Cá estou eu...
dialogando com meus pensamentos.
Se reúno fortunas, como saber
se o amor que recebo és digno
de mim?
E se vivo a mais vil das pobrezas
como, sendo amado, possuir tal amor?
Como saber se a língua
que penetra minha boca
durante o beijo,
busca aprofundar o prazer
ou, tão somente, [igual mãos ambiciosas
que penetra na lama em busca de jóias raras]
visa atingir um intento?
Oh, Ofélia!
Não me satisfaz a ideia de estar em seus doces braços
e me sentir em um alçapão de apanhar
aves sedentas e famintas
que possuídas por um instinto volitivo
ignora a prudência.
Doravante, desejo com veemência
não ser como a totalidade dos homens
que, seja por natureza ou predestinação,
não resistem e fácil e previsivelmente
cedem à paixão.
Ofélia, Ofélia, Ofélia...
Não te amar já não posso!
E temo por mim,
pois teus olhos
[frios como uma noite de inverno siberiano]
não queimam, em chamas, quão os meus.
Toma em teus braços
mais um pouco da minha intimidade.
Todavia, meus sentimentos dar-te-ei
com todo zelo presente em mim
- um pouco por vez -
até inundar os vazios e planícies
do teu coração.
Afinal, não a quero bêbedo de amor
e sim, cheio da sobriedade de quem se ama antes de amar
mesmo porque, não me equilibro mais nas certezas;
sensíveis e fidedignas
alicerçada por meu coração.
[José Ailton Santos]
