Meus poemas não são feitos em soneto.
Logo, não possuem quartetos nem tercetos
sequer os considero poemas.
Eles são:
minha voz
minha causa
minhas crenças.
Não são feitos de versos
decassílabos nem alexandrinos.
Não possuem rimas
ricas nem pobres
inimaginável, raras ou preciosas.
Desconhecem as combinações
AABB, ABAB e et cetera.
Não buscam a sonoridade
tão pouco a métrica
quiçá, a melodia.
Não possuem aliterações, sinestesias...
não possuem feição nem forma
não conhecem números ou percentagens
não são concretos nem abstratos
nem surreais.
E recusam todo tom de romantismo.
Não servem para seduzir
nem para despertar paixões
nem tão pouco, deixam o outro enamorado.
Meus poemas falam de mim.
Se constituem das minhas lágrimas
se estruturam na minha revolta
[não da vida, não dos homens, não do mundo,
mas da vida dos homens no mundo]
se alimentam de um dos meus sete pecados, minha ira
e se embelezam da minha fúria interior.
Não sou poeta,
não me vejo nem sinto assim.
Sou um olho que vê
sou um corpo que sente
[fome, frio, violência, desprezo, injustiça...]
e uma mente que rejeita grilhões.
[José Ailton Santos]
