Ah! A vida!
O que ela é mesmo?
- é um milharal.
a terra é a mãe
e como mãe cede o ventre [a cova]
onde é posto o embrião
[regra da natureza: nascimento e morte convergem para único lugar]
na cova [matrix] ocorre a germinação.
Depois de um dado processo - misterioso - ele vem ao mundo.
A planta nasce pequena e frágil
e, por essa razão, necessita de cuidados
do contrário, morre antes mesmo de se desenvolver,
de experienciar.
É preciso água na intensidade e medida certa
é preciso de Sol na justa medida.
Cumprido o primeiro estágio;
ele se desenvolve.
Vai crescendo,
crescendo...
ganha altura e altivez
até atingir a idade adulta.
Forte e desenvolvido,
ao Sol, és dono de beleza e coloração prateada
chegou ao ápice da beleza, da vaidade, do poder...
Não tarda muito até que lhe surgem as coroas,
eis chegado a metade do percurso,
já não brilha mais prateado como d'antes.
Por fim,
passado um tempo
independe, se haja chuva ou não
Independe, de Sol forte ou não
ele atinge o último estágio
[Eclesiastes: morre o sábio e o tolo, morre o rico e o pobre]
adquire um semblante reflexivo,
adquire coloração amarelo tosco em toda extensão,
[assemelha-se aos fios brancos da senilidade humana]
as folhas d'antes vívidas e dançantes
agora, estão secas e sem mobilidade,
os grãos: herdeiros legítimos
estão secos
a raiz: ressequida.
Toda estrutura jaz sequidade,
eis a morte anunciada.
Os herdeiros colhidos
são sinônimos do ciclo que se completa e se reinicia.
Espera-se o novo inverno,
espera-se as chuvas
espera-se o solo encharcado
espera-se o ventre se abrir
espera-se o novo germinar
"moinho em movimento".
Eis meus amigos!
O ciclo do milharal ou seria da vida?
José Ailton Santos