Vivemos sem dúvida tempos muito confusos. Afinal, engolimos um boi e não nos entalamos, enquanto que, ao engolirmos um mosquito o engasgo é certo. Da mesma forma, a exceção há muito é tratada como regra e, quando esta ocorre, tratamo-la como acidental. Vou simplificar para que os menos acostumados com enigmas e devaneios compreendam o caso em questão. Todo esse arrodeio é para tratar da eleição recente ocorrida na Assembleia Legislativa de Sergipe para escolha do candidato a vaga de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, ocorrida na última terça-feira (30).
Há muito que esse tipo de
eleição não passava [se é que em algum momento deixou de ser como sempre foi] de
uma mera ratificação da escolha prévia de um nome, um consenso que elege o mais
belo entre os deuses do Panteão. Traduzindo a metáfora da beleza apolínea, essa
seria o apoio do Governo do estado, ao menos, essa sempre foi a regra da casa
para a escolha dos conselheiros em Sergipe. Isso, desde a gênese do tribunal. E para
citar apenas alguns dos últimos eleitos: Clóvis Barbosa, Ulisses Andrade, Luís Augusto Ribeiro e,
agora, Suzana Azevedo. Os três primeiros indicados por Déda e apoiados pela
maioria dos 24 deputados da assembleia, enquanto a última, não passa de um caso
atípico. Será?
Segundo a boca miúda, as primeiras pinceladas
da pintura – eleição para conselheiro do TCE – foram dadas às vésperas da
composição da chapa que intentava a reeleição do governador do estado, em 2009.
Quando Déda, ao mexer as pedras do xadrez numa movimentação arriscada, porém
sem ignorar a prudência, tentou ganhar duas posições em solo inimigo com uma só
jogada, a saber, cumprir a deliberação nacional do seu partido de aliança com o
PMDB, substituindo seu então vice, Belivaldo Chagas, que também é seu conterrâneo,
por Jackson Barreto e assegurar o apoio dos irmãos Amorim. A jogada perfeita, em um jogo de xadrez manhoso, garantiu a vitória nas urnas e a permanência no
executivo estadual por mais quatro anos.
Todavia, conforme diz Sun Tzu, a
guerra é uma questão de vital importância para o Estado. Por conseguinte, torna-se
de suma importância estudá-la com muito cuidado em todos os seus detalhes.
Talvez, o detalhe não percebido por Déda, e se percebido, não eliminado, foi a
crescente força do grupo liderado pelos irmãos Amorim, que também tinham seus
interesses, ainda que não claramente revelados.
Pois bem, a ruptura do grupo
dos dois irmãos itabaianenses com o Governo do estado [aqui não me darei ao
trabalho de comentar a quebra de compromissos, pois os jornais locais já discutiram
em demasia] foi sem dúvida o estopim, a luz artificial, que alumiou os caminhos
antagônicos entre o governo e sua base aliada. Fato é, que, enquanto o apoio
vigorou, Marcelo Déda conseguiu dar o direcionamento que melhor lhe convinha a
Assembleia Legislativa. Inclusive, dando um ar de indolência as atividades
legislativas, pois, ainda que, a oposição apregoasse contra o ocorrido, seus esforços
eram pífios à vista da força aparente do governo.
No entanto, no final do
primeiro semestre de 2012, a pintura inicial começou a ganhar ar de
desbotamento [governabilidade] e o pintor [Marcelo Déda] a demonstra fadiga em relação ao desenho pretendido. Enquanto
isso, Belivaldo Chagas, a quem a tela havia sido prometida começou a demonstrar
inquietação. Afinal de contas, Belivaldo havia “concordado” em ceder o lugar de
vice na chapa majoritária nas eleições estaduais de 2009 para Jackson Barreto,
então presidente estadual do PMDB, e como no mundo da política não há espaço
para gentilezas gratuitas, recebeu em troca do gesto a Secretaria de Estado da
Educação e a promessa de assumir a vaga da Conselheira do TCE, Isabel Nabuco,
que se aposentaria compulsoriamente, em 2012.
O grande problema é que,
diferente do que imaginava Déda, o gigante não tinha os pés de barro. O gigante
chamado Edivan Amorim [empresário bem sucedido, líder maior de um conjunto de
partidos e com crescente inserção no cenário nacional] se deu conta que também sabia
cuspir fogo e de cara conseguiu desbancar o governo e seus sequazes, reelegendo
a Dep. Angélica Guimarães para a presidência da ALESE [Assembleia Legislativa
do Estado] e, em uma segunda batalha, elegeu, por um placar de 13 X 09, Susana
Azevedo conselheira do Tribunal de Contas. Extirpando os sonhos de Belivaldo, então
candidato do governo Déda, e fazendo com que este último cuide melhor do seu rei para
não receber um xeque-mate.
Vendo escorregar pelos dedos a tão almejada promessa de se tornar conselheiro, Belivaldo Chagas, entediou-se com os afazeres da educação do estado, foi às compras e comprou para seu ateliê improvisado, um manual de pintura, pincel, tinta e uma tela de 13 X 09 para pintar um quadro surreal. E, após algumas tentativas malogradas, conseguiu pôr fim a sua tela em óleo, onde se vê um peixe com 13 nadadeiras engolindo uma estrela vermelha de 09 pontas.
Ao que parece, o pintor não feliz com a pintura [derrota na eleição da ALESE] pleiteia arregaçar as mangas [ingressou com pedido na justiça para anular a votação] e fazer novas telas. Apenas, não sabemos se vai continuar fiel a escola Surrealista, tão pouco, se continuará infeliz com o resultado dos trabalhos, pelo jeito, vamos ter que esperar para ver.

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