Já ouviram falar em William Shakespeare? Não! Bom, sendo objetivo, é um dramaturgo inglês que viveu alguns séculos atrás e escreveu algumas obras literárias. Uma delas intitulada, Macbeth, é uma tragédia que feito arauto contém em suas páginas a anunciação do homem moderno e seus dilemas, dilemas esses bem conhecidos no presente, pois nos levam constantemente as encruzilhadas existenciais. Ser ou não, fazer ou não, desejar ou dizer não aos desejos, eis as questões que saltam das páginas de Macbeth.
Shakespeare reveste de modernidade a narrativa de caráter simbólico-imagético do livro de Gênesis. Em Macbeth, as bruxas, associação da deidade; a profecia, que Macbeth será rei, simbolicamente, "crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra" [Gênesis 1:28]"; no outro extremo "contudo, não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal" [Gênesis 2:17], essa era a consequência do plano arquitetado por Lady Macbeth, comparativamente, Eva a convencer Adão. E, por fim, a dúvida recheada de desejo, Macbeth caminha sem firmeza na ideia se deve ou não matar o rei, associativamente, se deve ou não "morder" a maçã.
Opa! Vamos devagar. Indaga o leitor, já as voltas, e que deve estar se perguntando: - e que tem toda essa narrativa que a ver com a lógica da modernidade? Respondo: - Tudo! Tudo meus amigos. Vejamos, doravante, sempre que mencionar Macbeth, entenda como se falasse sobre você, que por ora ler estas poucas linhas, quando mencionar o rei, entenda como seus propósitos e sempre que usar Lady Macbeth, entenderá as ideias contrarias que sempre nos acomete.
Opa! Vamos devagar. Indaga o leitor, já as voltas, e que deve estar se perguntando: - e que tem toda essa narrativa que a ver com a lógica da modernidade? Respondo: - Tudo! Tudo meus amigos. Vejamos, doravante, sempre que mencionar Macbeth, entenda como se falasse sobre você, que por ora ler estas poucas linhas, quando mencionar o rei, entenda como seus propósitos e sempre que usar Lady Macbeth, entenderá as ideias contrarias que sempre nos acomete.
Macbeth está em dúvida se ele vai matar o rei, porque ele quer ser rei, mas teme as consequências, todavia Lady Macbeth lhe diz: - você tem medo de ser na ação, aquilo que você é no desejo. A discussão faz emergir a seguinte reflexão, quando nós ousamos desejar, nós nos tornamos homens e para nós atingirmos o que nós desejamos, temos que ser mais homens, ou seja, sair do plano do desejo e sair desse plano nada mais é que agir, a ação é que nos torna mais homens, eis a premissa moderna. Aqui, cabe explorar melhor esse conceito, nós humanos nos constituímos a partir do desejo, ser humano, por essa premissa, significa correr atrás dos desejos; assumi-los, entendê-los e buscar realizá-los. Aqui reside a lógica moderna da subjetividade.
Quando o homem deseja, ele abandona o crescei e multiplicai-vos e marcha na direção do fruto do conhecimento, ele morde a maçã. E Macbeth mordeu a maçã, ele matou o rei e assumiu o lugar desejado, porém a ação gera consequências, assim como gerou para Adão/Eva, pois essas metáforas respondem pela lógica medieval, e qual seria, que só se é homem, quem é capaz de não desejar o que não deve. Por conseguinte, nesse preceito o que nos torna humano é a capacidade de dizer não ao desejo que nós temos e que é ilegítimo.
Essas duas lógicas estão muito presentes em nós até hoje, ou melhor, em Macbeth e Lady Macbeth. Afinal, ao matar o rei, Macbeth entra em estado de oscilação e a esposa assume o controle da situação, ela retira o punhal ensanguentado das mãos do esposo e o coloca em meios aos criados adormecidos pela bebedeira da noite passada, incriminando-os. Adão e Eva ao saciarem o desejo se veem expostos, vulneráveis, nus, "então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus"; [Genesis 3:7], os dois cobrem a nudez, mas com roupas frágeis, de modo semelhante, o espírito de Macbeth está inseguro, vacilante. Afinal, o que nos faz humanos, assumir o desejo ou negar o desejo?
A crise do matrimônio revela bem esse dilema. Uma parte da relação declara: - Você não pode me deixar! E as crianças? Isso é desumano! Ou seja, seguir o seu desejo, quando faz os outros sofrer te faz menos humano. Não obstante, podemos assumir o lugar de Lady Macbeth ou de Eva e argumentar o contrário, "e viu a mulher que aquela árvore era boa para comer e agradável aos olhos, e árvore desejável [humano] para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido [Macbeth] e ele comeu com ela [Gênesis 3:6], retomemos a discussão conjugal com um argumento contrário, qual seja, negar esse desejo também nos torna menos humanos, na medida em que, impomos um sofrimento a nós mesmos. Afinal, se a outra parte não for feliz, as crianças conseguirão ser?
As duas lógicas de pensamento se estabelecem onde reside o lugar do desejo. Vamos trazer outra mostra desse pensamento. Há uma noção presente na sociedade, que temos que ser uma democracia, pois esse é o melhor ou mais adequado sistema político. Será? Esse pensamento emana da vitória do sentimento, de que o ser humano é expressão do desejo, logo, ser cidadão é ser capaz de exercer seus desejos, exemplo, eu desejo votar em fulano e os outros partem do mesmo impulso. Daí, aquele indivíduo que não desejava o que não devia [pensamento medieval], passou a desejar e a sentir o gosto [fruto/conhecimento] do desejo.
Macbeth deve ter se perguntado: - é melhor viver esse dia, do que viver longos anos me perguntando como teria sido, se eu tivesse coragem de agir? O homem político moderno é o indivíduo que vai atrás de viver e realizar seus desejos, ele mata, rouba, mente, trapaceia... e a ausência de tudo isso traria uma ordem, porém ao olhos de hoje, uma ordem inútil. Dentro dessa lógica, Macbeth é melhor rei que Duncan, o rei assassinado. Oportunamente eu pergunto ao amigo leitor, você é do tipo que corre para realizar seus desejos ou é do tipo que diz não aos desejos?
Atenção! Atenção leitor, palmadas na face, não durma agora, já chegamos ao fim. Caso queram descobri que tipos predominam entre nós, abram os olhos [não os da visão, mas os dos desejos] e observem nossos candidatos nos debates, observem as relações que se estabelecem nos ambientes de trabalho, dentro dos diferentes lares, nos grupos de amigos...identifiquem quantos Macbeth, Lady Macbeth, Adão, Eva... estão em cena. Sim, um alerta, mergulhem em vocês e vejam o que vão encontrar, não precisam voltar para me contar sobre as descobertas, a mim, contenta-me saber que tenho me observado, estudado, compreendido e percebido como Shakespeare, faz tantos anos, sabia tanto sobre nós.
[José Ailton Santos]


