Quisera fosse um confeiteiro,
ainda que por curto tempo.
Quisera a vida fosse um bolo?!
Ah! Quantas possibilidades!
Esteja certo, meu amigo,
não iria perder tempo
em descobrir a receita correta
ou em fazer o bolo perfeito.
Apenas:
sujaria
ousaria
misturaria...
e comeria
[bastante].
antes de fazer,
enquanto faço
e depois de pronto.
Provaria um pedaço,
outro,
mais outro,
outro mais
e novamente outro...
quiçá comeria o bolo inteiro,
sem a culpa tradicional
de reservar um pedaço
para o próximo.
Isso mesmo!
Me deliciaria!
Sentiria o sabor:
entre os lábios
e a ponta da língua,
sem, sequer,
preocupar-me,
em lavar as mãos entre uma tarefa e outra.
Tão pouco me preocuparia com:
coloração,
tamanho,
formato...
Ainda sobre o ofício de confeiteiro
ou sobre o bolo
ou, quem sabe,
sobre a vida.
Digo-te:
- na minha cozinha, não há receitas,
apenas ingredientes
à espera de imaginação
e mãos hábeis.
[José Ailton Santos]
