Sem dúvidas, a
educação é a enteada da sociedade brasileira. E como toda madrasta
[deve haver exceções] não é flor que se cheire, a sociedade
brasileira anda de costas para a educação, a filha indesejada. Não
é novidade ouvir as pessoas renderem elogios aos profissionais da
educação, contudo essas mesmas pessoas não desejariam que seus
filhos seguissem a carreira do magistério; e, não por acaso, muitos
profissionais da educação abandonam suas profissões por outras que
melhor lhe remuneram, inclusive, na maioria dos casos, exigindo um
trabalho menos árduo.
Pois bem, não vim
falar do olhar que a pátria reserva à educação e sim, vim rebater
os argumentos bolorentos e fantasiosos [não vou chamar de covardes e
fracos, pois esses adjetivos me fizeram ganhar novos amigos entre meus
colegas de ofício] de alguns colegas de profissão, quando do
momento da greve iniciada em 18/05/2015 e terminada a pulso de ferro
30 dias após o início do movimento grevista.
Um dos argumentos
que ouvir dizia: “a greve não é o único instrumento de luta dos
professores”. Concordo. Todavia, ela só é usada, quando outras
tentativas de defesa [falo defesa, pois faz muito tempo que não
conquistamos nada, nossa luta tem sido pela manutenção do já
conquistado] dos nossos interesses fracassam em atingir os resultados
das nossas questões coletivas. Por sua vez, vale ressaltar, que a
greve não é apenas um cavalo de batalha, ela é um direito
constitucional, fico a imaginar, será que esquecemos e/ou perdemos
nossa capacidade de entendimento do significado de um direito? E,
ainda mais, sendo constitucional?
A greve é um ponto
de equilíbrio na coalizão de forças, sendo que somos a parte
frágil, vulnerável, sensível da relação com os patrões e/ou
Estado; ela serve única e exclusivamente como fiel da balança,
tentando harmonizar as forças opostas, ainda que temporariamente.
Lamentavelmente, a greve na educação não causa um impacto
econômico negativo, não afeta o funcionamento de setores
estratégicos do Estado [incrível, mesmo que por um instante, até
eu esqueci de incluir a educação como setor estratégico do Estado]
para pressionar ou exercer qualquer tipo de poder no sentido de
forçar a outra parte a negociar. Problema é que a força da greve
reside na mobilização coletiva, pois é a partir do coletivo que as
diferentes demandas surgem, sejam elas: salariais, de valorização
da profissão, de condições de trabalho ou em prol de uma educação
pública, gratuita de qualidade e universal. E é a partir da greve
que essas pautas ganham visibilidade, promovem o debate e criam
desconfortos [ou deveria criar] nas autoridades que são
responsáveis pelo fornecimento do serviço.
Mas, há aqueles
professores que não defendem a greve e aí apontam outras
alternativas. Eu, então, alugo meus ouvidos para as sugestões:
“devemos ocupar as ruas e protestar”. Aí eu pergunto, e como
ocupar as ruas sem um quantitativo grandioso de professores? Como
ocupar as ruas se estamos ocupados com nossas rotinas? Como ocupar as
ruas se os outros somos nós mesmos, explico melhor, condenam que não
vão ninguém, quando na verdade quem não vai somos nós mesmos. Sem
o coletivo em marcha não atingimos nosso intento, não há sucesso
na empreitada.
Como os argumentos
não param, insistem: “devemos ir para os rádios, TV's...”. Das
duas uma, ou são ingênuos no pensar e falar ou tentam esconder a
falta de atitude e iniciativa em argumentos vazios. Será que
desconhecem que os rádios e TV's, apesar de serem concessões, são
propriedades da iniciativa privada, que por sua vez não coaduna com
a ideia de serviço público e que possuem interesses divergentes dos
nossos e das demandas populares? Sem contar que essas concessões só
nos servem, justamente, quando estamos em greve, ainda que seja para
deturpar os nossos motivos, porém a visibilidade só ocorre durante
esses instantes de enfrentamento nas greves.
Além dos argumentos
citados, existem aqueles que se declaram militantes históricos,
professores atuantes, experientes e que faz tempo ocupam as ruas,
contudo nunca encontrei esses professores nas assembleias, nos atos
públicos, em eventos nas cidades e/ou escolas onde lecionam, em
caravanas ou palestras nos bairros onde residem seus alunos feito
arautos a defenderem a escola pública. Ah! Também existem aqueles
que até bem pouco tempo arregimentavam pessoas para as assembleias,
atos e mobilizações de ruas, todavia no presente condenam com
veemência tudo aquilo que até bem pouco tempo eram seu ofício
primeiro. Eu pergunto, o que mudou? A opinião dessas pessoas ou o
lado de atuação? Antes explorado, agora explorador.
As alegações não
param, ou melhor, a frouxidão não tem limites. Há quem argumente,
que não para porque seus alunos requerem atençao e cuidados
especiais, mas esses são os mesmos que no fluxo regular do ano
letivo demonstram desprezos pelos resultados dos alunos e se
apresentam desmotivados na labuta habitual. Falácia! Não param por
decisão própria de furar a greve, esses são os tradicionais
pelegos [origem histórica da palavra atribuída aos pusilâmines de
caráter que amaciam a tensão dos lados opostos].
Por fim, há quem
diga que a greve só prejudica os alunos. Mas, também tenho resposta
para essa alegação, melhor, tenho perguntas a fazer. O que,
verdadeiramente, causa prejuízos a educação dos alunos? A
interrupção por alguns dias das aulas em defesa da valorização da
profissão e da valorização da educação pública ou a falta de
estrutura e condições de trabalho e de aprendizagem? Tomemos como
exemplo nossa greve, iniciada em 18/05/2015 e trinta dias após
chegou ao fim, tendo como questões motivadoras: a exigência do piso
salarial, garantido constitucionalmente, defendendo a escola pública,
defendendo e exigindo condições adequadas de ensino-aprendizagem e
de ingresso e permanência na escola por parte dos alunos pobres? Não
estou nem a questionar o fato do governo do Estado, sequer ter nos
ofertado o índice da inflação como forma de proteger nossos
salários da defasagem.
A educação como
havia anunciado na introdução deste texto é sim a enteada desta
pátria. Faltam professores em muitas áreas do ensino, faltam
estruturas necessárias à edificação do saber, a saber, faltam
bibliotecas [que funcionem desempenhando seu papel, pois depósitos
de livros não servem a nada nem a ninguém, desconsiderando as
traças], faltam laboratórios, faltam alimentação adequada,
faltam... a lista se alonga. Todos esses problemas foram e são
causados por uma política de Estado [ou pela ausência de uma] que
visa aumentar o número de matrículas, porém ignora o aumento
necessários de professores em sala de aula, ignora a reserva de
recursos financeiros para infra-estrutura, manutenção das escolas e
assistência aos alunos e professores.
Os professores que
vestem a máscara do medo e da covardia, ignoram o aporte de recursos
do Estado destinados para custear sinecuras de apadrinhados e outros
tantos que escorrem pelo ralo das licitações. Por isso, que alguns
estudantes mais lúcidos fizeram da greve dos professores a sua luta
também, pois sabem eles que as questões discutidas são da maior
relevância e interesse dos estudantes. Enquanto, os professores que
condenam a greve argumentam que os únicos prejudicados são os
alunos, esses mesmos alunos mostram as esses professores que eles
desconhecem completamente a posição dos próprios estudantes. Isso
prova que professor também pode aprender com os alunos.
Outros mais condenam
o SINTESE. Os críticos da entidade são os pseudo revolucionários, que se sentem no direito
de caminharem na contramão das decisões da assembleia. No entanto,
as atitudes revelam quem, de fato, têm atuado em favor dos professores, o
SINTESE. Pasmem, mas os pseudo revolucionários sequer mudam suas
vidas, quiçá os rumos das negociações da categoria. As conquistas
adquiridas por esta categoria, todas, todas elas vieram como resultado do esforço
coletivo. E o espaço de somação de forças são as assembleias, que põe em ação nossa
entidade, o ser artificial que luta contra o monstro artificial que é
o Estado. Na estrutura de Estado não existe diálogo com um indíviduo e sim com as entidades de classe. Tolice é pensar o contrário.
É nas assembleias que direcionamos o soco, o chute, o mata leão contra nosso opositor; é nas assembleias que
traçamos nossos passos, avaliando, divergindo, debatendo e chegando
a conclusões.
Não faço defesa
gratuita de dirigente sindical, mas ouvir de colegas professores que
as decisões das assembleias são meras reproduções das vontades
desses dirigentes, revela a ausência desses professores na citadas
assembleias e chega a ser cômica para não dizer trágica a fala
desses colegas, quando sabemos que os dirigentes sindicais da nossa
entidade de classe exercem, na maioria da vezes, suas atividades
sindicais sem dispensa das atividades escolares.
Aos colegas que
ficaram ofendidos ao longo das nossas conversas no decorrer da greve,
deixo aqui minha palavra final, não retiro uma vírgula daquilo que
falei, pois minhas palavras caminham lado a lado com minha vida
concreta. Ajudei a organizar e participei de atos públicos nas duas
cidades onde leciono, como forma de prestar contas à sociedade pela
interrupção de um direito social garantido a todos, apresentei os
motivos, pedi apoio, compreensão e deixei claro que sou um executor
do serviço público que é a educação e não o responsável pela
oferta, que é dever do Estado.
Findo afirmando, não
concordo para parecer educado ou por solidariedade, concordo quando
estou convicto e impregnado da certeza e das ideias, logo fui sincero
com aqueles com os quais discordei e concordei.
José Ailton Santos - Licenciado em História pela UFS, professor efetivo da rede estadual de Sergipe, lotado nas cidades de Cedro de São João e Propriá, blogueiro, aprendiz de poeta e feliz.

