Dói não me ver onde antes me via.
Nos olhos diante de mim
não havia silêncios como hoje,
só risos, conversas, divergências [um cigarro aceso e a fumaça a bailar]
Conviver com o silêncio
tragar o cigarro sozinho
eis a maior dificuldade.
Ausência do reflexo nos olhos alheios.
a presença d'antes,
física,
agora,
simbólica [vazio e dor]
o outro não é mais lugar comum
é oásis, paisagem imaginária
o lugar à mesa está vazio
não ouço mais o tilintar da taça a brindar.
O estalar da cerveja aberta
o barulho do copo que se enche
o olhar lento e o semblante calmo
o copo que se ergue ao encontro da boca.
a sacada do bar
onde o braço repousava
é membro amputado
o calor deu lugar ao frio
- Deves superar!
- Tem que seguir viagem!
- Dói, mas vai superar!
Grito - internamente - bobagem!
- Conte comigo!
- Estou aqui!
- Não está só!
Sinto-me acolhido no silêncio que se faz presente.
[Re]significo
Sófocles, Ésquilo, Eurípides*...
já narraram minha dor.
Trata-se de lei inexorável da natureza.
Da água lodosa
brota a flor de lótus
construo templos
e ponho nele meus deuses.
Eis o canto lírico do luto
[combinação métrica e musical de grande rigor]
Me arremesso nas profundezas
da tristeza.
* nomes dos maiores autores das tragédias gregas fundamentais para nossa civilização.
José Ailton Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe, Pós Graduado pela Faculdade Pio X em História do Brasil, Graduando do curso de Administração de Empresas pela UNIT, ex-professor efetivo da rede estadual de ensino do estado de Sergipe, funcionário efetivo do Banco do Estado de Sergipe com certificação pela ANBIMA, blogueiro, poeta de ocasião e portador da SPNDLR [Síndrome Patológica de Necessidade Diária de Leitura e Reflexão].
