quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

TERAPIA




Corpo horizontalizado no divã,
músculos e mentes livres de tensões
feito embarcação à deriva
minha vida transcorria
embalada pelo movimento das águas
num mar de palavras

já não havia as amarras,
armaduras e resistências,
do encontro primevo.

À medida, que as sessões fluíam
não via mais [diante de mim] a mulher
a me julgar [reserva interior]
e sim, uma mente lúcida
iluminada
a clarear regiões sombreadas 
em um navio acostumado com dias de Sol.

Ferida cicatrizada
luz onde havia sombra
nos (re)encontramos [longe do divã].
Recordo do jantar com sorriso peristáltico
estávamos elegantes, contudo informais.

Entre risos e teorias
uma porta, maliciosamente, se abriu
[neste exato momento]
pude ver traços humanos
na divindade.

Na porta, sutilmente, entreaberta
uma voz anunciava:
- assim como pacientes,
incitam
erotizam
fantasiam
sensualizam.

O que poucos não sabem
é que, a divindade
ao tratar o humano
pode se humanizar.

Pensamento se lança
a galope pelo mundo.
Olhares se cruzam,
silêncio gélido se instala.

A mão da terapeuta
desliza sobre a mesa 
e encontra a do paciente.
A cortina de fumaça se dissipa
e tudo se converte em luz.





  
  José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe, Pós Graduado pela Faculdade Pio X em História do Brasil, Graduando do curso de Administração de Empresas pela UNIT, ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela ANBIMA, blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].

Um comentário:

  1. Como sempre um artesão com as palavras. Faz-se necessário refletir muito sobre o que escreve, é uma leitura que instiga a decifrar. Em "O prazer do texto", Roland Barthes diz que "[...] no texto, de uma certa maneira, eu desejo o autor: tenho necessidade de sua figura (que não é nem sua representação nem sua projeção), tal como ele tem necessidade da minha [...]".(1987, p. 46)
    No seu caso, parece que há representação e projeção rsrs Como prometido, estarei sempre por aqui, obtendo uma leitura de fruição através de suas postagens. Parabéns mais uma vez!

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