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| peixe tetra cego das cavernas |
Imaginar pode ser difícil,
mas já tive uma vida "normal"
alguns amigos, vizinhos, familiares
...pessoas com quem me importava.
Perdi tudo!
Querem saber como?
Há em algumas cavernas no México
e, no Poço Encantado/BA, no Brasil
uns peixes que colonizaram cavernas
de água doce.
Talvez, eles se perderam ou foram deixados
certo é, acabaram na mais completa escuridão.
Todavia, não morreram
[ao contrário]
eles lutaram
foram resilientes
se tornaram elásticos
adaptaram-se.
Perderam a pigmentação, a visão...
e, por fim, perderam até mesmo os olhos.
Para sobreviver, eles ficaram:
horríveis,
deformados,
irreconhecíveis.
Raramente, quase nunca, com pouquíssima frequência
penso sobre o que eu fui um dia.
Mas fico pensando...
se um raio de luz
entrasse na caverna,
eu seria capaz de vê-lo?
eu seria capaz de senti-lo?
eu seria capaz de ser atraído pelo calor?
Imaginem
[mesmo sendo difícil imaginar]
ainda que eu fizesse tudo isso:
ver
sentir
ser atraído,
isso me faria menos: horrível, deformado, irreconhecível?
Tornar-me-ia no que era antes?
Responda-me você?!
[...]
Eis o meu dilema, eis o preço da [sobre]vivência.
(José Ailton Santos)

Ótimo texto, caro Ailton👏👏👏
ResponderExcluirGrato pela atenção e estímulo.
ExcluirBela semântica, Ailton. Parabéns!
ResponderExcluirFala Thyago! Há sempre um esforço de usar a palavra como porta-voz dos nossos sentimentos. Grato pelo carinho.
ExcluirCertamente não voltaria a ser o que era antes. A luta pela sobrevivência, os desafios os transformarão num " ser" melhor. Viva um dia de cada vez, pois nada do que foi, será, do jeito que já foi um dia.
ResponderExcluirVerdade Cleide. Como diz Heráclito, tudo é fluidez, nenhum homem se banha duas vezes no mesmo rio.
ExcluirPerfeito!
ResponderExcluir👏👏👏👏👏
Obrigado Rita
ExcluirMeu caro amigo essas mudanças e adaptações nos fazem fortes ou nos sucumbe, mas, seja na agua ou na terra transformações irao acontecer, uma formula para nao penarmos acho que nao temos, mas temos a fé, esperança e persistência para que msm deformados permanecemos bonitos de alma e sentimentos.
ResponderExcluirObrigado pelas palavras de incentivo.
ExcluirFantástico! Parabéns!
ResponderExcluirComo seriamos se conseguíssemos alcançar a felicidade do peixe cego? Já consigo ver o resgate lúcido da pedagogia dos Libertinos Barrocos ditando a pedagogia dos impulsos e desejos, elevando o corpo ao local de destaque que merece, abolindo o medo, a culpa e a insegurança nos permitindo sermos livres. A beleza do peixe está na cegueira que o faz enxergar.
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