, nas questões de gênero, sexualidade, papéis domésticos de homens e mulheres, relações de trabalho e práticas de justiça social. Ao trazer à baila, ao entendimento, um conceito de Adão associado ao masculino e Eva como feminino, do mesmo modo outras questões que ainda são tabus em nossa sociedade, podemos estar induzindo um entendimento que mais revela o pensamento e concepção do intérprete, tradutor, que propriamente a intenção do autor primeiro dos escritos originários, contudo esse olhar "interpretativo" fechado, que castra outras perspectivas tem triunfado e se mantém até os nossos dias atuais. E o que me preocupa, é a possibilidade desse olhar dominante e gaudioso poder estar nos conduzindo a um entendimento errôneo, limitado ou distorcido do seres humanos e do mundo. Se de fato isso ocorre, bem como enquanto persistir, o prejuízo para nós "não crentes" é não podermos mais entender o seu real significado e sim o contrário.

Franz Kafka em sua obra, o processo, nos expõe de modo romantizado as cercas de arame farpados que castram a liberdade dos corpos, um retrato perfeito da coerção, da falta de privacidade, do aprisionamento das relações de poder, enquanto que outro autor, Yuval Noah Harari, em duas de suas obras; Sapiens: uma breve história da humanidade e Homo Deus: uma breve história do amanhã, revela uma forma mais atualizada de coerção, a coerção estabelecida através de cercas imaginárias, aprisionando não mais os corpos e sim as mentes, os comportamentos. As formas de opressão não se extinguiram, elas se tornaram mais complexas e sofisticadas. Se o leitor me acompanhou até esse momento, peço que respire fundo para um mergulho final, na China os agentes de segurança [policiais] usam "ingênuos" óculos de sol que fazem reconhecimento facial nas pessoas, imaginem que em milésimos de segundos são revelados inúmeras informações sobre os cidadãos; eleições foram e certamente continuarão sendo ganhas [temos exemplos nos EUA e BRASIL] com propagandas direcionadas para públicos específicos, revelando as preferências das pessoas , filtradas por ferramentas de inteligência artificial que fazem uso de conhecimentos da neurociência comportamental e biotecnologia para fornecer a propaganda refinada, com efeitos ainda mais nocivos. Portanto, se as cercas de Adão cerceavam as vontades, as de Kafka os corpos e as de Harari cercam os perfis comportamentais, dizendo de outro modo, cercam nossas mentes. Não é o fim do mundo ainda, mas estamos vivendo um cenário muito próximo do narrado por Aldous Huxley, em seu livro, Admirável mundo novo*****.




José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe [UFS], Pós-graduado pela faculdade Pio X em História do Brasil, graduando do curso de Administração de Empresas pela Universidade Tiradentes [UNIT], ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais [ANBIMA], blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].



  

* Deixo a dúvida à título de curiosidade.
¹ Livro do Gênesis 3, 9-11.
² Livro do Gênesis 1, 3-5.
³ Carl Gustav Jung, psicanlista, em sua obra, os arquétipos e o inconsciente coletivo. 
** Nilton Bonder, rabino e escritor brasileiro, autor de vários livros, dentre eles, Segundas Intenções: vestindo o corpo moral.
*** José Roberto F. Nogueira, historiador, em sua obra, O diabo no Imaginário cristão.
**** Menção a obra Paraíso Perdido de John Milton.
***** Os autores e obras citadas no último parágrafo, peço desculpas ao amigo leitor, mas não vou conceder doses homeopáticas do conhecimento contido nas mesmas, busquem conhecê-las.