domingo, 29 de novembro de 2015
SATANÁS: DO EQUÍVOCO MORAL AO PERSONAGEM MÍTICO
Em alguns casos, cortar os galhos não resolve, é preciso extirpar a planta por inteiro; de modo análogo, quem se exercita na superfície não conhece os mistérios do fundo do rio, pois o preço para conhecer tais mistérios é mergulhar, ir às profundezas, tarefa que exige fôlego e coragem. Doravante, tentarei iniciar meu mergulho refutando um texto de autor familiar, intitulado, Satanás: um mal moral ou um bem necessário?
terça-feira, 10 de novembro de 2015
SOU ISSO, MAS TAMBÉM SOU PROFESSOR.
"É
muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e
glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os
pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito, porque
vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota.
"
(
Theodore Roosevelt )
Talvez
você não tenha atentado para o veneno contido no título deste
texto em relação ao ofício de professor. Isso mesmo, amigo! As
palavras são vivas e, como tal, variam da euforia a melancolia, do
amor ao ódio...revelam sentimentos. Se alguém diz, “prefiro ele a
você”, a desaprovação contida em palavras escritas desencadeiam
em nós reações as mais variadas, do contrário, se recebermos como
resultado de uma avaliação as seguintes palavras: apto, excelente,
ótimo desempenho... essas palavras diferentemente das anteriores,
fazem emergir em nós um sentimento de alegria.
Pois
bem, deixemos de lado a fala prolixa acima e vamos ao cerne da
questão. O ofício de professor [afirmação extremamente pessoal]
está se convertendo numa nódoa, uma espécie de lepra das
ocupações, aqueles que possui essa atividade como ocupação não
mais sentem o orgulho nem o brilho no olhar ao se revelarem
professor. Isso mesmo! Quem diz o contrário está tentando se
convencer, pois não convence a quem ouve, de uma grande mentira.
Quem,
hoje, é professor e se mantém na profissão, busca outra ocupação
ou para completar o orçamento financeiro ou para compensar a
insatisfação com o trabalho. Quem possui dois vínculos no
magistério reza todas as noites para santos e orixás no desejo de
se aposentar de um deles ou dos dois, na melhor das hipóteses, o que
é uma grande contradição com a fala que diz: “eu amo a sala de
aula, eu adoro meus alunos”, porém os olhos não brilham, o riso
não é espontâneo, alimentam um mentira como se verdade fosse.
Agora, amigo, quando um colega de jaleco, apagador e giz fala para
outro, “eu me aposentei de um dos meus vínculos do magistério,
quiçá dos dois”; a face brilha igual paciente que acaba de fazer
uma recauchutada de bisturi e butox, fica jovem, ganha vida.
Todavia,
convenhamos, o calvário e sofrível. Há muito a sala de aula deixou
de ser um espaço criativo, convidativo e dinâmico. Dê-me mais um
instante da sua valiosa atenção e vou elencar alguns dos motivos
que tornam a profissão secundarizada. Vivemos
uma confusão conceitual na prática, nossos alunos não gozam de
liberdade, mas de libertinagem, isso mesmo, licenciosidade de
costume. Entregam-se de modo imoderado aos prazeres sexuais em tenra
idade, desrespeitam os pais, os mais velhos, os mestres e ignoram
valores compactuados e compartilhados histórico socialmente.
Vou
me aventurar ser taxado de arrogante e autoritário, mas, em tese,
são aprendizes, possuem um conhecimento limitado e se comportam de
modo a afrontar e diminuir o conhecimento dos mestres. Recuso-me a
aceitar questionamentos desacompanhados de fundamentação. Explico
melhor, alunos que desconhecem o mínimo de ortografia não podem me
aconselhar sobre a correta escrita.
Estamos
alimentando monstros. Estou a falar de filhos que crescem à sombra
dos pais, sem reservar a esses, o mínimo de respeito, sem conhecerem
limites, sem cobranças, sem responsabilidades... e, em
contrapartida, tendo tudo o que desejam. São vencedores sem glória.
Estou
a denunciar que a educação pública do nosso país não funciona. E como
façanha conseguiu algemar os agentes transformadores. Professor não
pode reprovar, senão tem que justificar porque interrompeu a
evolução de um aluno que não domina, que desconhece, o mínimo de
saberes necessários ao processo de ensino-aprendizagem do ano
seguinte na escala educativa.
Não
vou me alongar em falar mais do mesmo, não vou engrossar o caldo
dessa sopa que está no fogo faz tempo. Apenas quero dizer, o sonho
d'antes não me visita faz tempo, o jardim tem dado lugar as pedras,
o beija-flor não encontra mais flores... e eu, tenho feito muitas
coisas, mas também [e ainda] sou professor.
Para
meus alunos [quem é exceção sabe] dou nota CINCO por padrão e
para os pais dos meus alunos dou nota ZERO.
José Ailton Santos - Esposo, Pai, Amigo, blogueiro e também Professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe.
sexta-feira, 26 de junho de 2015
EM GREVE CONTRA A COVARDIA E CONTRA A EDUCAÇÃO QUE APRISIONA.
Sem dúvidas, a
educação é a enteada da sociedade brasileira. E como toda madrasta
[deve haver exceções] não é flor que se cheire, a sociedade
brasileira anda de costas para a educação, a filha indesejada. Não
é novidade ouvir as pessoas renderem elogios aos profissionais da
educação, contudo essas mesmas pessoas não desejariam que seus
filhos seguissem a carreira do magistério; e, não por acaso, muitos
profissionais da educação abandonam suas profissões por outras que
melhor lhe remuneram, inclusive, na maioria dos casos, exigindo um
trabalho menos árduo.
Pois bem, não vim
falar do olhar que a pátria reserva à educação e sim, vim rebater
os argumentos bolorentos e fantasiosos [não vou chamar de covardes e
fracos, pois esses adjetivos me fizeram ganhar novos amigos entre meus
colegas de ofício] de alguns colegas de profissão, quando do
momento da greve iniciada em 18/05/2015 e terminada a pulso de ferro
30 dias após o início do movimento grevista.
Um dos argumentos
que ouvir dizia: “a greve não é o único instrumento de luta dos
professores”. Concordo. Todavia, ela só é usada, quando outras
tentativas de defesa [falo defesa, pois faz muito tempo que não
conquistamos nada, nossa luta tem sido pela manutenção do já
conquistado] dos nossos interesses fracassam em atingir os resultados
das nossas questões coletivas. Por sua vez, vale ressaltar, que a
greve não é apenas um cavalo de batalha, ela é um direito
constitucional, fico a imaginar, será que esquecemos e/ou perdemos
nossa capacidade de entendimento do significado de um direito? E,
ainda mais, sendo constitucional?
A greve é um ponto
de equilíbrio na coalizão de forças, sendo que somos a parte
frágil, vulnerável, sensível da relação com os patrões e/ou
Estado; ela serve única e exclusivamente como fiel da balança,
tentando harmonizar as forças opostas, ainda que temporariamente.
Lamentavelmente, a greve na educação não causa um impacto
econômico negativo, não afeta o funcionamento de setores
estratégicos do Estado [incrível, mesmo que por um instante, até
eu esqueci de incluir a educação como setor estratégico do Estado]
para pressionar ou exercer qualquer tipo de poder no sentido de
forçar a outra parte a negociar. Problema é que a força da greve
reside na mobilização coletiva, pois é a partir do coletivo que as
diferentes demandas surgem, sejam elas: salariais, de valorização
da profissão, de condições de trabalho ou em prol de uma educação
pública, gratuita de qualidade e universal. E é a partir da greve
que essas pautas ganham visibilidade, promovem o debate e criam
desconfortos [ou deveria criar] nas autoridades que são
responsáveis pelo fornecimento do serviço.
Mas, há aqueles
professores que não defendem a greve e aí apontam outras
alternativas. Eu, então, alugo meus ouvidos para as sugestões:
“devemos ocupar as ruas e protestar”. Aí eu pergunto, e como
ocupar as ruas sem um quantitativo grandioso de professores? Como
ocupar as ruas se estamos ocupados com nossas rotinas? Como ocupar as
ruas se os outros somos nós mesmos, explico melhor, condenam que não
vão ninguém, quando na verdade quem não vai somos nós mesmos. Sem
o coletivo em marcha não atingimos nosso intento, não há sucesso
na empreitada.
Como os argumentos
não param, insistem: “devemos ir para os rádios, TV's...”. Das
duas uma, ou são ingênuos no pensar e falar ou tentam esconder a
falta de atitude e iniciativa em argumentos vazios. Será que
desconhecem que os rádios e TV's, apesar de serem concessões, são
propriedades da iniciativa privada, que por sua vez não coaduna com
a ideia de serviço público e que possuem interesses divergentes dos
nossos e das demandas populares? Sem contar que essas concessões só
nos servem, justamente, quando estamos em greve, ainda que seja para
deturpar os nossos motivos, porém a visibilidade só ocorre durante
esses instantes de enfrentamento nas greves.
Além dos argumentos
citados, existem aqueles que se declaram militantes históricos,
professores atuantes, experientes e que faz tempo ocupam as ruas,
contudo nunca encontrei esses professores nas assembleias, nos atos
públicos, em eventos nas cidades e/ou escolas onde lecionam, em
caravanas ou palestras nos bairros onde residem seus alunos feito
arautos a defenderem a escola pública. Ah! Também existem aqueles
que até bem pouco tempo arregimentavam pessoas para as assembleias,
atos e mobilizações de ruas, todavia no presente condenam com
veemência tudo aquilo que até bem pouco tempo eram seu ofício
primeiro. Eu pergunto, o que mudou? A opinião dessas pessoas ou o
lado de atuação? Antes explorado, agora explorador.
As alegações não
param, ou melhor, a frouxidão não tem limites. Há quem argumente,
que não para porque seus alunos requerem atençao e cuidados
especiais, mas esses são os mesmos que no fluxo regular do ano
letivo demonstram desprezos pelos resultados dos alunos e se
apresentam desmotivados na labuta habitual. Falácia! Não param por
decisão própria de furar a greve, esses são os tradicionais
pelegos [origem histórica da palavra atribuída aos pusilâmines de
caráter que amaciam a tensão dos lados opostos].
Por fim, há quem
diga que a greve só prejudica os alunos. Mas, também tenho resposta
para essa alegação, melhor, tenho perguntas a fazer. O que,
verdadeiramente, causa prejuízos a educação dos alunos? A
interrupção por alguns dias das aulas em defesa da valorização da
profissão e da valorização da educação pública ou a falta de
estrutura e condições de trabalho e de aprendizagem? Tomemos como
exemplo nossa greve, iniciada em 18/05/2015 e trinta dias após
chegou ao fim, tendo como questões motivadoras: a exigência do piso
salarial, garantido constitucionalmente, defendendo a escola pública,
defendendo e exigindo condições adequadas de ensino-aprendizagem e
de ingresso e permanência na escola por parte dos alunos pobres? Não
estou nem a questionar o fato do governo do Estado, sequer ter nos
ofertado o índice da inflação como forma de proteger nossos
salários da defasagem.
A educação como
havia anunciado na introdução deste texto é sim a enteada desta
pátria. Faltam professores em muitas áreas do ensino, faltam
estruturas necessárias à edificação do saber, a saber, faltam
bibliotecas [que funcionem desempenhando seu papel, pois depósitos
de livros não servem a nada nem a ninguém, desconsiderando as
traças], faltam laboratórios, faltam alimentação adequada,
faltam... a lista se alonga. Todos esses problemas foram e são
causados por uma política de Estado [ou pela ausência de uma] que
visa aumentar o número de matrículas, porém ignora o aumento
necessários de professores em sala de aula, ignora a reserva de
recursos financeiros para infra-estrutura, manutenção das escolas e
assistência aos alunos e professores.
Os professores que
vestem a máscara do medo e da covardia, ignoram o aporte de recursos
do Estado destinados para custear sinecuras de apadrinhados e outros
tantos que escorrem pelo ralo das licitações. Por isso, que alguns
estudantes mais lúcidos fizeram da greve dos professores a sua luta
também, pois sabem eles que as questões discutidas são da maior
relevância e interesse dos estudantes. Enquanto, os professores que
condenam a greve argumentam que os únicos prejudicados são os
alunos, esses mesmos alunos mostram as esses professores que eles
desconhecem completamente a posição dos próprios estudantes. Isso
prova que professor também pode aprender com os alunos.
Outros mais condenam
o SINTESE. Os críticos da entidade são os pseudo revolucionários, que se sentem no direito
de caminharem na contramão das decisões da assembleia. No entanto,
as atitudes revelam quem, de fato, têm atuado em favor dos professores, o
SINTESE. Pasmem, mas os pseudo revolucionários sequer mudam suas
vidas, quiçá os rumos das negociações da categoria. As conquistas
adquiridas por esta categoria, todas, todas elas vieram como resultado do esforço
coletivo. E o espaço de somação de forças são as assembleias, que põe em ação nossa
entidade, o ser artificial que luta contra o monstro artificial que é
o Estado. Na estrutura de Estado não existe diálogo com um indíviduo e sim com as entidades de classe. Tolice é pensar o contrário.
É nas assembleias que direcionamos o soco, o chute, o mata leão contra nosso opositor; é nas assembleias que
traçamos nossos passos, avaliando, divergindo, debatendo e chegando
a conclusões.
Não faço defesa
gratuita de dirigente sindical, mas ouvir de colegas professores que
as decisões das assembleias são meras reproduções das vontades
desses dirigentes, revela a ausência desses professores na citadas
assembleias e chega a ser cômica para não dizer trágica a fala
desses colegas, quando sabemos que os dirigentes sindicais da nossa
entidade de classe exercem, na maioria da vezes, suas atividades
sindicais sem dispensa das atividades escolares.
Aos colegas que
ficaram ofendidos ao longo das nossas conversas no decorrer da greve,
deixo aqui minha palavra final, não retiro uma vírgula daquilo que
falei, pois minhas palavras caminham lado a lado com minha vida
concreta. Ajudei a organizar e participei de atos públicos nas duas
cidades onde leciono, como forma de prestar contas à sociedade pela
interrupção de um direito social garantido a todos, apresentei os
motivos, pedi apoio, compreensão e deixei claro que sou um executor
do serviço público que é a educação e não o responsável pela
oferta, que é dever do Estado.
Findo afirmando, não
concordo para parecer educado ou por solidariedade, concordo quando
estou convicto e impregnado da certeza e das ideias, logo fui sincero
com aqueles com os quais discordei e concordei.
José Ailton Santos - Licenciado em História pela UFS, professor efetivo da rede estadual de Sergipe, lotado nas cidades de Cedro de São João e Propriá, blogueiro, aprendiz de poeta e feliz.
domingo, 7 de junho de 2015
CARTA ABERTA À POPULAÇÃO DO BAIXO SÃO FRANCISCO
Nobres alunos,
senhoras mães e pães de alunos e toda comunidade em geral, é de
conhecimento de todos, que desde o dia 18/05/2015 os professores da
rede estadual de ensino paralisaram as aulas como forma de não
deixar vilipendiar um direito legal garantido a toda categoria de
professores.
Sabemos dos transtornos ocasionados pela suspensão temporária das aulas, sabemos também que educação é um direito social garantido à população em geral, porém é preciso deixar claro que é dever do Estado fornecer educação pública e gratuita, e, quando esse direito é negado devemos cobrar do Estado e não dos professores, pois esses são apenas executores desse serviço. Daí, não devemos aceitar as notas divulgadas pelo governo na mídia tentando responsabilizar os professores, como se esses fossem os responsáveis pela falta de aula nas escolas estaduais.
Vale ressaltar, que no ano passado, quando estávamos em greve para defender nosso direito, o governo encaminhou para assembleia da categoria um projeto que previa pagamento a partir de janeiro deste ano do nosso Piso Salarial [leia-se reajuste salarial] e tal projeto foi aprovado pelos 24 deputados estaduais, todavia o governo não cumpriu com o prometido, desrespeitando o projeto sancionado pela Assembleia Legislativa do Estado, impondo uma condição ridícula aos deputados que aprovaram o projeto e, de quebra, ainda se esforça para colocar a população do estado contra os professores.
O governo do Estado alega que não tem recursos financeiros para pagar o Piso dos Professores, mas não apresenta os números da arrecadação do estado, enquanto o Sindicato dos auditores do estado, que possuem informações sobre a arrecadação do estado, emite opinião diferente, de que o Estado de Sergipe tem sim condições de pagar não somente aos professores, mas aos outros trabalhadores das diferentes secretarias do estado.
Nota-se que o problema é falta de gestão das contas do estado, pois há muitas pessoas com altos salários, incompatíveis com o trabalho prestado, há pessoas desviadas de função e muitos apadrinhados alojados em cargos de comissão, também recebendo salários elevadíssimos. Enquanto, as escolas necessitam de reformas, os laboratórios de informática e de química necessitam de equipamentos e materiais, faltam alimentação para os alunos, inclusive, pasmem, mas faltam até pessoas para prepararem o alimento escolar, as salas de aula com alunos além da capacidade permitida, fato que prejudica o trabalho dos professores e o aprendizado dos alunos.
Diante desses fatos, pedimos a compreensão dos alunos, dos pais de aluno e dos diferentes setores da comunidade para que nos apoiem. Pedimos também que não enviem seus filhos às escolas, durante o período de greve, pois sabemos que existem também professores convidando alunos a irem à escola, motivados mais por interesses pessoais do que pela preocupação com os alunos, além do mais sabemos que é impossível se trabalhar com uma disciplina apenas, na verdade, este comportamento é revelador de pessoas ególatras, descomprometidas com as causas coletivas e caminha na contramão do exercício da cidadania, algo tão caro e que nossa comunidade necessita, quando deveriam era seguir a máxima corvus oculum corvi non eruit*.
Não existe teoria, seja ela ideológica, educativa, revolucionaria, cidadã, sem que essa seja acompanhada da prática transformadora. Afinal, é com o exemplo que tornamos concreto nossos sonhos, é do exemplo que necessitamos no dia a dia, pois a palavra convence, contudo é o exemplo que transforma. Nós professores não devemos usar as salas de aula para falar de cidadania, de democracia e negar a prática cotidiana. Nós cidadãos sergipanos que reclamamos diariamente da falta de direitos, não podemos condenar nem negar aos professores a garantia de lutar por um direito assegurado pela nossa carta magna, a Constituição Federal, por isso, pedimos que compreenda nossa luta e apoie nosso movimento grevista, pois estamos diariamente auribus teneo lupum** .
Vivemos em um estado legalista, onde as pessoas tem direitos e deveres e o descumprimento dessas normas gera punições e não é novidade para ninguém que, enquanto cidadãos, somos punidos amiúde. Nessa relação, o Estado também se reveste de direitos e responsabilidades, ou seja, se o Estado não cumpre com seus deveres o mesmo deve ser responsabilizado, problema é que nossa sociedade tem perdido a capacidade de fazer valer esse direito de responsabilizar o estado pelos descumprimentos dos seus deveres. Vamos provocar todas as esferas da sociedade e convocar uma Ação Civil Pública para tratar do tema.
O governo do estado, afirmo sem margem de erro, tem resistido a nossa demanda por saber que muitos de nós estamos habituados a perceber tudo como natural, retiram o terço dos professores na iminência de se aposentarem, depois de anos de dedicação à educação, e não fazemos esforço para manter esse direito histórico. É a velha mentalidade do "sempre foi assim", se moramos numa rua sem saneamento básico é porque sempre foi assim, se não dispomos de condição financeira é porque sempre foi assim, se somos miseráveis é porque somos "filhos de Adão". É preciso se indignar e não aceitar a naturalização das coisas, pois na esfera social tudo não passa de convenção e conveniência, daí vamos apresentar nossa condição e contribuição à sociedade.
Professores, vamos nos unir, igual uma corrente, que se constitui forte a cada elo. Não podemos ceder a ameaça do corte salarial, antes um mês sem salário a uma vida inteira de salaŕio medíocre. Antes um mês sem salário a uma vida inteira sem dignidade; antes um mês sem salário a ser um educador apático, antes um mês sem salário a ver nossos alunos recebendo uma educação desnecessária e incapaz de influir na sua condição social e humana.
Sabemos dos transtornos ocasionados pela suspensão temporária das aulas, sabemos também que educação é um direito social garantido à população em geral, porém é preciso deixar claro que é dever do Estado fornecer educação pública e gratuita, e, quando esse direito é negado devemos cobrar do Estado e não dos professores, pois esses são apenas executores desse serviço. Daí, não devemos aceitar as notas divulgadas pelo governo na mídia tentando responsabilizar os professores, como se esses fossem os responsáveis pela falta de aula nas escolas estaduais.
Vale ressaltar, que no ano passado, quando estávamos em greve para defender nosso direito, o governo encaminhou para assembleia da categoria um projeto que previa pagamento a partir de janeiro deste ano do nosso Piso Salarial [leia-se reajuste salarial] e tal projeto foi aprovado pelos 24 deputados estaduais, todavia o governo não cumpriu com o prometido, desrespeitando o projeto sancionado pela Assembleia Legislativa do Estado, impondo uma condição ridícula aos deputados que aprovaram o projeto e, de quebra, ainda se esforça para colocar a população do estado contra os professores.
O governo do Estado alega que não tem recursos financeiros para pagar o Piso dos Professores, mas não apresenta os números da arrecadação do estado, enquanto o Sindicato dos auditores do estado, que possuem informações sobre a arrecadação do estado, emite opinião diferente, de que o Estado de Sergipe tem sim condições de pagar não somente aos professores, mas aos outros trabalhadores das diferentes secretarias do estado.
Nota-se que o problema é falta de gestão das contas do estado, pois há muitas pessoas com altos salários, incompatíveis com o trabalho prestado, há pessoas desviadas de função e muitos apadrinhados alojados em cargos de comissão, também recebendo salários elevadíssimos. Enquanto, as escolas necessitam de reformas, os laboratórios de informática e de química necessitam de equipamentos e materiais, faltam alimentação para os alunos, inclusive, pasmem, mas faltam até pessoas para prepararem o alimento escolar, as salas de aula com alunos além da capacidade permitida, fato que prejudica o trabalho dos professores e o aprendizado dos alunos.
Diante desses fatos, pedimos a compreensão dos alunos, dos pais de aluno e dos diferentes setores da comunidade para que nos apoiem. Pedimos também que não enviem seus filhos às escolas, durante o período de greve, pois sabemos que existem também professores convidando alunos a irem à escola, motivados mais por interesses pessoais do que pela preocupação com os alunos, além do mais sabemos que é impossível se trabalhar com uma disciplina apenas, na verdade, este comportamento é revelador de pessoas ególatras, descomprometidas com as causas coletivas e caminha na contramão do exercício da cidadania, algo tão caro e que nossa comunidade necessita, quando deveriam era seguir a máxima corvus oculum corvi non eruit*.
Não existe teoria, seja ela ideológica, educativa, revolucionaria, cidadã, sem que essa seja acompanhada da prática transformadora. Afinal, é com o exemplo que tornamos concreto nossos sonhos, é do exemplo que necessitamos no dia a dia, pois a palavra convence, contudo é o exemplo que transforma. Nós professores não devemos usar as salas de aula para falar de cidadania, de democracia e negar a prática cotidiana. Nós cidadãos sergipanos que reclamamos diariamente da falta de direitos, não podemos condenar nem negar aos professores a garantia de lutar por um direito assegurado pela nossa carta magna, a Constituição Federal, por isso, pedimos que compreenda nossa luta e apoie nosso movimento grevista, pois estamos diariamente auribus teneo lupum** .
Vivemos em um estado legalista, onde as pessoas tem direitos e deveres e o descumprimento dessas normas gera punições e não é novidade para ninguém que, enquanto cidadãos, somos punidos amiúde. Nessa relação, o Estado também se reveste de direitos e responsabilidades, ou seja, se o Estado não cumpre com seus deveres o mesmo deve ser responsabilizado, problema é que nossa sociedade tem perdido a capacidade de fazer valer esse direito de responsabilizar o estado pelos descumprimentos dos seus deveres. Vamos provocar todas as esferas da sociedade e convocar uma Ação Civil Pública para tratar do tema.
O governo do estado, afirmo sem margem de erro, tem resistido a nossa demanda por saber que muitos de nós estamos habituados a perceber tudo como natural, retiram o terço dos professores na iminência de se aposentarem, depois de anos de dedicação à educação, e não fazemos esforço para manter esse direito histórico. É a velha mentalidade do "sempre foi assim", se moramos numa rua sem saneamento básico é porque sempre foi assim, se não dispomos de condição financeira é porque sempre foi assim, se somos miseráveis é porque somos "filhos de Adão". É preciso se indignar e não aceitar a naturalização das coisas, pois na esfera social tudo não passa de convenção e conveniência, daí vamos apresentar nossa condição e contribuição à sociedade.
Professores, vamos nos unir, igual uma corrente, que se constitui forte a cada elo. Não podemos ceder a ameaça do corte salarial, antes um mês sem salário a uma vida inteira de salaŕio medíocre. Antes um mês sem salário a uma vida inteira sem dignidade; antes um mês sem salário a ser um educador apático, antes um mês sem salário a ver nossos alunos recebendo uma educação desnecessária e incapaz de influir na sua condição social e humana.
José Ailton Santos
- Professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe,
leciona nas cidades de: Cedro de São João e Propriá.
* corvus oculum
corvi non eruit - significa, um corvo não arranca o olho de outro,
essa frase se refere ao comportamento solidário entre pessoas
semelhantes, ainda que seja apenas fingimento.
** auribus teneo lupum - significa, segurando um lobo pelas orelhas.
** auribus teneo lupum - significa, segurando um lobo pelas orelhas.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
A ARTE IMITA A VIDA
Quisera fosse um confeiteiro,
ainda que por curto tempo.
Quisera a vida fosse um bolo?!
Ah! Quantas possibilidades!
Esteja certo, meu amigo,
não iria perder tempo
em descobrir a receita correta
ou em fazer o bolo perfeito.
Apenas:
sujaria
ousaria
misturaria...
e comeria
[bastante].
antes de fazer,
enquanto faço
e depois de pronto.
Provaria um pedaço,
outro,
mais outro,
outro mais
e novamente outro...
quiçá comeria o bolo inteiro,
sem a culpa tradicional
de reservar um pedaço
para o próximo.
Isso mesmo!
Me deliciaria!
Sentiria o sabor:
entre os lábios
e a ponta da língua,
sem, sequer,
preocupar-me,
em lavar as mãos entre uma tarefa e outra.
Tão pouco me preocuparia com:
coloração,
tamanho,
formato...
Ainda sobre o ofício de confeiteiro
ou sobre o bolo
ou, quem sabe,
sobre a vida.
Digo-te:
- na minha cozinha, não há receitas,
apenas ingredientes
à espera de imaginação
e mãos hábeis.
[José Ailton Santos]
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
QUEM SOU EU?
Risos, risos (...) mais risos...
Perguntaram-me familiarmente,
o que houve com o historiador,
militante, socialista, justo...
defensor dos pobres, fracos e oprimidos...
Você quer saber?
Quer saber mesmo?
ESTOU:
mais velho,
mais pesado,
mais lento,
mais endinheirado...
TENHO:
menos fôlego,
menos amigos,
menos tempo para mim,
menos desejo sexual...
Até meus pecados diminuíram
[mas como nada é perfeito]
aumentaram de calibre,
ou seja, peco menos,
contudo, quando peco
o estrago é grande.
E se queres mesmo saber:
Eu mudei o bastante
para não continuar sendo o mesmo,
pois me dei conta
que os pobres não são tão pobres quanto pensei,
os fracos não são tão fracos assim
e os oprimidos? Ah, Os oprimidos!
Esses adorariam ser a imagem no espelho.
Risos, risos (...) mais risos...
Eu mudei o suficiente para ser quem sou.
[José Ailton Santos]
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
TÁ COMBINADO
Toma minha mão,
aceita o convite,
venha dançar comigo.
Não temas a chuva,
se deixe molhar,
pois a alegria
está no momento
feliz e fugaz.
Não hesite,
não feche a porta da paixão
[precursora do amor].
Afinal, para se entregar ao amor
não deves opor resistência,
deve... indubitavelmente,
ser vulnerável.
Dê-se uma chance,
feche os olhos,
converta-se em janela aberta
e feito vento em tarde crepuscular,
deixe entrar
e permita que eu te guie.
[José Ailton Santos]
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