Por que desejo fazer o inconvencional?
Pego-me pensando:
será o desejo impróprio ou a convenção?
Afinal, ainda que não o faça
continuo com alma desejosa.
Devo arrancar os olhos ou o coração?
A quem devo ser fiel,
ao desejo ou a proibição deste?
O que faço é a lei de Deus,
já o que não faço
é a lei dos homens.
Reflito:
se desejo é porque não faço
e se não faço é quase um fazer
melhor seria sentar e comer
a ficar espalitando os dentes
enquanto tenho fome.
Se vou lá e faço, extirpo o desejo
e se atendo o desejo é porque sou fiel,
quem não é fiel a si, jamais será aos outros.
Fidelidade é intimista e não extremista.
Não desejar é a lei,
mas não o foi desde o princípio.
Isso foi com Moisés,
depois com Alfredo,
João, Pedro, Manoel,
Francisco...
e agora comigo.
Só é imutável,
aquilo que provém
de Deus/Natureza/Cosmo.
Tudo que é obra dos homens
estará na lente da mudança.
A essência humana
é a mesma, independente,
tempo/lugar/progresso da inteligência.
Daí, fazer o não-fazer
quando devia ou não
ainda que deseje e não.
E se diante de tantos "nãos"
o meu querer encontra o seu
[ainda que por um instante]
e esquecêssemos o "não devia"
tenha como certo, ainda assim,
o Sol nascerá.
Lá estou eu,
sentando no banco dos réus
[perdido em meus pensamentos]
aguardando a sentença.
O tempo, juiz da audiência,
deixa todos apreensivos,
enquanto faz a peroração.
E arremata:
na natureza, nada é inalterável!
Salvo duas coisas,
o querer humano e aquilo que o alimenta.
José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe, Pós Graduado em História do Brasil pela Faculdade Pio X, Graduando do curso de Administração de Empresas pela Universidade Tiradentes, ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela ANBIMA, blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].
