quinta-feira, 19 de setembro de 2019

ENTREGA GLORIOSA




Me senti poderoso
me senti feito leão
a rugir ao nascer do Sol
altivo
imponente
majestoso
monumental
gaudioso de mim

Era só êxtase e vaidade
consegui trazê-la até mim
aquele ser que feito serpente no Éden*
me atraia
me seduzia
me instigava
me fascinava
ainda que não tivesse intenção.

Trouxe-a até mim
feito peixe faminto
em anzol de pescador hábil
fisguei-a e no recolher da linha
entregou-se em mãos para ser servida.

Não sabia explicar ao certo
se sorriso
se gestos
se cheiro
se movimento
se a maneira singular de olhar

Ela se pensava segura de si
nada a conduziria ao abismo
nenhum sentimento desenfreado 
não seria vencida, era pura razão e lucidez.

Contudo,
bem é verdade o dito popular:
coração é terra de ninguém
é castelo sem rei

desejo, amor e paixão não possui senhores

Ela veio até mim
batalha sangrenta
um cão sempre sabe/sente
quando a cadela está no cio
a cadela de modo análogo
[ainda que resista]
sente/sabe que desejará se entregar.
Não há como fugir da natureza constituinte
não há como fugir daquilo a qual fomos destinados.

O teatro se estabeleceu
não cedeu sem antes:
ser vencida
ser subjugada...
no jogo da sedução
ganha quem tem armas afiadas

A entrega é ritual divino
não basta o meu desejo
não basta o desejo do outro
se trata de desejar e ser desejado
eis a beleza inaudita da entrega
eis o ápice do amor

O desamor é não manter
o desejar dual
a via de mão dupla
o entregar-se gloriosamente.

Por fim, abriu-se para mim
feito cauda de pavão
e naquele instante 
a glória se consumou.






* Menção a passagem mítica, contida no livro de Gênese, de Adão e Eva a comer do fruto proibido.



José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe, Pós Graduado pela Faculdade Pio X em História do Brasil, Graduando do curso de Administração de Empresas pela UNIT, ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela ANBIMA, blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].



Um comentário:

  1. Que mundo maravilhoso, quem melhor para retratar este universo mágico? Há! O que seria o mundo sem a elegante figura do poeta, pena que uma hora terá que acordar e perceber que o prazer do universo lúdico e das vaidades humanas tem validade.

    ResponderExcluir