quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

QUEM SABE CALA



 A covardia não me define,

o meu silêncio sim.


A linguagem silenciosa

é minha arma de defesa

contra as grades da ignorância, 

contra as narrativas perfumadas,

legalizadas e instituídas.


A luz, igual outrora,  nunca se fez tão desnecessária.


Lembra-se do Mito da Caverna?¹

O portador da luz é extirpado

do jardim das sombras.


Doravante, os ventos fortes 

agridem qualquer tênue chama.

A vela que se acende

diante da grande escuridão,

se mostra tão claramente

que inevitavelmente será:

localizada, identificada e eliminada.


Enquanto navego os mares revolto

ponho-me a dar flores, 

conforme o gosto do freguês.


Vou repetindo discursos

como se meus fossem 

e vou guardando os meus

para regar minhas sementes.


Os mestres, De Agora,

recomendam não entrar na água,

até que se aprenda a nadar.

Ora, sábio para se tornar sábio,

quantas vezes se afogou?


Enquanto alguns dos meus agacham esfomeados

para apanhar migalhas,

firmo-me de pé mirando as estrelas,

pois não se monta em um homem 

que não se estar curvado.


Ao permanecer em silêncio,

ao me manter no escuro,

finjo-me de morto

e

feito vela apagada

não me perco

nem perco minha essência.


Aguardo, em silêncio,

o tempo oportuno

[calmo, o mar e os ventos]

de voltar a ser luz 

de me fazer acender 

de transmutar minha covardia em heroísmo

de novo, novamente, outra vez e mais outra e outra... em movimento ad aeternum.²


Fracos e frágeis... que somos,

por certo, não seremos julgados 

[por Aquele³ que habita na esfera da perfeição]

por nosso silêncio e sim

por nossas íntimas intenções

pelo que guardamos em nosso coração.


Certo estou que não alcançarei meu máximo

hoje, amanhã, quiçá jamais numa dúzia de vidas.

Todavia, cônscio que tentei, errei, desejei...

ainda que em silêncio.




¹ Mito da Caverna - é uma metáfora contida no livro, A República, do filósofo grego Platão, que narra uma tentativa de explicar a condição de ignorância em que vivem os seres humanos, devido o aprisionamento pelos sentidos, bem como pelos preconceitos que os impedem de acessar o conhecimento e a verdade.

² Ad aeternum - expressão latina que significa, eternamente, para sempre.

³ Aquele - No texto é empregado como um ente sobrenatural infinito e que existe por si só, simboliza a perfeição da justiça.



José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe [UFS], Pós-graduado pela faculdade Pio X em História do Brasil, bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Tiradentes [UNIT], ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais [ANBIMA], blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].