sexta-feira, 26 de junho de 2015

EM GREVE CONTRA A COVARDIA E CONTRA A EDUCAÇÃO QUE APRISIONA.




Sem dúvidas, a educação é a enteada da sociedade brasileira. E como toda madrasta [deve haver exceções] não é flor que se cheire, a sociedade brasileira anda de costas para a educação, a filha indesejada. Não é novidade ouvir as pessoas renderem elogios aos profissionais da educação, contudo essas mesmas pessoas não desejariam que seus filhos seguissem a carreira do magistério; e, não por acaso, muitos profissionais da educação abandonam suas profissões por outras que melhor lhe remuneram, inclusive, na maioria dos casos, exigindo um trabalho menos árduo.

Pois bem, não vim falar do olhar que a pátria reserva à educação e sim, vim rebater os argumentos bolorentos e fantasiosos [não vou chamar de covardes e fracos, pois esses adjetivos me fizeram ganhar novos amigos entre meus colegas de ofício] de alguns colegas de profissão, quando do momento da greve iniciada em 18/05/2015 e terminada a pulso de ferro 30 dias após o início do movimento grevista.

Um dos argumentos que ouvir dizia: “a greve não é o único instrumento de luta dos professores”. Concordo. Todavia, ela só é usada, quando outras tentativas de defesa [falo defesa, pois faz muito tempo que não conquistamos nada, nossa luta tem sido pela manutenção do já conquistado] dos nossos interesses fracassam em atingir os resultados das nossas questões coletivas. Por sua vez, vale ressaltar, que a greve não é apenas um cavalo de batalha, ela é um direito constitucional, fico a imaginar, será que esquecemos e/ou perdemos nossa capacidade de entendimento do significado de um direito? E, ainda mais, sendo constitucional?

A greve é um ponto de equilíbrio na coalizão de forças, sendo que somos a parte frágil, vulnerável, sensível da relação com os patrões e/ou Estado; ela serve única e exclusivamente como fiel da balança, tentando harmonizar as forças opostas, ainda que temporariamente. Lamentavelmente, a greve na educação não causa um impacto econômico negativo, não afeta o funcionamento de setores estratégicos do Estado [incrível, mesmo que por um instante, até eu esqueci de incluir a educação como setor estratégico do Estado] para pressionar ou exercer qualquer tipo de poder no sentido de forçar a outra parte a negociar. Problema é que a força da greve reside na mobilização coletiva, pois é a partir do coletivo que as diferentes demandas surgem, sejam elas: salariais, de valorização da profissão, de condições de trabalho ou em prol de uma educação pública, gratuita de qualidade e universal. E é a partir da greve que essas pautas ganham visibilidade, promovem o debate e criam desconfortos [ou deveria criar] nas autoridades que são responsáveis pelo fornecimento do serviço.

Mas, há aqueles professores que não defendem a greve e aí apontam outras alternativas. Eu, então, alugo meus ouvidos para as sugestões: “devemos ocupar as ruas e protestar”. Aí eu pergunto, e como ocupar as ruas sem um quantitativo grandioso de professores? Como ocupar as ruas se estamos ocupados com nossas rotinas? Como ocupar as ruas se os outros somos nós mesmos, explico melhor, condenam que não vão ninguém, quando na verdade quem não vai somos nós mesmos. Sem o coletivo em marcha não atingimos nosso intento, não há sucesso na empreitada.

Como os argumentos não param, insistem: “devemos ir para os rádios, TV's...”. Das duas uma, ou são ingênuos no pensar e falar ou tentam esconder a falta de atitude e iniciativa em argumentos vazios. Será que desconhecem que os rádios e TV's, apesar de serem concessões, são propriedades da iniciativa privada, que por sua vez não coaduna com a ideia de serviço público e que possuem interesses divergentes dos nossos e das demandas populares? Sem contar que essas concessões só nos servem, justamente, quando estamos em greve, ainda que seja para deturpar os nossos motivos, porém a visibilidade só ocorre durante esses instantes de enfrentamento nas greves.

Além dos argumentos citados, existem aqueles que se declaram militantes históricos, professores atuantes, experientes e que faz tempo ocupam as ruas, contudo nunca encontrei esses professores nas assembleias, nos atos públicos, em eventos nas cidades e/ou escolas onde lecionam, em caravanas ou palestras nos bairros onde residem seus alunos feito arautos a defenderem a escola pública. Ah! Também existem aqueles que até bem pouco tempo arregimentavam pessoas para as assembleias, atos e mobilizações de ruas, todavia no presente condenam com veemência tudo aquilo que até bem pouco tempo eram seu ofício primeiro. Eu pergunto, o que mudou? A opinião dessas pessoas ou o lado de atuação? Antes explorado, agora explorador.

As alegações não param, ou melhor, a frouxidão não tem limites. Há quem argumente, que não para porque seus alunos requerem atençao e cuidados especiais, mas esses são os mesmos que no fluxo regular do ano letivo demonstram desprezos pelos resultados dos alunos e se apresentam desmotivados na labuta habitual. Falácia! Não param por decisão própria de furar a greve, esses são os tradicionais pelegos [origem histórica da palavra atribuída aos pusilâmines de caráter que amaciam a tensão dos lados opostos].


Por fim, há quem diga que a greve só prejudica os alunos. Mas, também tenho resposta para essa alegação, melhor, tenho perguntas a fazer. O que, verdadeiramente, causa prejuízos a educação dos alunos? A interrupção por alguns dias das aulas em defesa da valorização da profissão e da valorização da educação pública ou a falta de estrutura e condições de trabalho e de aprendizagem? Tomemos como exemplo nossa greve, iniciada em 18/05/2015 e trinta dias após chegou ao fim, tendo como questões motivadoras: a exigência do piso salarial, garantido constitucionalmente, defendendo a escola pública, defendendo e exigindo condições adequadas de ensino-aprendizagem e de ingresso e permanência na escola por parte dos alunos pobres? Não estou nem a questionar o fato do governo do Estado, sequer ter nos ofertado o índice da inflação como forma de proteger nossos salários da defasagem.

A educação como havia anunciado na introdução deste texto é sim a enteada desta pátria. Faltam professores em muitas áreas do ensino, faltam estruturas necessárias à edificação do saber, a saber, faltam bibliotecas [que funcionem desempenhando seu papel, pois depósitos de livros não servem a nada nem a ninguém, desconsiderando as traças], faltam laboratórios, faltam alimentação adequada, faltam... a lista se alonga. Todos esses problemas foram e são causados por uma política de Estado [ou pela ausência de uma] que visa aumentar o número de matrículas, porém ignora o aumento necessários de professores em sala de aula, ignora a reserva de recursos financeiros para infra-estrutura, manutenção das escolas e assistência aos alunos e professores.

Os professores que vestem a máscara do medo e da covardia, ignoram o aporte de recursos do Estado destinados para custear sinecuras de apadrinhados e outros tantos que escorrem pelo ralo das licitações. Por isso, que alguns estudantes mais lúcidos fizeram da greve dos professores a sua luta também, pois sabem eles que as questões discutidas são da maior relevância e interesse dos estudantes. Enquanto, os professores que condenam a greve argumentam que os únicos prejudicados são os alunos, esses mesmos alunos mostram as esses professores que eles desconhecem completamente a posição dos próprios estudantes. Isso prova que professor também pode aprender com os alunos.

Outros mais condenam o SINTESE. Os críticos da entidade são os pseudo revolucionários, que se sentem no direito de caminharem na contramão das decisões da assembleia. No entanto, as atitudes revelam quem, de fato, têm atuado em favor dos professores, o SINTESE. Pasmem, mas os pseudo revolucionários sequer mudam suas vidas, quiçá os rumos das negociações da categoria. As conquistas adquiridas por esta categoria, todas, todas elas vieram como resultado do esforço coletivo. E o espaço de somação de forças são as assembleias, que põe em ação nossa entidade, o ser artificial que luta contra o monstro artificial que é o Estado. Na estrutura de Estado não existe diálogo com um indíviduo e sim com as entidades de classe. Tolice é pensar o contrário. É nas assembleias que direcionamos o soco, o chute, o mata leão contra nosso opositor; é nas assembleias que traçamos nossos passos, avaliando, divergindo, debatendo e chegando a conclusões.

Não faço defesa gratuita de dirigente sindical, mas ouvir de colegas professores que as decisões das assembleias são meras reproduções das vontades desses dirigentes, revela a ausência desses professores na citadas assembleias e chega a ser cômica para não dizer trágica a fala desses colegas, quando sabemos que os dirigentes sindicais da nossa entidade de classe exercem, na maioria da vezes, suas atividades sindicais sem dispensa das atividades escolares.

Aos colegas que ficaram ofendidos ao longo das nossas conversas no decorrer da greve, deixo aqui minha palavra final, não retiro uma vírgula daquilo que falei, pois minhas palavras caminham lado a lado com minha vida concreta. Ajudei a organizar e participei de atos públicos nas duas cidades onde leciono, como forma de prestar contas à sociedade pela interrupção de um direito social garantido a todos, apresentei os motivos, pedi apoio, compreensão e deixei claro que sou um executor do serviço público que é a educação e não o responsável pela oferta, que é dever do Estado.

Findo afirmando, não concordo para parecer educado ou por solidariedade, concordo quando estou convicto e impregnado da certeza e das ideias, logo fui sincero com aqueles com os quais discordei e concordei.



José Ailton Santos - Licenciado em História pela UFS, professor efetivo da rede estadual de Sergipe, lotado nas cidades de Cedro de São João e Propriá, blogueiro, aprendiz de poeta e feliz.

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